Mercado vê discurso “generalista” de Haddad sobre economia na Febraban; bolsa cai, dólar sobe
Um dos banqueiros presente em evento da Federação de Bancos avalia que governo eleito não tem time nem tem plano
O Ibovespa ampliou a queda após as falas de Fernando Haddad (PT), cotado para ministro da Fazenda do governo Lula, em almoço com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Nesta sexta-feira (25), o principal índice da bolsa brasileira encerrou em baixa de 2,55%.
Já o dólar encerrou com valorização de 1,84%, cotado acima dos R$ 5,40, sem trégua nas incertezas relacionadas ao rumo fiscal no país e à equipe ministerial do novo governo.
A avaliação de banqueiros que estiveram no almoço da Febraban é que o discurso de Fernando Haddad foi muito generalista e sem consistência suficiente para os banqueiros.
Um desses banqueiros avalia que o governo eleito não tem time nem tem plano, informa a analista de política da CNN Thais Arbex.
Haddad na mesa com banqueiros
Minutos antes do início do evento, Haddad se dirigiu ao salão principal, que recebe 350 convidados, e foi o centro das atenções. Foi cumprimentado por diversos executivos presentes, e muito assediado pela imprensa, conforme relato do analista do CNN Business Fernando Nakagawa.
Na mesa do almoço, Haddad estava sentado entre o presidente da Febraban, Isaac Sidney, e o presidente do conselho de administração do BTG, André Esteves. Nela, estão todos os principais executivos que comparecem ao evento.
Convidado principal
Cotado para ser o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad foi muito paparicado ao chegar ao almoço anual da Febraban. Haddad comparece como representante do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-ministro da Educação chegou por volta das 11h45 ao local do evento no bairro do Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo e foi direto a uma sala reservada. Lá, esteve por cerca de 20 minutos com a direção da Febraban e alguns dos principais executivos do setor, que participam do evento.
Discurso
Fernando Haddad (PT) fez um discurso de futuro ministro da Fazenda durante o almoço. “Minha vida mudou muito de terça-feira para ontem, agora falo em nome do presidente Lula”, afirmou, explicando porque estava ali.
Ele prometeu uma reforma tributária em 2023, começando pelos impostos sobre o consumo. E foi específico: a PEC 45, que unifica o ICMS. Também disse que vai revisar os gastos públicos, sem dar detalhes.
Mas não deu uma palavra sobre o principal tema hoje: a PEC do Estouro, que prevê a retirada de quase R$ 200 milhões do teto de gastos. Haddad disse apenas que “o que não dá é para o Brasil crescer 0,5% porque as tensões sociais se agravam”, e apresentou Lula como alguém que ouve a sociedade.
O tema era o mais aguardado pelos presentes no evento. Como relata o analista de economia da CNN Fernando Nakagawa, o público ficou “muito frustrado” com a ausência do tema no discurso.
A plateia estava esperando para saber – via Fernando Haddad como mensageiro de Lula – uma indicação de como o novo governo pretende resolver o grande problema de curtíssimo prazo que é a Pec da Transição, de como o governo vai pagar o Bolsa Família, já que não tem espaço no Orçamento. Essa expectativa foi absolutamente frustrada, já que não houve nada sobre isso.
Haddad chegou a ironizar e chamou de PEC do Estouro ou PEC Kamikaze o pacote pré-eleitoral aprovado pelo Congresso para tentar turbinar a candidatura de Jair Bolsonaro. “Não sei como vocês do mercado chamam, mas aquilo deseducou.” E ainda disse que o orçamento do atual governo foi mal feito.
Mas o foco do discurso do Haddad foi o que o governo pretende fazer a partir de janeiro, e citou muito o “diálogo” e “estabelecer pontes”.
Reforma tributária
Em nome do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro Fernando Haddad defendeu a harmonia entre os poderes e destacou que a reforma tributária será a prioridade do primeiro ano do novo Governo.
Haddad havia recusado um convite de participar do evento, mas acabou aceitando o pedido de Lula para representá-lo, já que o presidente eleito ainda se recupera de uma cirurgia.
O ex-ministro destacou que logo nos primeiros meses de governo, o foco será a reforma tributária para melhorar a qualidade da receita, com um segundo momento direcionando as energias para uma reforma dos impostos sobre renda e Patrimônio.
Haddad afirmou ainda que é preciso virar a página da guerra que se estabeleceu entre a Presidência, governadores, prefeitos e os demais poderes. Ele destacou ainda que Lula nunca viu incompatibilidade entre o social e o fiscal.
Por outro lado, Haddad disse que não foi ao evento falar sobre a PEC que coloca o Bolsa Família fora do teto de gastos. Haddad evitou ainda falar sobre a possibilidade de indicação ao Ministério da Fazenda.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Melo, também discursou, deu um panorama da situação do Brasil nos últimos anos e defendeu a manutenção das reformas e a coerência fiscal. Antes, discursou o presidente da Febraban, Isaac Sidney, que garantiu que os bancos irão contribuir para a governabilidade.
*Com informações de Thais Arbex, Raquel Landim, Fernando Nakagawa e Matheus Meirelles