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    Rússia responde por 0,6% das exportações do Brasil; visita busca incrementar comércio

    Apesar de tensão na Ucrânia durante visita de Bolsonaro a Putin nesta semana, economistas ouvidos pela CNN acreditam que ampliação de parceria entre os dois países é passo importante

    Juliana Eliasdo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    O presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua comitiva de autoridades iniciam viagem a Moscou nesta segunda-feira (14) para encontro com Vladimir Putin e reuniões bilaterais que, de acordo com o Itamaraty, já estavam sendo planejadas desde meados do ano passado, antes da escalada recente das tensões nas fronteiras da Ucrânia.

    Com o presidente russo engajado em ameaças de invasão à vizinha Ucrânia, diplomatas e especialistas de dentro e de fora do Brasil avaliam que a aproximação, agora, poderia enviar um sinal negativo ao mundo ocidental sobre o posicionamento brasileiro em relação ao conflito — em especial para os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do Brasil, e para potências europeias que formam a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ambos engajados em revidar a ofensiva russa no território ucraniano.

    No entanto, para especialistas em comércio exterior consultados pelo CNN Brasil Business, apesar de não ser o melhor momento para a visita, é importante uma aproximação entre estes dois dos cinco membros dos BRICS, e há muitas oportunidades comerciais, hoje subutilizadas, que podem ser ampliadas entre o Brasil e a Rússia.

    “A Rússia é um mercado importante, tem 140 milhões de habitantes. O Brasil tem interesse em aumentar as exportações para lá, principalmente de alimentos, e há a possibilidade de que, dentro dos BRICS, tenha algum tipo de cooperação”, disse o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados.

    “A visita é justificada, só o momento que não é o melhor”, afirmou.

    0,6% das exportações

    Há duas décadas, a Rússia já foi a maior compradora de carnes, especialmente suína, do Brasil. O posto, porém, foi minguando conforme os russos trabalharam por sua autossuficiência e, no Brasil, os produtores começaram a se ocupar de outros destinos bem maiores em ascensão, caso da China.

    Em 2021, o Brasil vendeu um total de US$ 1,7 bilhão em produtos para a Rússia, o equivalente a 0,6% das exportações totais, a menor participação em pelo menos duas décadas. Isso deixou o país com a nona maior população do mundo em 36º entre os destinos para onde o Brasil mais exporta.

    O valor mal se compara aos US$ 88 bilhões embarcados para a China e os US$ 31 bilhões comprados pelos Estados Unidos no ano passado. Até nações menores, mais pobres e também distantes, como Malásia (US$ 4,7 bilhões), Vietnã (US$ 2,6 bilhões) ou Irã (US$ 1,9 bilhão), compram hoje mais do Brasil do que a Rússia.

    Na pauta dos itens mais vendidos para os russos estão alimentos como soja, frango, carnes, café, açúcar e até amendoim, o que faz do país um parceiro especialmente querido do agronegócio brasileiro.

    No sentido oposto, os fertilizantes dominam a lista de produtos exportados pela Rússia ao Brasil – cerca de 60% (US$ 3,5 bilhões) dos US$ 5,6 bilhões que o Brasil importou dos russos em 2021 foi em adubos e fertilizantes, de acordo com os dados oficiais da balança comercial brasileira.

    O valor importado mais do que dobrou no ano passado e consolidou de vez uma relação bilateral que, depois de anos favoráveis, hoje é deficitária para o Brasil.

    “Mesmo que seja menos de 1% [a participação nas exportações], estamos falando de duas das maiores economias do mundo, e que pouco se conhecem”, disse o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Mario Cordeiro.

    Ele menciona o fato de a presença dos produtos brasileiros nos países do leste europeu ser muito pequena e pouco arrojada perto do potencial de consumo que poderia ter por lá.

    “Apesar do tensionamento político, é uma ida auspiciosa no sentido de poder criar caminhos para que a nossa corrente de comércio com a região aumente”, acrescentou Cordeiro.

    Agronegócio à frente

    Com um peso tão forte do agronegócio nas relações comerciais entre os dois países, é natural que o tema seja parte importante da pauta econômica da visita.

    A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, era um dos nomes previstos na comitiva que acompanha Bolsonaro – sua presença, porém, acabou cancelada após a confirmação de diagnóstico de Covid-19 na semana passada.

    Também são basicamente empresários do setor agrícola que integram a reduzida equipe de representantes da iniciativa privada a acompanhar o presidente na visita – a participação empresarial acabou enxugada pela falta de tempo para ampliar os convites, feitos em boa parte com o intermédio da Câmara Brasil-Rússia de Comércio, e também pelas limitações da Covid-19.

    Marcos Molina, dono da Marfrig; o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, e o presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho, além de representantes da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), estão entre os empresários que foram escalados para acompanhar a viagem.

    Para o presidente da Câmara Brasil-Rússia, Gilberto Ramos, porém, as oportunidades a serem exploradas entre os dois países vão muito além do campo, inclusive na atração de investimentos de empresas russas tanto estatais quanto privadas para o Brasil.

    “A corrente comercial pode facilmente voltar para os US$ 8 bilhões ou US$ 9 bilhões, e nós projetamos um potencial de investimentos entre os dois países de US$ 40 bilhões nos próximos cinco anos”, disse Ramos, que também é vice-presidente para o Brasil da BRICS Alliansce, organização internacional de integração entre os cinco países integrantes do bloco.

    “A Rússia tem muita expertise em áreas como petróleo, energia, infraestrutura, portos, ferrovias. O marco das ferrovias, por exemplo, aprovado no ano passado, vai demandar investimentos na ordem de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões, e a Rússia tem condições muito favoráveis de ser uma parceira”, disse Ramos, mencionando a RZD, a estatal de trilhos russas, e a larga cadeia de suprimentos ferroviários que a rodeia.