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    ‘Teremos uma crise com impacto social profundo’, diz Marcelo Neri sobre o PIB

    Consumo das famílias e setor de serviços, área que mais gera emprego e renda no pais, caíram no primeiro trimestre

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 1,5% no primeiro trimestre de 2020, segundo dados do IBGE. A explicação mais fácil aponta a pandemia do novo coronavírus, e o consequente distanciamento social imposto pelos governos, como grandes culpados pela retração econômica. O problema é que, nos dados divulgados nesta sexta-feira (29), só constam 15 dias de efeito da pandemia.

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, o economista e diretor do FGV Social, Marcelo Neri, afirmou que o resultado indica que o tombo, portanto, ainda não chegou. “Considero que a queda foi acima do esperado, porque só capta 15 dias de isolamento. As projeções eram na linha de 1,2%. Mas isso é só o começo da retração”, diz. “O resultado do segundo trimestre, no entanto, vai incorporar a pandemia por inteiro, sem recortes. Aqui já dá para esperar um tombo mais forte, em torno de 6% do PIB.”

    Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2012 a 2014 e ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República entre 2013 e 2015, Neri também entende que esta crise terá forte impacto social. “Analisando os dados, vemos que a crise terá impacto social forte. Atingiu muito o setor de serviços, que é o que gera mais emprego e renda. Também afetou o consumo das famílias”, explica.

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    E, além do efeito imediato, o economista teme uma queda prolongada dos indicadores de igualdade no país. “As nossas projeções já apontavam que voltaríamos, em 2030, para o nível de desigualdade de 2014. Isso se a economia estivesse crescendo. Agora estamos numa situação de retração da economia e aumento da desigualdade. É uma década perdida e podemos ter fortes retrocessos”, alerta.

    Confira, a seguir, a entrevista completa:

    CNN Brasil Business: Como avalia o resultado do PIB no primeiro trimestre?

    Marcelo Neri: Considero que a queda foi acima do esperado, porque só capta 15 dias de isolamento. As projeções eram na linha de 1,2%. Mas isso é só o começo da retração. Só para março, excluindo os meses em que a situação ainda estava normal, tem números que apontam queda de 5,3%. E, analisando os dados, vemos que a crise terá impacto social forte. Atingiu muito o setor de serviços, que é o que gera mais emprego e renda. Também afetou o consumo das famílias. Além disso, tivemos resultados fracos nas exportações, por conta da diminuição do consumo na China.

    Estes números devem ser piores no segundo trimestre?

    O resultado do segundo trimestre, no entanto, vai incorporar a pandemia por inteiro, sem recortes. Aqui já dá para esperar um tombo mais forte, em torno de 6% do PIB. As projeções do Boletim Focus, divulgadas semanalmente, são cada vez mais negativas. Se olharmos outros setores, vemos quedas preocupantes. A abertura de empresas caiu 72%, o resultado do Caged, que apontou fechamento de 860 mil vagas somente em abril, foi oito vezes pior do que o segundo pior resultado já registrado. Não sabemos qual será a duração dessa crise, mas a entrada súbita é o mais impressionante. 

    No Brasil já se fala em reabertura da economia, mesmo sem a estabilização da crise de saúde em todas as regiões. Isso pode prolongar a crise econômica?

    Com certeza. Há dados (a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) fizeram um estudo sobre o tema) que comprovam que países que cuidam melhor da saúde têm efeito igual sobre a economia no curto prazo e melhor no longo prazo. Aqui, num país com dimensões continentais, precisamos olhar para cada região e analisar os índices de contágio. As tentativas de pegar atalhos num momento como esse podem ser muito custosas. Não podemos esquecer que a principal força motriz dessa crise é a questão da saúde.

    Indicadores têm mostrado, como o senhor citou, um impacto social forte nesta crise. Veremos aumento na desigualdade?

    Temos dados do primeiro trimestre de 2020 que apontam que a desigualdade já voltou a aumentar. Então, não é só crise de crescimento. Pode virar crise de pobreza e desigualdade, principalmente quando acabarem as parcelas do auxílio emergencial. As nossas projeções já apontavam que voltaríamos, em 2030, para o nível de desigualdade de 2014. Isso se a economia estivesse crescendo. Agora estamos numa situação de retração da economia e aumento da desigualdade. É uma década perdida e podemos ter fortes retrocessos, isso sem contar com o impacto na saúde.

    Pensando nessas projeções mais pessimistas, não seria momento do governo rever o formato e o prazo do auxílio emergencial?

    Eu considero que vamos precisar pensar nisso sim. O problema é que também estamos numa situação fiscal complexa, por consequência da queda de receita. Mas não existe saída fácil depois de uma crise social tão profunda. Outros países tinham situação mais equilibrada. O Brasil acabou de sair de um buraco e vinha de crescimento frágil, o que nos impede de ser mais assertivos nas medidas.

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