Veto à carne é recado diplomático da China ao Brasil, diz especialista
Para Alexandre Mendonça de Barros, economista da MBagro, conversas avançam para retomada das exportações após recado ter sido "entendido" no Brasil
O Brasil está há seis semanas sem exportar carne para a China, seu principal comprador. Em 4 de setembro, o país interrompeu voluntariamente a exportação do produto após a confirmação de casos do “mal da vaca louca” em dois frigoríficos do país.
No entanto, mesmo com o controle dos casos no Brasil, a interrupção das compras da carne brasileira por parte da China foi mantida.
O motivo para tal, segundo o economista da MBagro, Alexandre Mendonça de Barros, é que o veto serviu como um “recado que foi dado por uma série de movimentos que assistimos nos últimos anos” nas relações diplomáticas entre os dois países.
Em entrevista à CNN neste sábado (23), Alexandre Mendonça afirmou que as conversas avançaram e uma reversão deste processo deve acontecer nos próximos dias.
“Existe um alinhamento de interesses para a abertura e me parece que o recado foi entendido”, disse. “A carne bovina está sendo o recado passado em linguagem diplomática”, afirmou, classificando movimentos de ataque à China feitos pelo ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, como “lamentáveis”.
Para Mendonça, também houve um pensamento crescente no Brasil de que “a China precisa do alimento brasileiro” que “deixou marcas no relacionamento”. O especialista afirma que a tendência, no entanto, é que a potência asiática busque cada vez mais alternativas no mercado externo, que tem se modernizado.
“O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo. A China depende dessa soja, mas há uma imagem no Brasil de que a China vai sempre depender da soja brasileira. O relacionamento chinês crescente com a Argentina mostra uma procura pela diversificação das dependências das exportações brasileiras”, analisou.
Impactos
Segundo Alexandre Mendonça, o comum-acordo de interromper a exportação após a identificação do mal da vaca louca no Brasil e os outros protocolos sanitários foram seguidos de forma “impecável” pelo Brasil. “Não vimos razão sanitária para uma demora dessa magnitude”, afirmou.
“Se esperava que [as exportações] voltariam no prazo de 2 semanas, e é muito preocupante”, afirmou. “Este ano, há um custo elevadíssimo de ração que gera sucessivos prejuízos para os produtores. Isso interrompe o ciclo de abate e gera desequilíbrio de ofertas no mercado interno. É muito impactante ter um cliente tão grande interrompendo as importações por tanto tempo”, disse.