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    O que você precisa saber sobre a mudança de privacidade da Apple no sistema iOS

    A alteração marca o início de um futuro mais transparente aos usuários da Apple; Facebook alertou investidores que as mudanças podem prejudicar seus negócios

    O celular iPhone, da Apple
    O celular iPhone, da Apple Foto: Tatyana Makeyeva/Reuters (28.set.2019)

    Samantha Murphy Kelly, CNN Business 

    A Apple lançou um recurso nesta segunda-feira (26) que representa uma grande mudança na privacidade de seu sistema operacional. Agora os usuários do sistema iOS podem decidir se querem ou não vender ou disponibilizar seus dados pessoais (como idade hábitos de consumo e informações de saúde) para empresas e agências de publicidade digital.  

    Embora muitos aplicativos permitam que as pessoas gerenciem os seus dedos ou vetem essa exposição, normalmente essas configurações se perdem nos prolixos termos de políticas de privacidade.

    O novo recurso App Tracking Transparency, agora disponível como uma atualização de software iOS 14.5, dará início a uma nova onda de conscientização sobre privacidade, agora que solicitações de rastreio chegarão por meio de aplicativos. Ou seja, pessoas que nunca pensaram ser rastreadas agora saberão.

    Torna-se obrigatório que os desenvolvedores perguntem através de um alerta pop-up se eles podem “rastrear sua atividade em aplicativos e sites de outras empresas”. As pessoas que optarem pela exclusão verão menos anúncios personalizados e quem autorizar, fica a cargo do desenvolvedor do aplicativo controlar a aparição do anúncio. O usuário pode mudar de ideia quando quiser, basta mudar a chave em “configurações”.

    Embora alguns dados possam ajudar os usuários a mapear corridas, marcar fotos ou rastrear locais como uma loja próxima que possa oferecer descontos, “alguns aplicativos têm mais rastreadores incorporados do que precisam”, disse a Apple em um vídeo postado no YouTube nesta segunda-feira (26).

    “Eles coletam milhares de informações sobre você para criar um perfil digital para que possam vender para outras pessoas. Esses terceiros usam seu perfil para direcioná-lo com anúncios e também podem usá-lo para prever e influenciar comportamentos e decisões.”

    O vídeo ainda diz que “isso tem acontecido sem o seu conhecimento ou permissão. Suas informações estão à venda. Você se tornou o produto”. O esforço da Apple incomodou algumas empresas que lucram com publicidade personalizada. O Facebook, que obtém quase toda a sua receita de publicidades, alertou os investidores em agosto que as mudanças no software da Apple podem prejudicar seus negócios se as pessoas começarem a recusar o rastreamento.

    “O resultado é que as marcas com as quais realmente queremos compartilhar nossos dados podem não obtê-los mais, deixando de fornecer uma experiência hiperpersonalizada e contínua para o cliente”, diz Mike Audi, fundador e CEO da TIKI, serviço que permite aos usuários ver quais dados estão sendo usados e como as empresas os estão rastreando.

    Smartphone
    Aplicativos disponíveis em tela de smartphone
    Foto: Rami Al-zayat/Unsplash

    Em dezembro, o Facebook publicou anúncios no The New York Times, Wall Street Journal e Washington Post enquadrando suas objeções em torno de como a mudança pode causar danos “devastadores” a milhões de pequenas empresas que anunciam em sua plataforma, muitas das quais ainda estão lutando contra as consequências da pandemia.

    A empresa também realizou uma coletiva de imprensa para divulgar as pequenas empresas que se opõem à mudança e lançou uma nova hashtag para discuti-la. Já a Apple tem trabalhado para se posicionar como defensora da privacidade do consumidor, descrevendo as mudanças como contrárias à sua crença de que “a privacidade é um direito humano fundamental”.

    A Apple mudou em dezembro os “rótulos” dos aplicativos na App Store, que agora explicam quais dados do usuário são coletados e compartilhados, desde informações financeiras e de localização até histórico de navegação e compras.

    O impacto nos negócios

    Especialistas em dados dizem que grandes empresas como o Facebook e outras marcas conhecidas se adaptarão às mudanças, mas pequenas e médias empresas que não têm recursos, como equipes analíticas dedicadas e engenheiros, podem ter mais dificuldades para alcançar potenciais clientes.

    “Muitas pequenas empresas aproveitam o compartilhamento de dados para direcionar e medir anúncios no Facebook e Instagram”, disse Eric Schmitt, analista de diretor sênior da empresa de pesquisa de mercado Gartner. “É preciso dizer que os benefícios da publicidade digital para algumas dessas empresas diminuirão.”

    O Facebook tentou divulgar os benefícios da coleta de dados antes da mudança de privacidade da Apple. A empresa escreveu um post em fevereiro falando que “concordar com essas solicitações não resulta na coleta de novos tipos de dados pelo Facebook. Significa apenas que podemos continuar a oferecer às pessoas experiências melhores”.

    O Google anunciou mudanças em suas políticas de publicidade antes do novo recurso da Apple no início deste ano, alegando que não usará mais determinados identificadores para publicidade, como mostrar um anúncio de uma bicicleta que foi pesquisada anteriormente.

    “Estamos trabalhando muito para entender e cumprir as diretrizes da Apple para todos os nossos aplicativos na App Store”, disse a empresa na época.

    Vários estudos mostram que, quando há a oportunidade de cancelar a venda ou compartilhamento de seus dados, muitas pessoas seguem esse caminho. As empresas, claro, terão de se adaptar.

    “Estou confiante de que as empresas, especialmente o Facebook, ficarão bem depois que as funções de transparência de rastreamento de aplicativos forem eliminadas”, disse Daniel Barber, CEO da empresa de gerenciamento de dados DataGrill.

    “A mudança estimula a inovação. Espero que o Facebook, empresas de tecnologia de publicidade e quaisquer outras afetadas pela medida encontrem maneiras inovadoras de se comunicar com seus públicos”, completou.

    Barber também acredita que uma maior conscientização sobre a privacidade de dados pode colocar mais pressão sobre as autoridades governamentais para desenvolver um projeto de lei federal que possa proteger a privacidade do usuário.

    Ainda assim, a mudança do iOS da Apple marca o início de um futuro mais transparente, à medida que os consumidores ficarão ainda mais conscientes sobre como os aplicativos trabalham com seus dados.

    “A parte mais empolgante é que os usuários começarão a esperar e exigir mais controle sobre seus dados”, disse Audi. “A maneira mais rápida de fazer uma empresa mudar é irritando seus usuários.”

    (Esse texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)