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    Relações comerciais não vão avançar sem questão ambiental, diz chefe da OMC

    O brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, afirma que a preservação ambiental é assunto de primeira importância atualmente

    Anna Russi, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, não acredita no avanço de acordos comerciais e econômicos internacionais que não levem em consideração a questão da preservação ambiental.

    “Acho difícil ver avanço grande nas relações comerciais e econômicas sem a questão ambiental estar presente. Qualquer acordo grande que venha no futuro terá essa discussão”, afirmou. 

    Ele participou, nesta terça-feira (4), do evento virtual “Diálogo Empresarial: novos desafios e oportunidades no comércio internacional”, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em conjunto com a Câmara de Comércio Internacional no Brasil (ICC Brasil).

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    Na avaliação de Azevêdo, a cobrança pelo comprometimento de países com as questões ambientais não é apenas momentânea ou conjuntural.

    “A questão ambiental está ai para ficar. Agora é enquadrar, pautar e explicar melhor, evitando que ela desande para coisas protecionistas”, reforçou. 

    Segundo ele, a preocupação com o meio ambiente, apesar de não estar no topo da pauta, já é discutida nas negociações da OMC. “E se não acontecer na OMC, vai acontecer fora. Temos que estar preparados para lidar com a questão de forma construtiva e crível”, completou.  

    Em maio deste ano, Azêvedo, que assumiu a chefia da OMC em 2013, anunciou que deixará o cargo de diretor-geral da organização até dia 31 de agosto. 

    Comércio Internacional pós-pandemia 

    De acordo com Azevêdo, a estimativa da OMC é de que a queda no desempenho do comércio internacional seja em torno dos 13%, mais próxima do cenário otimista projetado em abril.

    “De início o cenário mais pessimista via um tombo de até 32%, mas ambos os cenários são horríveis. É pior do que a crise financeira de 2008 e 2009, pior que isso só na grande depressão dos anos 1930. E devemos continuar cautelosos com essas estatísticas porque a incerteza sobre os rumos da pandemia ainda é enorme”, observou. 

    Na visão dele, a recuperação do comércio vai depender de uma sincronia das políticas fiscal, monetária e comercial.

    “Outra coisa é que os governos têm que estar muito atentos às medidas de correção, que serão adotadas no após a pandemia com intuito de cobrir os déficits públicos, que, por sua vez, são inevitáveis com os gastos em medidas para estímulo econômico”, alertou. 

    Azevêdo destacou que, no momento, a organização se preocupa com os discursos de alguns países que buscam a autossuficiência como resposta às vulnerabilidades expostas pela pandemia.

    “Na prática, a autossuficiência, além de ser raramente possível, não é sustentável. Traz um custo alto para a sociedade e não reduz vulnerabilidade ao choque de desabastecimento. Mas há sempre o risco de que interesses protecionistas setoriais procurem viabilizar essa narrativa nacionalista de autossuficiência “, explicou. 

    O chefe da OMC também acredita que a haverá uma mudança na lógica da globalização. “Vamos ver uma reconfiguração das cadeias globais de valor porque a pandemia expôs de maneira nítida os riscos da concentração da produção.

    As corporações que produzem em escala mundial vão procurar reduzir a dependência de um insumo, de um fornecedor ou até de uma região.

    Se antes a lógica produtiva era direcionada para o que conhecemos como ‘just in time’, ou seja, no momento não terei estoque e vou importar e alimentar a minha cadeia produtiva conforme o necessário, agora a lógica começa a se direcionar para o ‘just in case’, que é na eventualidade.

    Em outras palavras, é quando minimizar os riscos de desabastecimento ganha peso maior nas estratégias produtivas de muitas empresas”, esclareceu. 

    Brasil no comércio mundial 

    Para ele, esse movimento na lógica da globalização vai abrir oportunidades para muitos países. “As cadeias vão se ampliar e países como o Brasil podem se aproveitar dessas oportunidades, mas para isso é preciso estar preparado. Nenhum país entra nessa cadeia global automaticamente. Só vai entrar na nova configuração da cadeia global se ele for competitivo em determinados setores”, ponderou. 

    Azevêdo ressaltou que o Brasil ainda precisa “fazer o dever de casa” para se inserir de maneira ainda mais efetiva nas cadeias globais de produção. Para ele, o acordo entre Mercosul e União Europeia pode ser uma “excelente oportunidade” para se avançar nessa inserção.

    “Mas não posso deixar de dizer que o momento político não é o mais favorável, com a pandemia em curso e a desaceleração tão dramática das economias. Imagino que haverá pressões dos dois lados para evitar choques muitos fortes nesse momento, sobretudo de oferta”, diz ele.

    EUA vs China 

    Questionado sobre as tensões comerciais entre Estados Unidos e China, ele comentou que prevê uma continuidade dos conflitos em um futuro imediato, médio e “até no longo prazo”.

    “São as duas maiores potencias do mundo que se têm como rivais e competidores, com modelos econômicos e políticos muito diferentes um do outro.”

    Segundo Azevedo, antes mesmo da pandemia, o comércio internacional se contraiu um pouco em termos de volume e mais ainda em termos de valor.

    “Essa desaceleração econômica pré-pandemia já era resultado dessas tensões”, diz o diretor-geral. “É claro que haviam outros fatores, mas essas tensões entre os dois levavam a uma incerteza enorme e como sabemos o investidor odeia incertezas. Esse antagonismo entre as duas grandes economias do mundo não vai mudar. Precisamos saber é como essa relação entre os dois vai se desenvolver.”

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