Mercado passa a projetar manutenção da Selic em setembro após Copom, diz pesquisa
Maior parte dos entrevistados viu a alta de 0,5 ponto percentual em agosto como a última do ciclo, com um comunicado mais leve que o esperado
O mercado financeiro mudou de posição após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de agosto, e passou a projetar uma manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% na reunião de setembro, segundo uma pesquisa da corretora BGC Liquidez.
A pesquisa entrevistou 139 agentes de mercado, divididos entre economistas, investidores e gestores de fundo. Desse total, 40% consideraram o comunicado do Copom pós-reunião mais dovish, ou leve em relação ao combate à inflação. Para 32%, o texto veio em linha com o esperado.
A corretora destaca que “economistas ficaram muito mais surpresos para o lado dovish do que traders/gestores”, com 57% indicando um tom mais brando. Já dentre o segundo grupo, 33% tiveram essa posição.
Com essa perspectiva, 51% dos entrevistados passaram a projetar uma Selic inalterada em 13,75% na reunião de setembro, ou seja, consideram que o ciclo de alta de juros terminou em agosto. Para 48%, o ciclo continuará com mais uma alta de 0,25 p.p. Antes da reunião, 51% esperavam uma nova elevação, e 44% previam manutenção.
Na divisão por área de atuação, a mudança de perspectiva envolveu principalmente os investidores e gestores, com 51% apostando na manutenção. Entre economistas, 39% projetam uma Selic inalterada, e 61%, uma alta de 0,25 p.p.
Para as reuniões seguintes, de outubro e de dezembro, o mercado reforçou as apostas em uma manutenção da taxa Selic. Antes do Copom de agosto, 87% tinham essa posição para outubro e 95% para dezembro. Agora, são 90% e 96%, respectivamente.
A mudança de projeção para setembro também levou à alteração na projeção majoritária para a taxa final de juros em 2022. Antes da reunião de agosto, 39% esperavam uma taxa final de 14%. Agora, são 38%, enquanto 48% esperam uma Selic terminal de 13,75%.
A pesquisa também mediu as projeções para as reuniões do Copom em 2023. Não houve alteração significativa nas apostas, com a maioria ainda esperando manutenção da Selic em fevereiro, março, maio e junho e cortes de 0,5 p.p. em agosto, setembro, novembro e dezembro. Com isso, a projeção para a Selic terminal para o próximo ano foi mantida em 11,5%.
Em comunicado, o Copom deixou a porta aberta para mais uma alta, de menor magnitude, em setembro.
“O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião. O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas”, diz.
O comunicado também indica que o BC começa a olhar para 2024 como parte do horizonte relevante para a tomada de decisões.
“Notou-se que as projeções de inflação para os anos de 2022 e 2023 estavam sujeitas a impactos elevados associados às alterações tributárias entre anos-calendário. Assim, o Comitê optou neste momento por dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária”, afirma.