Leite, batata e tomate sobem mais que 10% em abril; veja por que está tudo tão caro
Segundo especialistas, problemas climáticos foram o que mais contribuiu para esse cenário
O grupo alimentação puxou para cima a composição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, segundo dados divulgados na quarta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Índice desacelerou para 1,06% em abril, maior nível para o mês desde 1996 (1,26%). Entre os nove grupos de produtos e serviços que o compõem, a maior variação (2,06%) e o maior impacto (0,43 p.p.) vieram do grupo Alimentação e Bebidas.
Batata, leite, óleo de soja e farinha de trigo estão entre os que mais subiram.
Confira alguns alimentos que mais subiram em abril:
- Batata inglesa (18,28%);
- Morango (17,66%);
- Maracujá (15,99%);
- Couve-flor (13,25%);
- Leite longa-vida (10,31%);
- Tomate (10,18%);
- Abobrinha (9,31%);
- Óleo de soja (8,24%);
- Farinha de trigo (7,34%);
- Feijão carioca (7,10%);
- Carnes (1,02%).
Apesar de terem apresentado altas pequenas ou quedas em abril, alguns produtos se destacam pelos aumentos expressivos no acumulado de 12 meses. A cenoura, por exemplo, caiu 4,61% no mês; mas, no ano, já acumula alta de 178%.
Confira alimentos que mais subiram no acumulado de 12 meses:
- Cenoura (178,02%);
- Tomate (103,26%);
- Abobrinha (102,99%);
- Melão (82,46%);
- Morango (70,39%);
- Carnes (8,06%).
O que explica essas altas?
Segundo Matheus Peçanha, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os problemas climáticos foram o que mais contribuíram para esse cenário.
“Nós temos presenciado uma soma de problemas climáticos desde 2020”, afirmou Peçanha em entrevista à CNN.
Primeiro, o efeito La Niña perdurou ao longo do ano inteiro, culminando em uma inflação significativa nos preços dos alimentos e energia.
Logo depois, uma série de outros problemas climáticos apareceu. As geadas impactaram a produção de café, açúcar e pastos — prejudicando especialmente a pecuária.
Posteriormente, as fortes chuvas também prejudicaram os pastos (consequentemente interferindo na produção de carne e leite) e, especificamente, os hortifrútis.
O especialista ainda adiciona que, orbitando esses problemas, outros acontecimentos acabaram potencializando as altas: “os elevados preços do diesel encarecem o custo do frete; a guerra na Ucrânia aumenta os custos de fertilizantes e do trigo; o câmbio mais alto também acaba aumentando a exportação que, somados à demanda externa elevada de carne por parte da China, acabam reduzindo a oferta interna e subindo os preços”, explica.
“De modo geral, os custos estão sofrendo choques excessivos.”
Laticínios
Os laticínios como um todo – especialmente o leite longa vida – estão no topo da lista de alimentos com as maiores altas.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), o avanço do preço do leite ao produtor é consequência da diminuição da produção no campo que, por sua vez, está atrelado ao aumento dos custos de produção e ao período de entressafra.
“A menor disponibilidade de pastagens, devido à estação do ano, eleva os custos da alimentação do rebanho, o que provoca a alta sazonal dos preços do leite no campo. Contudo, neste ano, o encarecimento dos insumos produtivos tem corroído as margens do pecuarista leiteiro, limitando os investimentos na atividade e diminuindo o potencial de oferta”, afirma o instituto em nota.
Segundo Rodolfo Margato, economista da XP, esse aumento tem forte influência do mercado de carnes.
“Os preços das carcaças e preços futuros de carnes estão em máximas históricas. Temos visto produtores aumentando os abates de fêmeas – ou seja, aumentando o abate do gado leiteiro – tendo em vista essa alta. Isso também reduz a oferta de leite, pressionando os preços para cima, explica Margato à CNN.
Peçanha adiciona ainda que o aumento no preço dos grãos, somado à chuva em excesso, gerou um desinvestimento no setor de pecuária leiteira. Produtores estão se retirando desse mercado que está menos lucrativo, o que pode ser algo negativo no longo prazo.
Segundo ele, mesmo que os preços melhorem, até que esses produtores voltem para esse mercado, o consumidor continuará sentindo as consequências no bolso.
Melhora?
Sem previsão na diminuição no preço de combustíveis, no final das tensões geopolíticas internacionais e em meio a um cenário de inflação elevada, os preços dos alimentos devem continuar pesando para o consumidor.
Matheus afirma que, no curtíssimo prazo, não deve ter uma melhora tão rápida. “Agora, por exemplo, era para estarmos finalizando a maioria das safras, mas elas estão, em sua maioria, prejudicadas. Até começar a próxima safra, na primavera, devemos ter essa pressão.”
“A previsão de normalizar essas chuvas é no inverno, pois é uma época de precipitação mais baixa. Resta torcer para que esse prognóstico de chuvas esteja correto”, finaliza.
*Sob supervisão de Ana Carolina Nunes