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    Nasa vai comprar rochas lunares de quatro startups

    O objetivo principal do projeto seja deixar claro para o resto do mundo que a Lua não é apenas um lugar para exploração e pesquisa. É um lugar de negócios.

    Visão da Goclenius e de outras crateras da Lua
    Visão da Goclenius e de outras crateras da Lua Foto: NASA/JSC

    Jackie Wattles,

    da CNN Business, em Nova York

    Quanto vale uma rocha lunar? De acordo com novos contratos entre a Nasa e quatro startups, entre US$ 1 e US$ 15 mil.

    Em setembro, a Nasa prometeu comprar rochas lunares de empresas que levassem rovers à superfície lunar para colher amostras do terreno empoeirado. A agência espacial dos Estados Unidos pediu propostas de empresas do mundo todo. Os vencedores foram revelados na quinta-feira (3): a Masten, com sede na Califórnia, a Lunar Outpost, do Colorado, ambas nos EUA, e duas empresas distintas chamadas iSpace — uma do Japão e outra de Luxemburgo.

    O programa, que a Nasa espera concluir até 2024, mesmo ano em que a agência espera levar astronautas novamente à Lua, está entre os mais singulares da história dos EUA. O objetivo não é obter novas informações sobre a composição do solo lunar ou estudar como vários recursos lunares podem ser usados. Na verdade, a meta é incentivar o setor privado a investir no desenvolvimento de rovers.

    Além disso, possivelmente o objetivo principal do projeto seja deixar claro para o resto do mundo que a Lua não é apenas um lugar para exploração e pesquisa. É um lugar de negócios.

    A Nasa pode ser a única organização atualmente no mercado para a compra de rochas lunares de empresas privadas, mas a agência espacial permitiu que as empresas dessem seu preço. A Lunar Outpost prometeu vender sua amostra por apenas US$ 1, de longe o menor lance. Ambas as empresas iSpace planejam vender suas amostras por US$ 5 mil, e a Masten venderá sua coleção por US$ 15 mil.

    Ainda não está claro se alguma das empresas terá sucesso com seus esforços. A Nasa disse que só pagará 10% do preço total da compra com antecedência. E, sim, a Nasa pretende enviar um cheque de 10 centavos para a Lunar Outpost, de acordo com Phil McAlister, diretor de desenvolvimento de voos espaciais comerciais da Nasa. As empresas receberão outros 10% após o lançamento de seus rovers no espaço, e os 80% finais serão pagos depois que as empresas provarem à Nasa que seus rovers realmente coletaram amostras de solo lunar entre 50 e 500 gramas, ou até cerca de um quilo quando pesados na Terra.

    A jornada até a Lua não é fácil. As empresas terão de pagar por uma viagem em um foguete que possa levar seus rovers até a Lua, e precisarão de um módulo lunar que possa transportar os rovers até a superfície lunar. Entretanto, se os rovers chegarem lá, as empresas não serão obrigadas a trazer as amostras de solo que coletarem de volta à Terra. McAlister disse que também não está claro se a Nasa planeja trazê-los para casa, porque esse não é o ponto do programa.

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    “Achamos que é muito importante estabelecer o precedente de que entidades do setor privado podem extrair esses recursos e a Nasa pode comprá-los”, contou o executivo da Nasa Mike Gold a repórteres na quinta-feira (3).

    Não está exatamente claro qual o incentivo econômico para as quatro empresas inscritas no novo programa de recursos lunares da Nasa, mas todas já estão desenvolvendo várias tecnologias de exploração lunar.

    A Masten, por exemplo, tem um contrato de US$ 75,9 milhões com a Nasa através de um programa diferente, apelidado de CLPS, para entregar suprimentos à Lua em 2022 usando seu módulo lunar XL-1.

    É “grande o impacto das notícias de hoje, de que a Nasa está comprando poeira da Lua da Masten, pois se trata de eliminar incertezas e riscos que tornam a atividade econômica fora da Terra muito arriscada”, dizia um tweet postado na conta da empresa. “A compra de regolito lunar de hoje é pequena se medida em dólares, mas gigantesca se medida em termos do impacto no desbloqueio do valor do espaço para a humanidade”.

    A Lunar Outpost também tem um contrato separado com o Departamento de Defesa para seu rover lunar, chamado MAPP, que foi projetado para examinar a superfície lunar usando instrumentos científicos.

    A empresa também descreveu seu interesse no programa de recuperação de recursos — e sua oferta de US$ 1 — como um trampolim para oportunidades de negócios extraterrestres.

    “A Nasa e a Lunar Outpost trabalharão em conjunto para iniciar o processo de desenvolvimento do arcabouço legal e logístico para futuros contratos de aquisição de recursos espaciais”, afirma a empresa em um comunicado à imprensa.

    Isso será fundamental para estimular investimentos em exploração espacial, de acordo com a Nasa. Além disso, em última análise, aprender a usar recursos lunares para sustentar uma presença humana permanente na Lua, que é o objetivo declarado do programa Artemis da Nasa.

    A Lua, satélite natural da Terra
    A Lua, satélite natural da Terra
    Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

    Por que vender rochas lunares

    Os Estados Unidos deixaram claro nos últimos anos que pretendem criar uma economia extraterrestre, que depende tanto da criação de uma presença do setor privado no espaço sideral quanto do cumprimento de metas de ciência e pesquisa. Mas os planos de se extrair recursos da Lua são controversos.

    Alguns cientistas temem que a atividade comercial excessiva possa contaminar ou destruir áreas da Lua que poderiam fornecer pistas essenciais sobre como a Lua (e a Terra) foram formadas.

    No início deste ano, Stuart Clark, phD em astronomia, lamentou na revista britânica Science Focus que a mineração de recursos lunares poderia levar a uma “corrida do ouro” alimentada por uma “mentalidade de o vencedor leva tudo”, na qual os cientistas perderão “valiosas pistas geológicas”.

    “Poucos países, ao que parece, estão dispostos a abrir mão de seus lucros para o bem comum”, escreveu ele.

    Outros argumentam que a comercialização da exploração espacial pode representar ganhos para todos os lados.

    “É importante que encontremos um equilíbrio, avançando juntos de uma maneira que permita a economia [lunar] e a ciência”, disse Clive Neal, professor de engenharia da Universidade de Notre Dame. “No meu ponto de vista, se olharmos para os recursos lunares tanto como ativos para a ciência como para a exploração e para a participação comercial, todos ganham porque os conjuntos de dados que precisamos são praticamente os mesmos”.

    Deve-se salientar que o programa de extração de recursos da Nasa envolverá a escavação de pequenas quantidades da superfície lunar.

    O uso dos recursos

    Além de estudar o solo lunar para fins científicos, os pesquisadores esperam que os recursos encontrados na Lua possam ajudar a fornecer apoio para futuros astronautas vivendo e trabalhando em um posto avançado lunar. O gelo de água da Lua, por exemplo, pode ser convertido em água potável.

    O gelo também pode ser transformado em combustível para foguetes, que poderia ser usado para alimentar missões mais distantes no sistema solar. Alguns pesquisadores também têm esperança de que o Hélio-3, uma versão de hélio que é rara na Terra, mas abundante na Lua, possa ser usado para produzir grandes quantidades de energia através da fusão nuclear.

    Ainda assim, muitos especialistas estão céticos quanto à ideia de que essas oportunidades podem atrair (e sustentar) o interesse do setor privado.

    Alice Gorman, uma das principais especialistas em arqueologia espacial do mundo, argumentou em uma entrevista recente à revista digital “Space Watch Global” que nos Estados Unidos há muito “otimismo injustificado, dados os desafios técnicos de se extrair e usar recursos na Lua”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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