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    Opções para chinesa endividada Evergrande vão de estatização a desmembramento

    As ações da Evergrande despencaram quase 12% na sexta-feira (24) em Hong Kong, revertendo a recuperação apresentada no dia anterior

    Laura Hedo CNN Business

    O destino da desenvolvedora chinesa Evergrande permanece em aberto depois que o prazo chegou e passou na quinta-feira (23), sem uma atualização da empresa sobre seus planos para pagar quase US$ 84 milhões de juros devidos aos acionistas.

    Os investidores podem ter que esperar um pouco mais para descobrir se a Evergrande vai dar o calote em suas enormes dívidas — ela agora tem um período de carência de até 30 dias para o primeiro pagamento do título. Um segundo pagamento de US$ 47,5 milhões em outro título vence na próxima semana.

    As ações da Evergrande despencaram quase 12% na sexta-feira (24) em Hong Kong, revertendo a recuperação apresentada no dia anterior com a notícia de que a empresa pagaria juros sobre outro título emitido em yuans para investidores da China continental. Até agora, somente neste ano, as ações despencaram 80%.

    Preenchendo o vácuo de informações, está a especulação de que o governo chinês terá de intervir para limitar as consequências que seriam causadas pelo colapso de um dos maiores conglomerados imobiliários do país.

    Pequim tem poucas opções boas. A capital vai querer proteger milhares de chineses que compraram apartamentos inacabados, trabalhadores da construção, fornecedores e pequenos investidores, bem como limitar o risco de outras empresas imobiliárias falirem. Ao mesmo tempo, ela vem tentando há pelo menos um ano conter o endividamento excessivo por parte dos desenvolvedores e não quer diluir essa mensagem.

    Especulações sobre uma estatização — a nacionalização efetiva da empresa — foram alimentadas quinta-feira depois que um site de notícias financeiras regionais, Asia Markets, relatou que o governo chinês estava finalizando um acordo para reestruturar Evergrande com o apoio de empresas estatais (SOEs).

    Citando fontes anônimas próximas ao governo da China, o site disse que o plano iria dividir a Evergrande em três entidades separadas, e que a reestruturação poderia ser anunciada em alguns dias.

    A Evergrande e o principal regulador da China para empresas estatais não responderam aos pedidos da CNN Business para comentar o artigo.

    Mas os analistas já estão avaliando a possibilidade da Evergrande ser nacionalizada.

    “Muito provavelmente o governo terá que injetar capital na companhia para que ela possa continuar a construção e, em seguida, vender unidades de propriedade residencial para obter dinheiro para pagar as dívidas”, disse Iris Pang, economista-chefe da Grande China do ING. “Com capital do governo, é provável que Evergrande possa se tornar [uma] estatal ou se tornar parte das estatais que podem injetar capital em Evergrande”, acrescentou ela.

    Boas notícias a curto prazo?

    Isso seria uma boa notícia para Evergrande, para os mercados financeiros e para a economia no curto prazo.

    A empresa está sofrendo com o peso de cerca de US$ 300 bilhões em passivos totais, e alguns analistas temem que um colapso desordenado possa desencadear o momento “Lehman Brothers” da China ao enviar choques através do sistema financeiro e da economia.

    O mercado imobiliário e os setores relacionados representam cerca de 30% do PIB chinês.

    Para a Evergrande, tornar-se uma estatal ajudaria a restaurar a confiança entre os compradores de casas, disseram Stephen Cheung e Calvin Leung, analistas de ações da Jefferies em Hong Kong, em um relatório. A empresa vendeu 200 mil unidades habitacionais que ainda não foram entregues aos compradores, de acordo com uma análise recente do Bank of America.

    A medida também “aliviaria a pressão de liquidez a curto prazo” para a empresa, ao mesmo tempo em que tornaria mais fácil realizar uma reestruturação da dívida com detentores de títulos domésticos e estrangeiros, disseram eles.

    Além disso, daria ao governo chinês um controle ainda maior sobre o vasto mercado imobiliário. Seis das dez maiores incorporadoras imobiliárias do país são estatais ou apoiadas por investidores estatais. Evergrande, então, se tornaria a sétima.

    ‘Fim do começo?’

    Mas mesmo se Evergrande for nacionalizada, as preocupações de longo prazo sobre a desaceleração do setor imobiliário na China provavelmente persistirão. E esse é um risco maior para a economia chinesa no médio prazo.

    De acordo com o National Bureau of Statistics, as vendas de casas despencaram quase 20% em agosto em relação ao ano anterior — a maior queda desde fevereiro de 2020, quando a China bloqueou cidades e impôs medidas drásticas para conter o coronavírus. O investimento imobiliário aumentou apenas 0,3%, em comparação com 1,4% em julho, marcando o sexto mês consecutivo de desaceleração do crescimento.

    “A demanda por moradias urbanas recém-construídas está entrando em uma era de declínio estrutural prolongada”, disse Julian Evans-Pritchard, economista sênior da Capital Economics para a China, na quinta-feira.

    Essa demanada está diminuindo por vários motivos. O número de casamentos despencou 40% desde 2013, reduzindo a demanda de casais recém-casados. E o crescimento da população urbana diminuiu.

    Isso significa que “os desenvolvedores estarão competindo por um bolo cada vez menor”, disse Evans-Pritchard.

    “O ambiente para os incorporadores ficará muito mais desafiador. O colapso da Evergrande marca o fim do início do aperto que enfrenta o setor imobiliário da China, e não o começo do fim” , acrescentou.

    Assumir o controle da Evergrande também se encaixaria em um padrão recente de maior intervenção na economia chinesa.

    Pequim vem reprimindo a iniciativa privada, de empresas de tecnologia a mensalidades privadas e até mesmo influenciadores de mídia social, enquanto tenta esfriar o superaquecido setor imobiliário.

    Pang, do ING, acredita que a repressão do governo contra a propriedade e outras indústrias pode prejudicar a economia.
    “As políticas governamentais recentes não visam colocar as empresas em problemas de endividamento. Mas eu concordo que muitas políticas serão lançadas em um curto período de tempo. Os riscos das políticas estão aumentando e podem prejudicar os funcionários e, portanto, o consumo”, disse ela.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).