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    Silicon Valley Bank se torna maior banco americano a quebrar desde crise de 2008

    Banco se notabilizou pelo foco em start-ups do Vale do Silício, que enfrentam dificuldades relativas ao encarecimento do crédito, diante do avanço dos juros

    André Marinho*, do Estadão Conteúdo

    Com US$ 209 bilhões em ativos e US$ 175,4 bilhões em depósitos, o Silicon Valley Bank (SVB) se tornou o maior banco americano a quebrar desde a crise financeira de 2008 ao ser fechado por reguladores americanos nesta sexta-feira (10).

    A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) assumiu o controle da empresa controlada pela SVB Financial Group, como forma de proteger os clientes. A agência, no entanto, não anunciou um comprador para os ativos do credor, o que costuma ocorrer quando há uma liquidação ordenada de bancos.

    O rápido colapso do SVB começou na última quarta-feira, quando a companhia anunciou uma perda de quase US$ 2 bilhões ao tentar levantar capital para lidar com a fuga de depósitos. O banco se notabilizou pelo foco em start-ups do Vale do Silício, que enfrentam dificuldades relativas ao encarecimento do crédito, diante do avanço dos juros.

    O último banco sob supervisão da FDIC a quebrar foi o Almena State Bank, em outubro de 2020. Não está claro quantos clientes detinham depósitos acima dos US$ 250 mil cobertos pelo seguro da agência.

    Risco para o sistema financeiro?

    A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse que monitora a crise do Silicon Valley Bank, bem como os desdobramentos em vários outros bancos. “Há desdobramentos recentes que preocupam alguns bancos que estou monitorando com muito cuidado e quando os bancos sofrem perdas financeiras, é e deve ser motivo de preocupação”, disse Yellen em uma audiência no Congresso dos EUA.

    Já o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos Larry Summers vê poucos riscos de que a crise do SVB se dissemine por todo o sistema bancário norte-americano, desde que todos os depósitos sejam totalmente devolvidos aos clientes.

    Em entrevista à Bloomberg TV, Summers explicou que o banco com sede na Califórnia foi duramente afetado pelas dificuldades no setor de venture capital e na liquidez de startups norte-americanas. “Isso é menos relevante que o fato de termos visto grandes oscilações nas ações até mesmo dos grandes bancos do país”, disse.

    Summers avaliou que houve exagero na reação do mercado, mas reconheceu que bancos com ativos com vencimento de longo prazo são prejudicados pela escalada dos juros.

    Ainda assim, o economista não espera uma situação de contágio para outras empresas. “Não vejo como, se for tratado de forma razoável, e tenho todos os motivos para pensar que será, isso será uma fonte de risco sistêmico”, destacou Summers, que atuou nos governos dos ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton.

    Efeito da alta dos juros

    Os problemas que o SVB atravessa ficaram mais claros na quinta-feira (9). Investidores liquidaram ações da instituição depois de ela ter informado uma perda de US$ 1,8 bilhão. Os ativos e depósitos do banco quase dobraram em 2021, grandes quantias das quais o SVB despejou em títulos do Tesouro dos EUA e outros títulos de dívida patrocinados pelo governo.

    Logo depois disso, porém, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começou a aumentar juros. Isso afetou as startups de tecnologia e as empresas de capital de risco atendidas pelo Silicon Valley Bank, provocando um declínio mais rápido do que o esperado nos depósitos, um movimento que continuou a ganhar força e acabou levando à quebra do banco.

    Na avaliação do banco UBS, a crise do Silicon Valley Bank acende preocupações sobre as perdas no portfólio de títulos dos bancos americanos. A instituição, no entanto, não enxerga sinais de contágio por todo o sistema bancário. “Acreditamos que os ventos contrários ao setor podem ser gerenciados”, avalia.

    Nos últimos anos, muitos bancos dos EUA investiram fortemente em títulos de longo prazo do Tesouro americano, cujos valores caíram expressivamente à medida que o Fed subiu juros. A FDIC já havia alertado recentemente que os credores americanos enfrentam US$ 620 bilhões em perdas não realizadas associadas à carteira de títulos.

    Segundo o UBS, investidores também estão preocupados quanto à possibilidade de clientes retirarem seus depósitos em favor de papéis de curta duração, que estão dando maior retorno. O banco suíço avalia que o cenário do SVB reforça as perspectivas negativas para o setor financeiro.

    A instituição também chama atenção para o risco de que o quadro agrave a cautela nos mercados acionários. No entanto, o UBS lembra que, desde a crise financeira de 2008, os bancos estão sujeitos a exigências mais rígidas de liquidez.

    Essas empresas podem até ter grandes perdas se houver uma fuga de depósitos. “Mas essas saídas também podem ser contidas aumentando as taxas de depósito, embora isso reduza os ganhos”, pontua.