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    Preço da comida não deve subir tanto em 2021 — mas vai continuar alto

    Dólar mais comportado deve evitar novos reajustes bruscos, mas expectativa é que não haja grandes quedas nos preços

    Ceagesp, em São Paulo: Preço dos alimentos subiu mais de 16% em 2020
    Ceagesp, em São Paulo: Preço dos alimentos subiu mais de 16% em 2020 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil (03/05/2018) / Arte: CNN

    Juliana Elias,

    do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Em 2020, começaram a circular pela internet fotos de um suposto pacote de arroz de 5 quilos a R$ 40. Parecia “fake news”. Afinal, um pacote desses costumava ser vendido a menos de R$ 15 até então. Mas era verdade. 

    O arroz foi o principal “vilão”, mas os preços dos alimentos em geral, no ano passado, foram capazes de impressionar qualquer pessoa que frequente supermercados. 

    De acordo com os dados oficiais de inflação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço dos alimentos nos supermercados subiu 16% de janeiro a novembro. Só o arroz subiu 70%. O feijão preto subiu 40%.

    Leite, frutas, legumes, carne, frango e ovos, produtos comuns à mesa da maioria dos brasileiros, também tiveram destinos parecidos. Todos tiveram aumentos maiores do que 10% no ano. 

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    As altas foram uma mistura de tudo de pior que poderia acontecer para os preços ao mesmo tempo: aumento da procura externa, aumento da procura interna e aumento do dólar, temperados por mudanças de hábitos e interrupções atípicas na produção que vieram com a pandemia. 

    Aumentos menores em 2021

    A boa notícia para este ano é que boa parte dessa “tempestade perfeita” de fenômenos já terá se amenizado, e as coisas devem começar a se normalizar. Isso significa que reajustes dessa magnitude e em tão pouco tempo não devem se repetir. 

    Mas os preços, no geral, não devem cair. “Pode haver alguma queda no começo do ano, mas pouco relevante. O mais esperado é que haja uma acomodação neste patamar elevado”, disse Nicole Rennó de Castro, pesquisadora da área de macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea – Esalq/USP).

    “Os custos devem permanecer elevados no ano que vem. A China, principal destino das nossas carnes, vai continuar comprando bastante e, com a economia crescendo mais, a demanda doméstica deve continuar alta também.”

    “Ver a volta dos preços ao normal é esperar demais”, diz o economista André Braz, um dos coordenadores dos índices de inflação calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV). “O que deve acontecer é passarmos a ver aumentos menores.” 

    Alívio começou em dezembro

    A tendência de alívio começou em dezembro. Levantamentos da FGV, que acompanham os preços no atacado, entre produtores agrícolas e indústrias, mostram que o preço do quilo do arroz, por exemplo, caiu 2,5% na primeira prévia de dezembro. É um indício de que seu preço já chegou ao pico e não sobe mais –mas ficou longe de zerar o aumento de 89% acumulado em um ano.

    A tendência é seguida por diversos itens que estão na base da alimentação de boa parte do mundo, como soja, milho e trigo. Depois de altas fenomenais, puxadas pela fome dos chineses e alta do dólar, eles também estão subindo menos.

    O milho, por exemplo, subiu “apenas” 7% em dezembro, depois de uma alta de 20% no mês anterior. A soja variou 0,1%, depois de passar o ano com avanço de mais de 10% ao mês. 

    Isso afeta não só o preço da espiga e do óleo de soja no supermercado, mas, principalmente, o da maioria das carnes que compramos: frangos, suínos e bovinos se alimentam basicamente de milho ou de soja, e são eles dois um de seus principais custos de produção.

    Dólar mais controlado

    Uma das principais razões para a crença em altas menos expressivas em 2021 passa, necessariamente, pelo dólar. Em 2020, ele começou valendo R$ 4 e chegou a quase R$ 5,90 nos piores momentos, o que fez do câmbio um dos principais fatores para a alta no preço dos alimentos. 

    “Foi uma alta muito forte e que deixa as exportações muito atraentes”, diz o analista da Tendências Consultoria Marcio Milan. “E em um momento em que o resto do mundo, em especial a China, começou a se recuperar muito rapidamente. Esses dois fatores juntos explicaram as altas bruscas nos alimentos que vimos.”

    Como o Brasil é um grande produtor e exportador de alimentos, o dólar alto faz com que as vendas para fora fiquem especialmente vantajosas. Portanto, quem quer comprar acaba tendo que cobrir o preço negociado no exterior. É por isso que, quando o dólar e as exportações avançam muito, os preços para os brasileiros também sobem.

    Atualmente, o dólar já está de volta à faixa dos R$ 5 e a expectativa para 2021 é que fique parado mais ou menos por aí. Isso significa menores variações e, portanto, menos repiques como os vistos em 2020.

    “Já há uma redução da incerteza mundial com o início da vacina em muitos países”, explica André Braz, da FGV. “Isso melhora o ânimo dos investidores e dos mercados e ajuda moedas como o real a se valorizarem.”

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