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    Petrobras e Vale: o que esperar das gigantes da Bolsa para o ano de 2021

    Os resultados positivos fizeram brilhar os olhos dos investidores e garantiram, pelo menos por enquanto, uma certa estabilidade para as companhias brasileiras

    Tamires Vitorio, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    As duas maiores empresas do Ibovespa tinham tudo para ganhar no ano de 2021, recuperando as perdas causadas pela pandemia do novo coronavírus, na esteira de uma expectativa de recuperação da economia e de crescimento econômico global por parte do mercado financeiro. 

    A situação, agora, é um pouco diferente do que os investidores imaginavam para o ano que sucede o início da crise.

    “Quando olhamos para a Vale e a Petrobras, as duas seriam duas grandes candidatas a ter uma performance acima da média do mercado por conta da expectativa de crescimento global”, afirma Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos. “Obviamente que isso não acontece de maneira linear, então o mercado iria se questionar diariamente sobre o preço das commodities. O petróleo tem se valorizado muito nos últimos meses, o minério de ferro já vem subindo desde o ano passado, e a única dúvida do investidor seria a volatilidade das ações enquanto o mercado encontraria um ponto de equilíbrio entre oferta e demanda”, explica. 

    Nos resultados do quarto trimestre de 2020, tanto a Vale quanto a Petrobras apresentaram lucros satisfatórios —a mineradora teve um lucro líquido de US$ 739 milhões, e o da petrolífera foi o maior trimestral da história das empresas de capital aberto, segundo a consultoria Economatica.  

    Mas as expectativas para 2021 podem não ser tão positivas quanto os investidores imaginaram há dois meses, quase como uma promessa de ano novo que pode não dar certo. “Neste momento, no curto prazo, há todo um estresse no mercado questionando os pontos sobre a expectativa do crescimento econômico. O mercado hoje questiona o modelo de atuação do Fed [banco central dos EUA], se ele vai persistir ou não, principalmente pela suspeita de uma inflação mais forte”, diz Villegas.

    Os resultados positivos da Petrobras e da Vale para o final de 2020 brilharam os olhos dos investidores e garantiram, pelo menos por enquanto, uma certa estabilidade para as companhias brasileiras, em especial na mineradora. O problema é saber quanto tempo isso vai durar. 

    O futuro da Petrobras 

    Segundo o banco de investimentos UBS, por exemplo, as ações da Petrobras podem chegar a R$ 31 nos próximos 12 meses, o que representa uma alta de cerca de 33% em comparação com o valor de fechamento da quinta-feira (25).  

    A gestora de fundos Mirae Asset classifica as ações da Petrobras como “neutras”, uma vez que a situação da estatal, por conta das mudanças na presidência da companhia e a interferência política do governo, pode variar muito nos próximos meses. “O que fica é a expectativa da nova gestão no contexto atual e eventual contaminação política no quadro de funcionários”, diz o relatório da gestora.  

    Para o analista Pedro Galdi, o resultado reportado no quarto trimestre superou a expectativa, mas a recomendação para não comprar nem vender se mantém “até termos notícias sobre a métrica de precificação de preços dos combustíveis” — tema que deve permanecer instável por algum tempo depois de o general Joaquim Silva e Luna assumir o controle da empresa.  

    “O resultado reportado no quatro trimestre superou a expectativa, em meio à saída do CEO”, diz Galdi. “A estatal teve como destaque a comunicação da aprovação do conselho de administração, em reunião realizada ontem, da remuneração aos acionistas sob a forma de dividendos no valor de R$ 10,3 bilhões, equivalente a R$ 0,787446 por ação ordinária e preferencial em circulação, com base no resultado anual de 2020. O pagamento será realizado em 29 de abril de 2021”, finaliza.  

    Em entrevista recente ao CNN Business, o economista Paulo Feldmann, professor associado da Faculdade de Economia e Administração da USP e pesquisador na Universidade Fudan, na China, afirmou que os resultados do congelamento dos preços dos combustíveis e da nova gestão podem ser sentidos no balanço final para o ano de 2021.  

    Segundo ele, o congelamento também fará com que acionistas minoritários briguem pela possível redução do lucro da empresa e potencial risco de endividamento, já que a estatal pagará mais caro pela matéria-prima sem poder repassar o valor para os consumidores. “Além de importar, a Petrobras também exporta. Se ela focar na exportação, pode ganhar muito mais dinheiro do que vendendo no Brasil com essa nova política. Então, a companhia não vai querer vender localmente, se ela pode exportar e ganhar muito mais lá fora”, diz. 

    Para Villegas, a Petrobras agora embute em si mesma o chamado risco-Brasil, e toda a situação política gerou uma desconfiança no mercado. “Hoje, além de ela ser influenciada pelas questões internacionais, ela tem um fator de risco adicional. O bom andamento dela vai depender do andamento da agenda de reformas no Brasil e de uma boa comunicação entre governo e o mercado, em todas as atitudes, e menos intervencionismo”, diz. 

    Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, discorda. Para ele, apesar de toda a turbulência causada no mercado nesta semana, a Petrobras tem tudo para se recuperar e se manter em alta nos próximos dez meses. “Entendemos que a queda do valor de mercado foi um tanto quanto exagerada, mas várias incertezas ainda estão em nosso radar, principalmente sobre a nova gestão da companhia, sobre a política de preços e como ela se dará no futuro, mas a gente entende que as ações estão bem cotadas”, explica.

    Segundo Carvalho, a estatal tem “a vantagem de ser um monopólio de petróleo no Brasil e de ter um portfólio expandido, atendendo diversos países no mundo”. Por isso, para ele, 2021 deve ser um bom ano para a companhia. Carvalho ressalta que o programa de desinvestimento que vem sendo realizado pode ajudar a diminuir o endividamento da companhia. “Apesar de todas as incertezas, nós entendemos que a empresa está bem no atual patamar. A gente a vê com bons olhos. Os resultados foram muito bem vistos e se mostraram bastante resilientes”, afirma. “Se o petróleo continuar em alta, isso pode impactar positivamente a companhia, mas devemos sempre monitorar como os recentes acontecimentos podem vir a atrapalhar o futuro da Petrobras. Tudo isso é mais um detalhe a ser monitorado de perto”, afirma. 

    Vale a pena? 

    Logo da Vale
    Foto: Washington Alves / Reuters

    O banco Safra recomenda a compra das ações da Vale, especialmente pelo potencial da empresa de dobrar o rendimento de dividendos e pelo fechamento dos acordos referentes ao rompimento da barragem de Brumadinho, que aconteceu em janeiro de 2019.

    “Mantemos nossa classificação de outperform e postura positiva em relação à Vale, pois esperamos que a empresa continue a se beneficiar de preços favoráveis do minério de ferro, que devem suportar uma boa geração de caixa, abrindo espaço para bons pagamentos de dividendos”, explica o banco. 

    A mesma recomendação é feita pela Mirae Asset. “O resultado foi bom e operacionalmente confirmou a nossa expectativa. A empresa confirmou as parciais do acordo com o governo de MG e deverá honrá-lo ao longo dos próximos anos. Anunciou remuneração aos acionistas de R$ 4,2623 por ação”, afirma Galdi.  

    O banco Santander define os resultados da mineradora como “acima do consenso e 8% acima das estimativas”. “Esperamos uma reação positiva do preço das ações a esses resultados e mantemos nossa classificação de compra (Top Pick) para as ações da Vale”, diz o relatório do banco.  

    A compra das ações da companhia também é um consenso do banco Bradesco, que classificou os resultados para o quarto trimestre como “muito sólidos”. “As ações são negociadas a 3,3x EV / EBITDA 2021E, um nível atraente, em nossa opinião, considerando a retomada da produção de minério de ferro, espaço para dividendos substanciais e de-arriscar pós Brumadinho”, explica o Bradesco.  

    Carvalho, da Toro Investimentos, entende que 2021 pode ser um grande ano para a mineradora. “Os números da Vale foram muito interessantes. Um dos destaques foi a forte geração de caixa da companhia. O Ebitda foi o maior da indústria, quando comparado com as empresas concorrentes do mundo afora”, diz. “A empresa deve ter números robustos ao longo dos anos se o preço do minério se mantiver em alta e, se o câmbio for bom, a tendência é de bons resultados para a Vale”, afirma.

    Para ele, os programas de desinvestimentos da Vale também devem ser grandes impulsionadores para bons resultados em 2021. “A gente entende que a Vale está bem posicionada e aempresa deve surfar em 2021 com a alta da demanda por minério —o ano será de boa resiliência para o setor como um todo”, completa. 

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