Por que a troca no comando do BC da Turquia afeta a Bolsa e o dólar no Brasil
A mudança na presidência do banco central turco fez com o que o dólar subisse contra diversas moedas emergentes, incluindo o real
O que as decisões tomadas na Turquia têm a ver com a economia brasileira? Aparentemente, muita coisa.
Na última sexta-feira (10), o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, demitiu o presidente do banco central do país. Na manhã desta segunda (22), o dólar avançou mais de 9% ante a lira turca e, antes disso, teve uma alta de 15%. A Bolsa de Istambul despencou mais de 9%.
A mudança no comando do BC turco fez com que investidores ficassem com um pé atrás em relação aos mercados emergentes, como o Brasil. Por aqui, o dólar fechou em alta de 0,64%, a R$ 5,5190 na venda.
“A situação da Turquia é altamente preocupante para nós no Brasil. E é interessante, porque a gente praticamente não tem relação comercial com o país, mas somos afetados porque o que aconteceu por lá vai impactar os outros países emergentes”, afirma Paulo Feldmann, professor associado da Faculdade de Economia e Administração da USP e pesquisador na Universidade Fudan, na China.
Segundo ele, os investidores ficam preocupados por conta da dívida alta dos “países que usam o recurso da alta de juros para controlar a inflação” —a exemplo da Turquia e, mais recentemente, do Brasil. “Na Turquia, o Banco Central também é independente, o que não quer dizer independente nada, uma vez que o presidente, quando fica insatisfeito, pode demitir a diretoria. É uma situação bastante parecida com a nossa”, diz Feldmann.
Para Adriano Cantreva , sócio da gestora de recursos Portofino, a situação da Turquia afetou o Brasil somente por causa da fragilidade econômica que o país vem enfrentando nos últimos anos.
“A demissão do presidente do BC turco causa volatilidade no mercado brasileiro mais em função do momento crítico que estamos vivendo, com o aumento da taxa de juros no Brasil na semana passada, o que foi um fator importante e deixou bastante gente preocupada, além das questões políticas e fiscais do governo. Isso só veio em um momento bastante delicado para a economia brasileira”, disse Cantreva.
Cantreva acredita que o efeito não deve ser de longo prazo. “É algo bastante pontual e que, daqui a alguns dias, deixará de ser o foco do mercado. É um movimento bastante isolado que, obviamente, tem afetado o Brasil, mas a gente já vem de uma situação bastante frágil e não é uma surpresa isso ter acontecido”, afirma.
*Com Reuters