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    O Brasil precisa escolher: dinheiro para a saúde ou para as aéreas, diz Guedes

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, ministro da Economia diz acreditar que o Brasil pode crescer mais de 2,5% e quer evitar dinheiro público para empresas

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz querer evitar dinheiro público para empresas
    Em entrevista ao CNN Brasil Business, o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz querer evitar dinheiro público para empresas Foto: Adriano Machado/Reuters (09.mar.2020)

    Os efeitos da pandemia do coronavírus vêm atingindo em cheio diversas empresas, mas aquelas que são dos setores de turismo e de aviação sentem um baque maior. O ministro da Economia, Paulo Guedes, entende a dificuldade do momento e diz que está monitorando a crise. Porém, em entrevista exclusiva aos jornalistas William Waack e Renata Agostini para o CNN Brasil Business, Guedes não acredita que é a responsabilidade do governo ajudar diretamente essas empresas por meio de subsídios ou desonerações.

    De acordo com o ministro, não faz sentido desonerar impostos para o setor privado e deixar de ter dinheiro para investir em saúde e na contenção do coronavírus.

    “Companhias aéreas, quando o tempo é bom, ganham R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões, R$ 3 bilhões. Mas quando o tempo é ruim para elas, precisam correr para os recursos públicos? Ou, quem sabe, podem tomar um pouquinho de empréstimo para capital de giro?”, questiona Guedes. “Será que o Brasil prefere dar dinheiro para uma companhia aérea hoje ou dar dinheiro para o (combate ao) coronavírus?”

    E a despeito do que está acontecendo no mundo, Guedes está otimista. O ministro afirmou que o Brasil tem todas condições de crescer mais de 2% mesmo com a expansão dos efeitos negativos do coronavírus. Quer dizer, na cabeça do ministro, é um cenário provável caso o Brasil não se entregue ao que ele chama de “psicologia do fracasso”. 

    “Se nos entregarmos (à crise) e se um continuar brigando com o outro isso será a ‘psicologia do fracasso’. Aí, sim, vai haver uma desaceleração econômica”, diz Guedes. “O mundo cresceu durante o processo de globalização enquanto o Brasil caiu. Nós temos uma dinâmica própria de crescimento e o Brasil pode perfeitamente crescer 2% ou 2,5% com o mundo caindo.”

    Guedes enxerga como suficiente o pacote anunciado pelo governo para combater o coronavírus. Entre os anúncios realizados pelo governo estão R$ 5 bilhões destinados diretamente para a área de saúde, R$ 24 bilhões em antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas. No entanto, se diz aberto para aumentar o montante de ajuda.

    Para os próximos meses, Guedes afirmou que o governo também deve vitaminar o crédito dos bancos públicos, como o anúncio da liberação de R$ 70 bilhões da Caixa Econômica Federal, para setores como construção civil e também para pequenas e médias empresas, além da liberação de R$ 135 bilhões do recolhimento compulsório.

    “Ainda temos algum espaço monetário e creditício. Nós estamos ao contrário do resto do mundo”, diz Guedes. “Eles exauriram as ferramentas monetárias e já estão partindo para o fiscal e nós estamos exauridos no fiscal.”

    Pressão política na economia

    Em cerca de quatro meses, os brasileiros criarão a defesa imunológica ao vírus Covid-19. Dois meses depois, a doença vai embora. É esse o prazo que Guedes enxerga para que os problemas com o coronavírus sejam resolvidos. Para ele, os efeitos econômicos dependem de como os protagonistas undo político e do mercado irão se portar daqui para frente.

    Questionado se a fricção política e as inseguranças dos investidores em relação ao futuro da economia do Brasil, o ministro admite que, se o governo fizer “besteira”, os efeitos poderão ser ainda mais negativos. Entre os problemas que mais esquentaram Brasília nos últimos meses estão as discussões abertas entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

    “Mas eu acredito que nós vamos resolver essa crise rapidamente. Eu continuo acreditando que os poderes vão se entender, como se entenderam no passado”, diz Guedes. “Eu aposto que todos vão compreender que o Brasil está acima das disputas políticas, que a saúde dos brasileiros também, assim como o crescimento econômico.” 

    Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

    CNN Brasil Business: Ministro, o governo divulgou um pacote de ajuda à economia para conter o avanço do coronavírus. É suficiente?

    Paulo Guedes: Eu tenho dito que a economia mundial está descendo enquanto o Brasil estava em pleno processo de recuperação econômica. O coronavírus, da perspectiva econômica, não teria a capacidade de derrubar muito a taxa de crescimento do Brasil. Nos nossos primeiros estudos, derrubaria no máximo 0,5%. Agora, se isso contamina o nosso clima político, exacerba as pressões e desentendimentos, começam acontecer pressões e, eu diria, até uma “psicologia do fracasso”. O Brasil é uma das poucas economias insulares do mundo. Temos dimensão continental e insular e uma dinâmica própria de crescimento. O Brasil pode perfeitamente crescer 2 ou 2,5% com o mundo descendo.

    Mas essa questão insular nos protege do que está acontecendo lá fora?

    Evidentemente que as economias mais integradas sofrem o maior impacto. Todos que estão integrados na cadeia produtiva global sofrem um impacto maior. No Brasil, o impacto é através de preço. Quer dizer, os preços relativos começam a sair do lugar para se adaptarem ao momento, mas a economia tem uma dinâmica própria. Dito isso, eu reforço sempre o que um ministro da Economia tem que dizer, que é a verdade em relação ao nosso processo dinâmico. Nós temos uma dinâmica própria. Se aprofundarmos as reformas reforçamos essa dinâmica. Nós estamos decolando com vento e turbulência. Essa turbulência nos prejudica um pouco, mas estamos decolando, ao contrário da economia mundial, que está em declínio. Aí vocês podem me perguntar se terá algum impacto. Vai e aí nós vamos para o segundo ponto, que é a saúde pública e de reparar esse impacto.

    E o que temos de pronto?

    Vamos falar de dinheiro agora: imediatamente R$ 5 bilhões para a saúde. A sugestão veio de um senador da oposição. Ele perguntou: “por que você não pega esse dinheiro da disputa com parlamentares e transforma em dinheiro do coronavírus”?

    O ministério da infraestrutura também lhe pedirá dinheiro para as companhias aéreas. Como é que vamos fazer isso sem perder a âncora fiscal?

    Estamos conversando sobre isso, evidentemente. Primeiro: nós temos linhas de crédito. Companhias aéreas, quando o tempo é bom, ganham R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões, R$ 3 bilhões. Mas quando o tempo é ruim para elas, precisam correr para os recursos públicos? Ou, quem sabe, podem tomar um pouquinho de empréstimo para capital de giro? Será que o Brasil prefere dar dinheiro para uma companhia aérea hoje ou dar dinheiro para o (combate ao) coronavírus? 

    O senhor prefere para a saúde, pelo que eu vejo.

    Temos toda uma trajetória planejada. O dinheiro para as companhias aéreas está sendo monitorado. A cada 48 horas estamos vendo o que está acontecendo. E há linhas de crédito nos bancos públicos à disposição. Também estão sendo liberados R$ 135 bilhões de recolhimento compulsório, além de mais R$ 70 bilhões que a Caixa Econômica Federal vai disponibilizar. E tudo isso sem atingir o equilíbrio fiscal porque ainda temos algum espaço monetário e creditício. Nós estamos ao contrário do resto do mundo. Eles exauriram as ferramentas monetárias e já estão partindo para o fiscal. Nós estamos exauridos no fiscal. Quebraram o Brasil em todos os níveis: governo federal, estados e municípios. Aí chegam e pedem: “me dá um dinheiro aí”. Calma, vamos ver para quem.

    O senhor antecipa um efeito deflacionário com a crise do coronavírus na nossa economia. Portanto, o senhor antecipa a necessidade do Banco Central baixar ainda mais a taxa de juros?

    Uma coisa é a crise médica, a de saúde pública. Ela vem e tem um impacto forte. Mas passam três, quatro meses, e já se cria a defesa imunológica do brasileiro. Em seis meses, a doença vai embora. Isso é um impacto transitório. A outra coisa é a psicologia da crise. Essa entra, perturba o ambiente político e nos entregamos à doença. Aí sim terá um impacto deflacionário. Terá uma crise e o Brasil crescerá menos de novo. Então, nós não podemos nos deixar capturar por isso. 

    Mas boa parte da reação dos mercados foi por uma interpretação que a economia está decolando aquém do necessário. O investidor também vê essa fricção política. Boa parte da alta do dólar se explica com a insegurança do investidor em relação à nossa economia.

    Exato. Se fizer besteira, a impressão cresce. Se reagir mal, se reagir agudizando a crise política. 

    Ministro, viemos de um crescimento de um 1%. Agora, há um temor muito grande, não só das pessoas, mas também do mercado. Há algum risco de entrarmos de novo numa recessão? 

    De novo, eu respondo para vocês: se nós nos deixarmos capturar por uma psicologia negativa de um problema de saúde transitório. O Brasil tem uma das economias mais fechadas do mundo. Então, o Brasil não deve ser o país que seria mais abalado por essa crise. Agora, nós temos uma psicologia interessante: quando o mundo está voando, a gente enxerga o país estagnado e acredita que o país está fora do mundo. Quando o mundo desce, queremos colocar o Brasil embaixo do teto que vai cair. Eu estou dizendo: o Brasil está fora dessa. Agora, se nos entregarmos (à crise) e se um continuar brigando com o outro isso será a ‘psicologia do fracasso’. Aí, sim, vai haver uma desaceleração econômica. (…) Eu continuo acreditando que os poderes vão se entender, como se entenderam no passado. Eu aposto que todos vão compreender que o Brasil está acima das disputas políticas, que a saúde dos brasileiros também, assim como o crescimento econômico.