Tchau, Troller: relembre a história da marca brasileira de jipes
Empresa era especializada em veículos off-road e cativou uma legião de fãs ao longo dos anos
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Em janeiro, a Ford anunciou o fim das atividades de manufatura no Brasil e uma história centenária em nosso mercado. No entanto, a montadora afirmou que a marca nacional Troller, adquirida em 2007, continuaria fabricando até o final do ano, enquanto tentaria passar a empresa com sede em Horizonte (CE) para frente.
Após muitas negociações e algumas propostas prestes a serem aprovadas, a Ford surpreendeu e declarou que venderia apenas os ativos da fábrica cearense. Com isso, decretou a morte de uma das poucas montadoras de origem brasileira, pois os direitos sobre o nome Troller e seus produtos permanecerão sob o guarda-chuva dos norte-americanos.
Os empresários que tentavam manter a produção da Troller foram pegos de surpresa, assim como o governo do Ceará, que não gostou da atitude da Ford nem da perda dos 470 postos de trabalhos gerados diretamente pela linha de montagem instalada no estado. Além de não vender a marca, a Ford antecipou para setembro o fim da produção do T4, único veículo oferecido pela Troller.
A história da Troller
A Troller foi fundada no Ceará em 1995 por Rogério Farias, mas o negócio foi logo vendido em 1997 para o empresário Mário Araripe, que veio dos setores têxtil e de construção civil. O produto mais conhecido da marca, o jipe T4, foi apresentado em 1999 e utilizou motores a gasolina de origem Volkswagen até 2001.
Assim, o modelo tinha uma receita de sucesso para os praticantes de off-road. Sua carroceria era de fibra de vidro, mais leve, mas o chassi era por longarinas de aço, mais resistente.
A partir de 2001, o motor passou a ser um 2.8 turbodiesel fornecido pela MWM, e o T4 já contava com câmbio manual, tração nas quatro rodas e caixa de redução.
Já em 2005, a Troller mexeu de novo no T4, trocando o motor 2.8 por um 3.0 turbodiesel ainda de origem MWM. Mas ainda manteve os atributos que fizeram seu sucesso e a característica carroceria de duas portas com linhas retas.
De olho em ampliar o seu mercado, a Troller apresentou em 2006 a picape Pantanal, usando os mesmos componentes mecânicos do T4, mas com um chassi alongado, cabine simples e uma grande caçamba.
Ford compra marca em 2007
Logo no início de 2007, a Ford anunciou a compra da Troller. A aquisição foi envolta em controvérsias, pois a marca norte-americana não tinha um motivo claro para ação. A empresa norte-americana era mais que capaz de fazer um veículo para o segmento 4×4 sem a Troller. Críticos da compra afirmam que a empresa estava interessada mesmo nos incentivos fiscais obtidos pela fábrica cearense.
Pouco tempo depois da aquisição da Troller, a engenharia da Ford detectou um problema crônico nas picapes Pantanal. Como o chassi fora alongado, havia um risco de as longarinas trincassem. A empresa então chamou as 77 unidades vendidas até aquele momento para um recall, mas acabou recomprando todos os carros de seus donos.
Já sob a direção da Ford, o Troller T4 começou a receber os primeiros ajustes visuais e internos já em 2009, quando foi aplicada uma atualização visual na dianteira e a cabine passou a contar com mais componentes de carros da Ford, como o EcoSport daquela época.
Em 2012 veio a última renovação visual do Troller T4 original, seguida no ano seguinte pela adoção de um novo motor 3.2 turbodiesel de origem Internacional. A primeira geração do jipe resistiu de 1999 a 2014, quando foi apresentada a primeira grande mudança para o modelo.
A segunda geração do Troller foi feita basicamente sem compartilhar nenhum componente com o modelo antigo. No entanto, herdou diversos itens da Ford Ranger daquele ano. Peças como eixos, suspensão, câmbio e o motor 3.2 turbodiesel de cinco cilindros em linha vieram diretamente da picape.
Além disso, o carro ganhou mais tecnologia embarcada e cresceu em todas as dimensões, além de ter ganhado um visual mais moderno. Porém, não era imune a anacronismos. Em 2021, é um dos últimos carros de passeio que não trazem airbags de série. O item é obrigatório desde 2014 e o Troller T4 era isento por uma brecha na legislação. A última mudança do modelo veio no início do ano passado, quando o jipe finalmente ganhou câmbio automático e o nome TX4.
Deixará saudades para praticantes do off-road
Com altos e baixos, anacrônica ou não, fato é que a Troller irá deixar saudades principalmente entre os praticantes do off-road, que exploram bem as capacidades do T4 nas trilhas.
De 1996, quando se tem os primeiros registros de vendas dos jipes da empresa, até o mês de julho de 2021, mais de 26 mil veículos produzidos em Horizonte, no Ceará, chegaram às ruas. E agora o Brasil perde mais uma marca nacional.