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    LGBTQIA+: apesar de conquistas, desemprego na comunidade pode chegar a 40%

    Transtornos de ansiedade e pânico são comuns por conta da violência sofrida ao longo dos anos, segundo especialista

    Mylena Guedes,

    da CNN, no Rio*

    “E se eu não conseguir um emprego?” Esse foi o primeiro questionamento de Luna Maria Oliveira Mendes da Silva, de 19 anos, antes de assumir que é uma mulher transexual. Hoje, depois de passar por outros quatro trabalhos, a jovem atua como consultora de vendas no Rio de Janeiro e foi aprovada na UFRJ para o curso de Ciências Sociais. Mineira, ela se mudou para a capital fluminense no ano passado, em busca de melhores condições de vida. 

    A preocupação de Luna também é a de muitas pessoas transexuais, que não se identificam com o gênero que nasceram, e da comunidade LGBTQIA+. Apesar de alguns direitos conquistados ao longo do tempo, elas enfrentam o preconceito contra quem está fora do padrão e estereótipo heteronormativo. 

    Luna Maria da Silva
    Luna Maria da Silva atua como consultora de vendas no Rio de Janeiro e foi aprovada na UFRJ para o curso de Ciências Sociais
    Foto: Arquivo pessoal

    A Aliança Nacional LGBTQIA+ estima que o desemprego pode chegar a 40% na comunidade e até 70% na população trans durante a pandemia. Para se ter uma ideia, a falta de ocupação na população geral ficou em menos da metade desse valor, 14,7% no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 

    No caso de Luna, segundo ela, todos os empregos que conseguiu no interior de Minas Gerais foram “na sorte”, por pessoas que já a conheciam antes da transição. Na segunda lanchonete em que trabalhou, a jovem diz que ouvia incontáveis piadas de mau gosto e risadas por ser trans. Em uma ocasião em que foi entregar um lanche, um homem tentou assediá-la. No mesmo momento, a ex-patroa defendeu Luna e proibiu que ele frequentasse o local. 

    “Antigamente, eu tinha medo de me posicionar, ficava triste, chorava, me sentia culpada. Quando fui babá, houve muita polêmica na cidade, todo mundo comentava, mas a criança não via maldade, gostava de mim. Atualmente, ouvi no trabalho que nunca vou conseguir ser uma mulher. Eu gosto de conquistar o meu dinheiro, ter as minhas coisas, ser financeiramente estável e vou lutar por isso”, disse a jovem, que com o salário do primeiro trabalho conseguiu comprar os hormônios para a transição.

    À CNN, a psicóloga Alethéa Vollmer, mestre em Ciências Criminais pela PUC-RS, ressalta que há muitos impactos mentais para a comunidade por conta das diversas violências sofridas, como transtornos ansiosos e de pânico.  Ela aponta que, somente em 2018, a Organização Mundial da Saúde retirou a transexualidade da lista de doenças e distúrbios mentais. 

    “A transexualidade foi retirada do Código Internacional de Doenças (CID), mas não foi tratada na sociedade de uma forma em que a população entendesse que essas pessoas são iguais a todos. Essa geração tem um grupo maior de apoio para ajudar na trajetória, mas ainda sofre o mesmo preconceito que a geração anterior, que teve que passar, por exemplo, por hospitais psiquiátricos ou igrejas para, teoricamente, serem salvas de um mal”, explicou. 

    A jovem Luna morou com a irmã gêmea, também trans, por cerca de oito meses na Casa Nem, um local de acolhimento LGBTQIA+, na zona sul do Rio. Ela estudou para a prova do Enem por três anos seguidos e, na primeira vez, desistiu de prestar o exame porque não conseguiu se cadastrar com o nome social. O sonho de ser poliglota e aprender pelo menos três línguas estrangeiras segue intacto. Após finalizar o curso de Ciências Sociais, Luna pretende ingressar no jornalismo e, no futuro, ser correspondente internacional. Para ela, o conhecimento não tem limite. 

    Bandeira do orgulho LGBTQI+
    Bandeira do orgulho LGBTQIA+
    Foto: Jasmin Sessler/Unsplash

    De acordo com a empresária em RH Cláudia Danienne, o perfil profissional de cada um é que ditará a área de prestação de serviço e não se pode definir um setor específico para a comunidade.

    “Se eu achar que tem uma área, setor ou tipo de empresa que combina melhor com a comunidade LGBTQIA+, eu estarei sendo discriminatória. Temos que mudar a nossa forma de pensar na origem e não na causa. Se talentosa a pessoa for, comprometida, estudiosa, colaborativa, toda e qualquer oportunidade será bem desempenhada. E independente de gênero e orientação, seja da comunidade ou hétero, desenvolverá seu trabalho com excelência”, ressaltou.

    *sob supervisão de Pauline Almeida