Política pressiona BC a subir mais os juros para compensar risco fiscal
E o mercado se preocupa com a ameaça do que pode acontecer com as contas públicas
A preocupação hoje – tanto dos economistas do Banco Central como do mercado – é mais com o cenário interno que externo, especificamente com os riscos que podem piorar a dinâmica da inflação e exigir do Banco Central mais aumento dos juros para quebrar a resistência da alta dos preços. E o tema principal dessa preocupação é a ameaça do que pode acontecer com as contas públicas com a PEC dos precatórios apresentada nesta terça-feira (10).
Na ata da última reunião do Copom divulgada na terça-feira, vê-se mais peso aos riscos fiscais, por conta de uma possível desandada no controle dos gastos públicos. Vai ser um bom esforço que eles vão precisar fazer para sair dos 7% previstos para o IPCA no final deste ano e cortar isso pela metade até o final de 2022. “O Banco Central precisa ser mais agressivo para compensar os efeitos que o governo não está conseguindo fazer na política fiscal”, resume o economista Sérgio Vale, da MB Associados.
A moeda americana é uma forma de medir a percepção de risco do Brasil. Apesar da leve valorização do real nesta terça, a volatilidade do dólar continua altíssima. Esse cenário leva ao debate se o BC deve intervir para tentar amenizar o comportamento da moeda. “O nível de câmbio não preocupa, mas sim, a dinâmica”, disse Bruno Serra, diretor do BC, em evento.
Hoje, a dinâmica econômica um tanto desalinhada está muito ligado à política, com tanques circulando por Brasília, uma CPI da Pandemia e uma agenda econômica com mudanças criativas.
Falando em mudanças criativas, a PEC dos Precatórios continua agitando o mercado. Há muitos detalhes no projeto que estão em zona cinzenta, começando pelo debate sobre se a mudança implica um calote ou não. “É um quadro muito grave de deterioração fiscal. Vamos ver qual vai ser a reação do mercado e dos agentes econômicos nos próximos períodos”, avalia Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente do Senado Federal (IFI).
Uma reação dos agentes econômicos já começamos a ver. O IPCA de julho encostou no 1%. O maior pico do ano. As dúvidas que ficam são quanto tempo vai levar e qual a intensidade que os preços vão ceder até o fim do ano. A percepção é que não vão ceder tão cedo e nem muito intensamente.
Até ajuda o fato de a economia estar retomando, mas ainda há muita desigualdade, com setores sofrendo mais que outros. Se mantendo desigual assim, tende a haver mais pressão sobre os preços. Sem esquecer a questão do emprego e renda, em situação preocupante. Para piorar, a inflação mais forte, está nos itens mais consumidos pelas classes mais pobres.
Nesta quarta-feira (11), a agenda está bem voltada para a política. O mercado aguarda a votação sobre a proposta de mudança de cobrança do IR, prometida pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), proposta que ainda não tem um consenso.
Neste episódio do Abertura de Mercado, a comentarista de economia da CNN Thais Herédia ouve especialistas sobre os temas que circulam por Brasília, cada vez mais quentes, além, claro, de outras questões que mexem com a economia e influenciam o mercado.
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*Publicado por Ana Carolina Nunes