Avaliação de empresas: 3 dicas para saber se uma ação está cara ou barata
A partir de dados públicos disponibilizados pelas próprias companhias, é possível criar bases de comparação e gerar mais elementos antes de tomar decisões
Em momentos de crise econômica, como o que vivemos atualmente pela pandemia do novo coronavírus, fica ainda mais difícil que o normal para os investidores de pessoa física, que por regra têm menos informações sobre o mercado do que as instituições financeiras, interpretar os movimentos das ações e decidir como alocar seus recursos na bolsa de valores.
“Quando existem níveis maiores de incerteza, os preços ficam mais voláteis. A pandemia mexeu com receitas, produtividade e até colocou em questão a permanência das empresas no mercado”, afirma Igor Cavaca, analista de renda variável da Warren. “Ao mesmo tempo, com a queda da taxa de juros, vemos uma migração grande da renda fixa para a variável, o que pode inflar os preços das ações.”
Para prever estes movimentos, o mercado financeiro dispõe de várias ferramentas para avaliar empresas listadas em bolsa. A partir delas, é possível fazer um estudo aprofundado sobre a saúde financeira de cada companhia, compará-la com outras do mesmo setor, e, finalmente, decidir o que fazer com esses papéis: comprar, vender ou nenhum dos dois. A esse processo, se dá o nome de valuation, em inglês, ou avaliação de empresas.
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Henrique Esteter, analista da Guide, explica como o processo funciona. “Os bancos produzem relatórios sobre as empresas para os seus clientes, normalmente os grandes fundos”, diz. “Por meio destas indicações, respaldadas em informações de diversas fontes, os investidores começam a agir no mercado”, diz. Ele dá o exemplo na construtora Even, que chegou a crescer 13% no pregão de segunda-feira (22) depois da JP Morgan elevar sua recomendação para compra.
Mas e o investidor comum, que não possui acesso a estes relatórios? Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, pondera que este grupo precisa, antes de mais nada, se respaldar nas indicações dos especialistas, como analistas, planejadores e agentes autônomos, para tomar decisões acertadas. Apesar disso, acredita que, com as ferramentas certas, o investidor consiga “começar a criar autonomia”.
Para isso, é preciso buscar então alguns dos conceitos do valuation, principalmente a avaliação por múltiplos. A partir de dados públicos disponibilizados pelas próprias companhias, é possível criar bases de comparação entre empresas do mesmo setor e gerar mais elementos de reflexão antes do processo decisório. Confira abaixo alguns destes cálculos:
(Estas informações constam dos resultados das empresas divulgados em seus sites de relação com os investidores. Todas empresas listadas em bolsa são obrigadas a manter este espaço atualizado. Para encontrar esse site, é só pesquisar RI mais o nome da empresa; o da B3, por exemplo, é ri.b3.com.br. Ao acessar o site da empresa desejada é só procurar por informações financeiras e entrar no trimestre desejado.)
Avaliação por múltiplos
P/L – Preço da ação dividido pelo lucro por ação
O P/L é utilizado para estimar quanto o mercado está disposto a pagar pelos lucros de uma empresa. Ou seja, quanto maior o resultado do P/L, mais você está pagando para obter rendimentos. Caso o resultado de certa empresa tenha um valor muito acima de outra do mesmo setor, é possível fazer duas leituras: “ou a ação está cara, ou o mercado tem expectativas altas em relação a estes papéis”, afirma Esteter.
Exemplo disso são as empresas de tecnologia. Por vezes têm este valor elevado, mas possuem uma expectativa embutida nos seus preços. “Em 2010, ninguém imaginava que a Magalu, além das lojas, teria um e-commerce forte e um marketplace para outras empresas venderem produtos no seu site. Com isso, as projeções vão se alterando e os cálculos ficam defasados”, completa.
Exemplo: Com base em dados da Economática colhidos no dia 17 de junho, o P/L da Klabin é -8,98 e o da Suzano é -3,50. Os dois resultados são ruins pois apontam prejuízo nos últimos 12 meses (entre março de 2019 e março de 2020).
P/VBA – Preço da ação dividido pelo valor patrimonial da ação (patrimônio líquido dividido pelo número de ações)
O P/VPA estabelece relação entre o preço da ação e o valor patrimonial proporcional da empresa. O que quer dizer, na prática, que estabelece o quanto os investidores estão pagando pelo patrimônio líquido da companhia. Para que, em teoria, uma ação esteja sendo negociada em linha com o seu valor patrimonial, o resultado do cálculo deve ser 1 ou algum valor próximo disso.
“Quando este valor está muito abaixo de 1, pode representar uma subvalorização daquele papel”, explica Carvalho, da Toro. A corretora disponibiliza no seu site, inclusive, um filtro com empresas que têm suas ações negociadas por valores inferiores ao patrimonial –o que pode ser uma oportunidade de investimento. “O contrário aqui também é válido. Se este número for muito superior a 1, pode demonstrar uma sobrevalorização”, diz.
Exemplo: Com base em dados da Economática colhidos no dia 17 de junho, o P/VBA da Azul é -0,80 e o da Gol -0,87, o que pode representar que estão sendo negociadas por um preço menor do que deveriam. Via Varejo, com 30,69, e Magalu, com 14,45, mostram o outro lado do espectro. É preciso, claro, pesar a conjuntura econômica e o setor em que as empresas operam.
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EV/EBITDA – Valor da firma (valor de mercado + valor das dívidas – caixa) dividido pela geração de caixa da companhia
O EV é dado pelo valor de mercado da empresa acrescido do valor das dívidas menos o caixa. Já o Ebitda, representa o lucro desta mesma companhia antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. Quando divididos, indicam quanto tempo levaria para que o lucro operacional de uma empresa fosse suficiente para pagar o investimento feito para comprá-la.
“A linha de raciocínio é parecida com a do P/L. Quanto menor o resultado, maior a chance daquela empresa estar sendo subvalorizada”, explica Cavaca, da Warren. Com isso, é possível comparar empresas de setores e até países diferentes. A modalidade também é muito utilizada em negócios de fusões e aquisições. Mas é preciso ter cuidado, porque o indicador ignora fatores importantes como tributos e juros.
Exemplo: Com base em dados da Economática colhidos no dia 17 de junho, o EV/Ebitda da Tim é 3,70 e o da Vivo 5,02.
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