Na pandemia, construção e games ficam mais caros; roupa e passeio, mais baratos
No primeiro ano completo desde que a Covid-19 chegou ao Brasil, inflação teve de 5,2%, maior variação desde 2017
Em um ano desde que a pandemia de coronavírus chegou ao Brasil, a inflação se tornou rapidamente um dos principais desafios econômicos do governo, que, além da missão de reavivar a atividade e o emprego, precisa agora também se preocupar com aumentos de preços cada vez mais fortes nos últimos meses.
Divulgado nesta quinta-feira (11), o Índice de Preços ao Consumidor Amplos (IPCA) mostrou que a inflação oficial do país em 12 meses avançou para 5,2% em fevereiro, a maior variação desde janeiro de 2017.
Os resultados do IPCA mostram o comportamento médio dos preços no período que foi de março de 2020 a fevereiro de 2021, revelando, portanto, o primeiro retrato completo de um ano de pandemia no Brasil. O coronavírus teve sua primeira infecção confirmada no país no final de fevereiro do ano passado, e levou às primeiras medidas de isolamento em março.
Mais coisas subindo
Além de preços subindo mais rápido, o IPCA de fevereiro mostra também uma inflação mais generalizada: se, há um ano, pouco mais de 50% dos cerca de 400 itens acompanhamentos pelo levantamento estavam em alta, uma proporção natural para uma inflação sob controle, hoje esse número já está em 63%, de acordo com cálculos feitos pela corretora Genial Investimentos.
Alimentos e combustíveis, que estão ligados a produtos vendidos do mercado internacional e sofreram diretamente com o câmbio, estão entre as principais pressões deste ano. A gasolina, só em fevereiro, subiu 7%, de acordo com o IPCA, puxada pelas altas do petróleo e do dólar no mundo. Os alimentos, neste um ano de pandemia, têm alta de quase 20% nos supermercados, com alguns, como o arroz e óleo de soja, tendo subido mais de 70%.
Há para além deles, porém, dezenas de outros produtos que também completam o primeiro ano de pandemia muito mais caros do que começaram, muitos deles com altas que passam dos 10% (veja a tabela com as maiores altas e maiores baixas ao fim).
A lista é recheada, especialmente, de materiais de construção, que viram um aumento enorme na demanda após a entrada em circulação do auxílio emergencial no ano passado, e de eletroeletrônicos, impulsionados duplamente pelo dólar mais caro e pelo tempo maior das pessoas em casa.
Em um ano marcado pelo “home office”, os computadores ficaram 21% mais caros, mostra o IPCA, enquanto os videogames subiram 19%. O preço da televisão avançou 17%.
Tijolo (29%), hidráulica (24%), pisos (19%), cimento (16%) e telhas (15%) são outros itens que inundam a lista das 20 maiores altas da pandemia, já desconsiderados os alimentos.
O lado em liquidação
Há, porém, na outra ponta, uma espécie de realidade paralela da inflação em que o isolamento e o medo de sair seguem ditando o ritmo, e puxando os preços para baixo. É onde estão, por exemplo, as passagens aéreas e as viagens por aplicativo, como Uber e 99, que tiveram queda de 26% e 15% nos preços em um ano, respectivamente, e lideram as quedas do período.
A lista das maiores quedas também é repleta das mais diversas peças de roupas, que, na média, custam 0,4% menos do que em fevereiro do ano passado. Hotéis (-10%), cinemas (-2%), cabeleireiros (-0,4%) e casas noturnas (-0,4%) são outros serviços que, sem clientes, se viram obrigados a recorrer às promoções.
“Há toda essa outra parte da inflação que está andando muito devagar, puxada pelos serviços, que estão muito mais ligados ao desemprego alto e à dinâmica mais lenta do mercado doméstico”, disse a diretora de macroeconomia da Tendência Consultoria, Alessandra Ribeiro.
Veja a seguir as maiores altas e as maiores baixas dos últimos meses, desconsiderados os alimentos: