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    Retomada, boom de commodities: por que a Usiminas vai investir R$ 1,5 bi em 2021

    A receita líquida da empresa, que ficou em R$ 7,1 bilhões, foi, segundo a própria, o maior valor trimestral desde a incorporação da Cosipa, em 2009

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    Em cerca de cinco anos, a siderúrgica mineira Usiminas saltou de um processo de falência quase iminente para um papel de destaque no seu segmento, tornando-se uma das principais beneficiárias da retomada econômica e do superciclo de commodities iniciado no final de 2020 e que se estende por 2021.

    Prova disso é que a empresa reverteu o prejuízo de R$ 424 milhões, registrado no primeiro trimestre de 2020, auge da crise, e teve lucro líquido de R$ 1,2 bilhão entre janeiro e março de 2021. O Ebitda ajustado, por sua vez, atingiu R$ 2,4 bilhões, um avanço de 325% em relação ao registrado no mesmo período do ano passado.

    E a receita líquida, que ficou em R$ 7,1 bilhões, foi, segundo a empresa, o maior valor trimestral desde a incorporação da Cosipa, em 2009. Houve avanço da receita líquida em todas as unidades de negócio, com destaque para a Unidade de Siderurgia e Unidade de Transformação do Aço.

    “O resultado da Usiminas superou até as mais otimistas das projeções e confirmou a retomada de seus negócios. Vários setores da economia foram impactados pela suspensão de seus negócios, com o lockdown realizado para conter o surto da Covid-19 no mundo. No trimestre seguinte, as economias foram voltando para suas atividades, mas a cadeia de estoque global de insumos de produção não suportaria em caso de uma retomada mais forte, e foi o que aconteceu”, disse o analista Pedro Galdi, da Mirae, em relatório distribuído aos clientes da corretora.

    “Passamos a sofrer falta de aço, material de construção, chips, entre vários outros insumos. Neste cenário, os preços das commodities passaram por correção, gerando a alta recente inflacionária no mundo. A demanda por aço mostrou novamente uma forte demanda no mercado doméstico com a retomada da economia no país e da necessidade de reposição de estoques por parte das distribuidoras e de importantes clientes que usam grande quantidade de aço, como industrial e automobilístico. A Usiminas divulgou o resultado do 1T21 forte e refletindo esta melhora de cenário.”

    Consequentemente, os papeis da empresa subiam, até o dia 10 de maio, 60% em 2021 (CSN avançava 61%, Gerdau, 49%, e Vale, 37%). Em entrevista ao CNN Brasil Business, o CEO da Usiminas, Sergio Leite, comparou as crises de 2015 e 2020, comentou os resultados animadores dos últimos trimestres e traçou um panorama para o futuro do setor, depositando esperanças em uma retomada da economia nacional e ponderando o salto na demanda internacional.

    Crises

    Em 2015, enquanto tensões políticas recrudesciam em Brasília e o país mergulhava em uma recessão econômica, a Usiminas estava mal das pernas. No período, os preços do minério afundaram, indústrias como a automotiva e de linha branca viram seus volumes despencarem e a companhia mineira ainda vivia uma disputa interna.

    Seus principais acionistas, o grupo ítalo-argentino Ternium/Techint e a companhia japonesa Nippon discordavam publicamente sobre os rumos da operação. “Chegamos a ter Ebitda negativo, foi um período bem difícil. Mas conseguimos assinar um compromisso entre todas as partes e concluir este capítulo”, diz Leite.

    (Depois de também disputar o controle da Usiminas, há cerca de dez anos, a Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, comandada pelo empresário Benjamin Steinbruch, começou a vender as ações preferenciais que possui de sua concorrente mineira no início de maio. A decisão da CSN, ao menos até aqui, é de manter as ações ordinárias, que têm direito a voto.)

    “Na minha visão, a crise de 2020 foi até mais impactante, porque atingiu diretamente a saúde das pessoas.” Fato é que, apesar da queda de mais de 60% do faturamento no segundo trimestre de 2020, a empresa estava muito melhor preparada para lidar com os cenários externos desafiadores.

    Quando a economia nacional voltou a esquentar, no meio do ano, a empresa logo religou o seu alto-forno 1, em agosto, que havia sido temporariamente desativado, buscando aproveitar, principalmente, a retomada da produção de veículos em solo nacional.

    Siderurgia

    Isso porque, em termos de aços planos, o segmento corresponde a um terço dos negócios da empresa, em pé de igualdade com as indústrias de transformação e construção civil/infraestrutura. “O setor demonstrou recuperação robusta no segundo semestre e deve crescer 25% em 2021, segundo dados da Anfavea”, afirma.

    Neste ponto, há dois poréns: o valor estimado pela associação parte de bases baixíssimas registradas no ano anterior e, em janeiro, a Ford, uma das principais companhias do ramo e compradora de produtos da Usiminas, anunciou que deixaria de produzir carros em solo nacional.

    O executivo se mostra, mesmo com algumas dúvidas no ambiente, confiante na resiliência do setor no presente e no futuro. “A indústria automotiva foi uma das propulsoras da industrialização brasileira no passado e segue importantíssima na economia nacional, gerando empregos e crescimento”, diz.

    As vendas da unidade cresceram, em relação ao quarto trimestre de 2020, 11% para o mercado externo e 7% para o interno, totalizando 1,25 milhão de toneladas e se mantendo como a principal operação da empresa. 

    Mineração 

    Paralelamente, a MUSA (Mineração Usiminas) vem ganhando relevância e deve continuar recebendo atenção da empresa. O segmento teve seu pico no quarto semestre de 2020, quando a demanda asiática se demonstrava mais aquecida, mas pode voltar a crescer com a retomada em outros países. 

    “Eu, como CEO, não posso realizar previsões sobre o futuro do mercado de mineração, mas posso dizer que vivemos um período de preços dinâmicos em patamares elevados, com a Ásia, que importa grande parte da nossa produção, consumindo bastante os insumos”, diz.

    A empresa vendeu 2,2 milhões de toneladas de minério de ferro nos últimos três meses de 2020 e 1,9 milhão nos primeiros três de 2021. Leite afirma que, mais que aumentar a capacidade de produção atual, que é de 8 milhões de toneladas ao ano e vai passar a 12 milhões, existe um projeto para desativar a última de três barragens da empresa que ainda está em atividade.

    Investimento 

    Nessa linha, a Usiminas já tem investimento de R$ 160 milhões aprovado para que toda a operação de mineração seja transformada, em 2021, para uma técnica de empilhamento de rejeitos a seco (dry stacking), que traz menos riscos ao meio ambiente e não requer utilização de barragens, parte de sua agenda ESG. Mas não fica por aí.

    A empresa assinou, em abril, o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre crescimento sustentável, e possui uma agenda com uma série de objetivos que pretende alcançar até 2030. Há metas de diversidade, segurança, responsabilidade social, emissão de CO2… além das tradicionais.

    “Estamos crescendo continuamente nossa capacidade de investimentos. Foram R$ 200 mi em 2017, R$ 460 mi em 2018, R$ 690 mi em 2019 e R$ 799 mi em 2020. Em 2021, vamos saltar para R$ 1,5 bi, realizando, inclusive, a reforma do alto-forno 3, nosso principal equipamento”, afirma.

    Com programa de inovação implementado em 2018, a empresa também vem colhendo frutos tecnológicos, seja com produtos próprios ou acelerando startups. A empresa lançou uma plataforma virtual de vendas em março, permitindo que a companhia atinja consumidores em todos os níveis de volume.

    Leite afirma que, além de acreditar no futuro de sua empresa, acredita em uma retomada da economia nacional. “Somos uma das maiores economias do mundo. Temos indústria forte, apesar da desindustrialização, agro forte. Acredito que estejamos iniciando um período importante para a economia nacional”, diz.

    “Para que isso se concretize, cada um de nós tem que dar sua contribuição. Temos que realizar reformas: tributária, administrativa e política, e continuar avançando e trabalhando. A Usiminas acredita no Brasil.”

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