Presidente do BC indica fim do ciclo de aperto monetário em maio
Na última semana, o Banco Central subiu a Selic em 1 ponto percentual, indicando novo ajuste da mesma intensidade em maio, o que deve levar a Selic a 12,75% ao ano
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que um aumento adicional na taxa básica de juros em junho não é um cenário provável, indicando que o forte ciclo de aperto monetário iniciado há um ano na tentativa de debelar a inflação deve ser encerrado em maio.
Diante das novas pressões inflacionárias causadas pela guerra na Ucrânia, Campos Neto disse que uma mudança na meta de inflação para acomodar choques sobre a economia teria “pouco a ganhar” em termos de credibilidade.
Segundo Campos Neto, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, o colegiado avaliou a elevação do cenário de incerteza, o ritmo adequado para a alta dos juros e a taxa terminal do ciclo de aperto.
“Entendemos que, usando esse mix de fatores, o mais apropriado era fazermos uma elevação de 1 ponto (na Selic em março) e indicar mais 1 ponto (em maio), dizendo que, se o cenário internacional se agravasse ou que se houvesse algum outro choque que afetasse as expectativas na mesma direção, nós poderíamos repensar o cenário, fazendo um movimento adicional em junho, não é o cenário mais provável”, disse.
Na última semana, o Banco Central subiu a Selic em 1 ponto percentual, indicando novo ajuste da mesma intensidade em maio, o que deve levar a Selic a 12,75% ao ano. Se esse cenário se concretizar, o ciclo de aperto terá elevado os juros em 10,75 pontos percentuais em relação ao piso histórico de 2% que vigorou até março de 2021.
Em coletiva de imprensa para comentar o Relatório Trimestral de Inflação, Campos Neto disse que “se tem uma coisa que o Banco Central tem feito é não ficar atrás da curva” de juros, justificando que a autarquia se moveu mais rapidamente do que outros bancos centrais no mundo.
O presidente do BC ponderou que não há risco de “overkill”, quando a autoridade monetária exagera na dose de política monetária, justificando que a realidade brasileira permite minimizar a chance desse tipo de problema.
Campos Neto disse que a autarquia trabalha com intervalos de confiança para a inflação e que choques adversos podem superar esse intervalo. Para ele, porém, assim como houve vários choques de alta inflacionária, também é possível que ocorram choques de baixa.
De acordo com Campos Neto, falar de mudança na meta de inflação de 2022 faria pouco sentido, adicionado ao fato de que as projeções para 2023 indicam que o índice de preços está próximo da meta.
Segundo ele, a autoridade monetária tem instrumentos para cumprir a meta e não cabe ao BC fazer projeção sobre mudança desse alvo, algo que poderia ser discutido no âmbito do Conselho Monetário Nacional.
Na entrevista, a diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Fernanda Guardado, ressaltou que diante da defasagem do efeito da política monetária sobre a inflação, na próxima reunião do Copom, em maio, o horizonte relevante da decisão será integralmente 2023.
Combustíveis
Campos Neto ainda destacou que ainda existe prêmio de risco ligado à incerteza fiscal, ressaltando que o BC acompanha discussões sobre cortes de impostos e implementação de subsídios para atualizar seus cenários caso novas medidas sejam concretizadas.
Questionado sobre o fato de ter participado de reuniões no governo que discutiram preços de combustíveis, o presidente do BC disse que sua atuação nos encontros foi no papel de técnico, sem participação em nenhuma decisão.
Sobre a alta da gasolina, ele afirmou que o repasse dos reajustes do produto às bombas tem sido mais rápido do que o antecipado. Destacou ainda que mesmo em países que possuem mecanismos de amortecimento da volatilidade do preço do petróleo a oscilação foi tão alta que os sistemas foram superados.
Campos Neto ainda comentou a operação padrão de servidores da autarquia que pedem reajustes salariais. Ele disse que respeita o direito à manifestação, ponderando que os funcionários têm senso de responsabilidade e que o BC tem esquema de contingência se algo mais severo acontecer.