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    Não é só o arroz: dólar e home office deixam TV, game e até livro mais caros

    Eletrônicos, internet, instrumentos musicais, bicicleta, livros e até colchão estão entre os itens que mais encareceram neste ano, de acordo com dados do IPCA

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A pandemia causou uma reviravolta não só na renda mas também nos hábitos das pessoas, e isso começa a aparecer com clareza nos dados de inflação do país. 

    O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, divulgado nesta quarta-feira (09), ainda segue rodando bastante abaixo de 2,5% ao ano, o que segue sendo uma das inflações mais baixas já registradas em mais de duas décadas no país

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    Notas de dinheiro
    Notas de dinheiro
    Foto: Marcos Santos / USP Imagens

    Ainda assim, essa cara de preços comportados está acontecendo de maneira bem desigual, o que pode explicar a sensação das pessoas de que tem muita coisa nas prateleiras ficando mais caras mesmo com a média oficial dizendo o contrário (veja ao fim a tabela com os itens que mais subiram e os que mais caíram no ano). 

    De um lado, há um grupo enorme de itens que estão com os preços despencando. É o caso notório dos serviços. 

    O preço das refeições em bares e restaurante, por exemplo, subiu apenas 0,13% desde o começo do ano, mesmo com valor dos alimentos disparando nas últimas semanas. Costureiras estão 1,3% mais baratas e o preço do corte de cabelo caiu 0,7%, na média. Mensalidades de escolas e faculdades também começam o segundo semestre em liquidação: só em agosto, caíram 4,4%. 

    Do outro lado, há produtos que estão subindo com uma força fora do normal para um país que sofre sua pior recessão em mais de um século. É o caso, primordialmente, dos alimentos, que começam a refletir nas prateleiras dos supermercados daqui a alta do dólar e das exportações

    A lógica é simples: os produtores de arroz, leite ou carnes estão conseguindo vender seus produtos por valores altíssimos para o resto do mundo, então quem quiser comprá-los aqui tem que cobrir a oferta. Na média, os alimentos vendidos do supermercado já subiram 6% desde janeiro, enquanto a inflação geral, nesse mesmo período, foi de apenas 0,7%. O arroz subiu 19% e o feijão fradinho 36%.

    É o que está acontecendo também com eletrônicos e com alguns materiais de construção. Computador e tijolo, com altas de 17% cada um, estão entre os maiores reajustes do ano, se forem desconsiderados os alimentos. 

    É uma lista curiosa em que aparecem ainda vários itens bastante ligados a hábitos caseiros, em um mundo onde todos foram obrigados a ficar mais em casa: TV, videogame, internet, instrumentos musicais, bicicleta, livros e até colchão são outros artigos com altas fortes no ano. Todos eles tiveram reajustes superiores a 4% desde janeiro. 

    “Os bens estão tendo uma inflação muito maior do que a dos serviços, porque eles são produtos que podem ser vendidos em qualquer lugar do mundo, e sofrem muito mais influência da taxa de câmbio”, explica o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo. 

    “Não são como os serviços. O aluguel de um apartamento no Rio de Janeiro só pode ser consumido no Rio de Janeiro; então são itens que refletem diretamente a oferta e a procura do país.”

    É o caso dos alimentos: se não tem demanda aqui, o produtor pode procurar lá fora. É também o caso dos eletrônicos, em boa parte importados ou com peças importadas.

    Com alta de 13% desde janeiro, a inflação do grupo de eletrônicos (TV, Som e Informática) é uma das maiores do ano, o que contrasta com outros itens domésticos como geladeira (-1,9%) e móveis (-9,7%).

    “A inflação dos eletrônicos está também ligada à demanda aqui, porque são coisas que as pessoas usam em casa e é possível que estejam comprando mais”, disse Camargo. “Mas subiu 13%, sendo que a desvalorização do dólar foi de 40%. Quer dizer, ainda assim, nem toda a alta está sendo repassado.”

    Muita coisa em liquidação

    A boa notícia é que há diversas coisas ficando muito mais baratas. A má é que muitos são itens que as pessoas mal estão consumindo – justamente a razão pela qual estão caindo.

    Isso significa que as reduções deles agora acabam fazendo muito pouca diferença para o gasto final do mês. É o caso de passagens aéreas (-57%), transportes por aplicativo, como Uber (-23%), e hotéis (-8,4%).

    Móveis e roupas de todos os tipos (camisetas, blusas, bermudas, calças, vestidos, infantis, íntimas…) são outras categorias que estão com queda generalizada de preços no ano. Artigos ligados à escola, como mochila (-11%) e caderno (-7,4%), também estão na lista.

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