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    Uber, Spotify, Tesla: empresas que o público adora, mas vêm acumulando prejuízos

    A empresa de Elon Musk ficou US$ 862 milhões no vermelho em 2019, e já havia perdido US$ 977 milhões em 2018, US$ 1,9 bilhões em 2017 e US$ 675 milhões em 2016

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Os preços de ações praticados pelo mercado financeiro se movem conforme as expectativas dos investidores em relação ao futuro das empresas. E, o que sempre foi regra, hoje em dia é potencializado pela tecnologia, já que startups crescem apostando em produtos que a população nem sabia que precisava, mas se torna rapidamente dependente do seu uso.

    “Há vários fatores podem ajudar a explicar isso, e o primeiro deles tem a ver com o aumento de pessoas físicas, principalmente jovens, investindo na bolsa”, diz William Alves, estrategista-chefe da Avenue, corretora brasileira que atua no mercado americano e autor do levantamento abaixo. “Este investidor com certeza não conhece uma siderúrgica, mas tem contato com aplicativos e redes sociais diariamente e quer investir neles.”

    Talvez o grande símbolo deste movimento seja a Uber, companhia que deu novos contornos à mobilidade urbana e provocou mudanças em diversos setores da economia. Mas há ainda outros exemplos. A Tesla, empresa focada na produção de carros elétricos, ultrapassou todas as rivais do setor automobilístico e se tornou a companhia com maior valor de mercado da categoria; o Spotify nos fez aposentar os torrents; a Virgin Galactic quer te levar para o espaço, e por aí vai…

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    O problema é que não só de expectativa vive o homem (principalmente o homem investidor). Muitas dessas empresas, apesar de continuarem se valorizando com força na bolsa de valores, também são parecidas em outra categoria, essa definitivamente menos nobre: apresentam vários anos consecutivos de prejuízos em seus balanços financeiros divulgados ao mercado.

    A Uber, por exemplo, apresentou US$ 8,5 bilhões de prejuízo em 2019. O Snapchat, rede social que, apesar de ainda forte nos EUA, perdeu espaço para o Instagram, ficou US$ 1 bilhão no negativo. Não muito atrás, a Tesla ficou US$ 862 milhões no vermelho no último ano (já havia perdido US$ 977 milhões em 2018, US$ 1,9 bilhões em 2017 e US$ 675 milhões em 2016). 

    “Muito disso está ligado ao ciclo de vida das empresas. É natural para marcas que estão começando sua história dar prejuízo nos primeiros anos porque precisam realizar investimentos para se consolidar”, diz Igor Cavaca, analista de investimentos da Warren. “Quando atingem um nível de maturidade, dá para esperar mais previsibilidade nos seus gastos.”

    Mas quanto vale essa expectativa? Para o mercado, muito. O índice Nasdaq, que reúne as empresas de tecnologia na bolsa de Nova York, tem apresentado valorização superior aos índices mais tradicionais, como o Dow Jones e o S&P 500. Isso é o reflexo da forte valorização de algumas empresas listadas por lá.

    As ações da Tesla, por exemplo cresceram 229% de janeiro até esta terça-feira (7). No mesmo período, a Nikola, marca de caminhões elétricos que quer fazer frente a Elon Musk, subiu 299%. Os papéis de Spotify e Snapchat também voaram: 76% e 56%, respectivamente, de valorização. Virgin Galactic saltou 42% e até a Uber, diretamente afetada pela pandemia do novo coronavírus, está 11% positiva.

    Para Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos, a palavra de ordem é disrupção (no sentido positivo, quando algo muda nossa maneira de agir). “Muitas dessas empresas ainda estão crescendo, então seguem investindo para ampliar seu market share”, diz. “Se houver disrupção de mercado nos produtos ofertados, os investidores vão ter mais paciência e esperarão essas empresas amadurecerem.”

    O gestor cita o exemplo da Amazon para defender esta maturação. A empresa teve sucessivos anos de prejuízo no início dos anos 2000, e o setor de entregas continua operando muitas vezes no vermelho, mas rompeu a barreira da rentabilidade positiva e hoje é uma das ações mais caras de Wall Street, vendida a US$ 3.016 por unidade.

    Fabio Plein, diretor-executivo do Uber Eats no Brasil, também se apoia no longo prazo para explicar os resultados da empresa. “A Uber como um todo ainda não é rentável, mas estamos muito focados na execução e no valor que a gente pode criar a longo prazo. Estamos apostando na construção desse futuro com uma série de linhas de investimento. A ideia é ser um aplicativo que traz conveniência para o dia a dia das pessoas”, diz.

    Em linha com esse raciocínio, a empresa anunciou na segunda-feira (6) a compra da Postmates, startup americana de delivery, em um acordo de US$ 2,65 bilhões. A ideia é expandir seu alcance no setor de serviços de entregas de comida, conforme mais pessoas fazem pedidos de suas casas em meio à pandemia de coronavírus. A companhia já conta com outro player do segmento, o Uber Eats, e um braço de entrega de mercadorias, o Uber Flash.

    Mas e se for bolha? E se a Tesla nunca crescer?

    Alves, da Avenue, cita o exemplo da Bolha da Internet (dot com bubble), que ocorreu na Nasdaq entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000, para pregar cautela aos investidores. Empresas ligadas à internet, algo raro na altura, começaram a se destacar fortemente em Wall Street pela novidade do serviço e por incentivos que recebiam do governo. 

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    O Nasdaq Composite chegou a subir 400% no período e empresas como a Qualcomm se valorizaram mais de 2000% em um ano. Com isso, diversas companhias de tecnologia e “.com” no nome começaram a realizar IPOs e a captar dinheiro. No fim das contas, boa parte destes recursos não se transformou em nada relevante e, sem resultados, as empresas começaram a perder fôlego até a bolha estourar.

    Cantreva vê um mercado mais bem preparado hoje em dia, corrigindo preços sempre que necessário. Outras, por sua vez, despontaram e mostraram que mesmo depois de prejuízos, é possível criar negócios rentáveis. É o caso de companhias como Apple, Google e Facebook.

    “Obviamente existem empresas que param no caminho, são compradas ou até saem do mercado. Mas, em geral, os investidores entendem que em algum momento as companhias terão que apresentar resultados.” 

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