Para mercado financeiro, timing da saída de Mansueto é ‘horroroso’
A preocupação é que a saída seja entendida pelos investidores como um sinal de que a política econômica está indo para um rumo não desejado
A notícia do pedido de demissão do secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, trazido pelo colunista Igor Gadelha, foi muito mal recebida pelo mercado financeiro. “O timing é horroroso, não poderia ser pior”, diz um grande gestor de fundos de investimento. Para ele, o desejo de Mansueto em deixar o cargo não é algo novo, porque essa hipótese já havia sido sinalizada no ano passado. O problema, diz o gestor que pediu anonimato, é que o momento econômico é muito delicado e a equipe econômica precisaria, hoje, mostrar unidade e coesão. E a saída de Mansueto indica o contrário.
A grande preocupação do mundo financeiro concentrado na região da avenida Faria Lima, em São Paulo, é que a saída do secretário do Tesouro Nacional seja entendida pelos investidores como um sinal de que a política econômica, especialmente a fiscal, está indo para um rumo não desejado. Mansueto sempre foi um forte defensor do ajuste das contas públicas. Por isso, diz o economista-chefe de um banco, é importante que a equipe de Paulo Guedes traga a informação da saída de “maneira adequada”. “É importante controlar essa narrativa”, resume.
Manuseto é muito respeitado no mercado financeiro. Analistas e economistas o consideram técnico competente e um nome que não se contamina pelo ambiente político. Por essas mesmas características, o secretário do Tesouro também é muito respeitado no Congresso Nacional. É considerado um bom interlocutor do Ministério da Economia com o mercado financeiro e o Parlamento.
Outra característica importante do secretário é a de trazer a equipe de Guedes para “a realidade”. Como conhece profundamente o funcionamento da máquina pública, cabe ao secretário muitas vezes servir de conselheiro a Guedes que não tem longa experiência no setor pública. Na equipe econômica, muitos dizem que cabe a Mansueto informar a Guedes se “dá ou não dá” para executar as ideias do ministro.
Apesar de Mansueto ter informado ao ministro Guedes que pretende ocupar um cargo na iniciativa privada, o noticiário das últimas semanas revelou diferenças importantes entre o que Mansueto pensa e os rumos do governo federal, principalmente no auxílio emergencial pago aos brasileiros mais vulneráveis que sofrem com a pandemia.
Desde abril, o secretário do Tesouro menciona que o governo não tem dinheiro para estender o programa. Semanas depois, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que os pagamentos podem ser estendidos em dois meses. Em 19 de maio, o secretário disse que era impossível tornar esse auxílio emergencial em um programa permanente. Semanas depois, o ministro da Economia e chefe de Mansueto anunciou a intenção de reempacotar o Bolsa Família com inclusão de brasileiros que estão no auxílio emergencial e transformar o programa no “Renda Brasil”.