Surf Telecom aposta em chips para motoristas da Uber para pavimentar rota do IPO
Para conquistar os motoristas, a Uber e a Surf oferecem planos trimestrais, que começam com R$ 20 por mês
Agora, até a Uber tem um chip de celular para chamar de seu. A startup mais importante do setor de transportes no mundo (e também no Brasil) lançou há um mês um serviço de telefonia pré-pago para os seus motoristas. A ideia é trazer uma solução mais barata aos trabalhadores autônomos que dependem (e muito) dos planos de celular para trabalhar. A meta é ousada: vender 150 mil chips até o fim do ano e 1 milhão no longo prazo.
Pouco mais de 30 dias após o lançamento, a empresa que está por trás da solução comemora. A Surf Telecom afirma que a parceria superou as expectativas iniciais e que, se a meta poderia ser considerada ousada, agora parece que é bem plausível de ser alcançada.
Para conquistar os motoristas, a Uber e a Surf oferecem planos trimestrais, que começam com R$ 20 por mês.
“Foi um lançamento pioneiro dentro da Uber no mundo e queremos estar presentes em mais de 5.000 municípios”, diz Yon Moreira, CEO da Surf. Além da Uber, a Surf também tem parceria com empresas como o banco BMG, a estatal Correios e até mesmo times de futebol.
A companhia aposta que esse tipo de negócio será fundamental para a sua estrada rumo à abertura de capital na B3. A empresa atua na área de MVNO. Funciona assim: a Surf compra o direito de usar a infraestrutura das operadoras de telecom para vender serviços similares. No caso da Surf, a parceria é com a TIM e a Oi. Então, no fim das contas, o cliente tem um serviço igual ao das grandes operadoras.
A Surf, em vez de criar uma operadora própria, vende esse serviço para empresas com grande apelo aos clientes, como é o caso da Uber. Com isso, consegue ganhar escala com a força das marcas parceiras. “Através desses parceiros, queremos chegar a mais de 50 milhões de pessoas”, diz Moreira. Com a esperada incorporação dos clientes da Oi pela Tim, Claro e Vivo, a Surf quer aparecer como uma alternativa.
A ambição da Surf é dobrar de tamanho com esse tipo de parceria –e a Uber será um motor importante para isso. Em 2020, a empresa conseguiu esse objetivo: a receita saltou de R$ 100 milhões para R$ 200 milhões em 12 meses. Para conseguir saltos maiores, contudo, é necessário investimento: e a forma para levantar dinheiro escolhido por Moreira é o mercado de capitais.
Também é fintech
Além de ganhar espaço no setor de telecomunicações, a empresa também quer abrir um espaço no disputado segmento de fintechs e bancos digitais. Se o consumidor já é cliente da operadora, por que não abrir uma conta no banco também? Esse é o pensamento de Moreira.
Para conseguir competir com agora gigantes, como Nubank e Banco Inter, a empresa aposta no crédito. Por isso, atua tanto no crédito pessoal, quanto no crédito consignado, aquele em que o empréstimo é cobrado direto na folha de pagamento.
A ideia é que o Surf Bank, que ainda está na fase de milhares de clientes, se torne do mesmo tamanho da área de telecom nos próximos quatro anos.
Problemas societários
Mas existe um problema judicial aí. A Surf Telecom está em conflito com um de seus sócios minoritários, a Plintron Holdings, que tem sede em Singapura. A Plintron afirma que pagou US$ 4 milhões por 40% das ações preferenciais da Surf e também fechou um contrato de US$ 14,7 milhões para investir em tecnologia na empresa.
Nesse contrato, segundo a holding, seria possível converter as ações preferenciais em ordinárias, que têm direito a voto. Acontecendo isso, a Plintron poderia comprar mais 20% das ações ordinárias e obter o controle da empresa.
Isso fez com que o IPO subisse no telhado no ano passado. Os sócios nacionais, incluindo Moreira, discordam da tese da sócia e entraram com pedido de arbitragem internacional.
“Eles entraram na Justiça e obtiveram uma liminar parcial, em que o próprio juiz teve a prudência de segurar o processo”, diz Moreira. “As nossas vitórias estão vindo e de maneira muito apropriada. A Justiça está devolvendo boa parte dos nossos direitos”, diz ele.