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    Jackson Hole: conheça a história do simpósio e o que representa para os mercados

    Evento abordará as desigualdades na economia; discurso de Jerome Powell será acompanhado com atenção por investidores

    Simpósio foi criado pela regional do Federal Reserve em Kansas City
    Simpósio foi criado pela regional do Federal Reserve em Kansas City Reuters/Leah Millis

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business*

    em São Paulo

    Em 1978, a regional do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) de Kansas iniciou um simpósio para discutir o papel da política monetária no desenvolvimento agrícola. Mais de 40 anos depois, o simpósio de Jackson Hole se tornou um ambiente que reúne, anualmente, economistas, políticos, empresários e os presidentes dos principais bancos centrais do mundo para discutir assuntos importantes que mexem com a economia americana e global.

    Simão Silber, professor da FEA-USP, afirma que os temas discutidos no evento não seguem uma agenda rígida, mas são os “mais quentes da hora”. Na década de 1980, por exemplo, uma edição discutiu as flutuações na cotação do dólar. Em 2007, o tema foi o mercado imobiliário e a influência da política monetária, quando o colapso desse setor e gerou uma das maiores crises econômicas da história.

    Já em 2021, o simpósio discutirá, nesta sexta-feira (27), o impacto desigual da pandemia na população. “A ideia é discutir o que a política do governo pode fazer para as minorias que foram mais atingidas pela pandemia. No fundo, é a distribuição de renda que piorou para os pobres”, afirma Silber.

    O professor diz que o simpósio de Jackson Hole tem origem na própria autonomia que os 12 bancos regionais do Fed possuem. O evento foi criado pela regional de Kansas City, que fica no estado do Missouri. A cidade abrigou as primeiras edições, sendo sucedida por duas cidades no Colorado e, a partir de 1982, passou a ocorrer em Jackson Hole.

    A cidade fica no estado de Wyoming, próxima ao parque nacional de Yellowstone. Com cerca de 11 mil habitantes, o local ficou famoso na internet em 2016 após postar no YouTube uma transmissão ao vivo das mais de 80 câmeras da cidade, que continua até hoje.

    O ano de 1982 foi importante para o evento não apenas pela mudança de cidade, mas também por ser o primeiro a contar com a presença do presidente do Federal Reserve, atraindo, com isso, representantes de bancos centrais de todo o mundo. O que passou a ser o tradicional discurso do presidente do Fed começou apenas em 1989.

    Jackson Hole permite troca de experiências entre bancos centrais

    Silber considera que o evento é “uma troca de ideias entre banqueiros centrais”, o que o torna bastante influente, recebendo representantes de mais de 70 países desde 1982. “Tem influenciado muito a maneira pela qual se fez política monetária nos principais países do mundo”, diz ele.

    Para o professor, o simpósio também reflete um movimento da década de 1970, em que os bancos centrais ganharam cada vez mais autonomia e poder para influenciar a economia dos países, dentro do chamado câmbio flutuante.

    “A troca de experiências, o que dá certo e errado, tem uma importância muito grande nesse cenário”, afirma Silber.

    O professor diz que, hoje, são os bancos centrais que “mandam” na política econômica, por isso é importante saber o que pensam seus presidentes. Como exemplo, ele diz que um banco central pode elevar a taxa de juros sem precisar de aprovação do Congresso, mas um ministro da Economia não consegue aprovar planos e medidas sem o aval do Legislativo.

    Discurso de Jerome Powell é o destaque do evento

    Além de influenciar a economia dos EUA, o Federal Reserve acaba influenciando a economia global devido ao peso do país. Por isso, o discurso do presidente da autarquia, Jerome Powell, será analisado cuidadosamente neste ano.

    Durante seu discurso, Powell afirmou que a economia dos Estados Unidos continua a progredir em direção às condições estabelecidas pelo Federal Reserve para reduzir seus programas emergenciais da era da pandemia. Ele também destacou que ainda vê a inflação como transitória, e que uma alta prematura da taxa de juros poderia ser prejudicial para a recuperação do emprego no país.

    As posições do presidente do banco central americano agradaram os mercados. As bolsas no Brasil e nos Estados Unidos reagiram bem às previsões de Powell, com os principais índices dos EUA batendo novos recordes.

    O discurso seguiu a linha apontada por Silber do que foi dito anteriormente: uma redução de estímulos monetários até o fim do ano e aumento de juros a partir de 2023. O professor também não esperava grandes revelações no discurso de Powell, com a expectativa de que fossem fornecidos apenas mais detalhes sobre o plano do banco central.

    A percepção de que a fala de Powell traria poucas novidades também tinha crescido entre os investidores antes do discurso, em especial devido à falta de um consenso entre os membros do Fed sobre a hora de reduzir os US$ 120 bilhões em estímulos à economia.

    “Parece que os mercados e os investidores estão basicamente entrando neste evento com uma postura mais neutra e não fazendo grandes apostas nem para um lado nem para outro”, disse Anders Persson, diretor de investimentos da Nuveen.

    Silber destacou, ainda, que qualquer fala que descolasse dessas expectativas “preocuparia” o mercado, que tenta a todo momento antecipar o que o banco central americano fará e os efeitos dessas ações em seus investimentos.

    “Uma parte da fuga de capitais do Brasil vem da expectativa de que os juros aumentem nos EUA, e o pessoal já foge para o dólar”, explica Silber. Assim, o evento pode influenciar ainda mais esse movimento.

    Além do discurso de Powell, o professor considera que o simpósio será importante pela troca de experiências em relação à pandemia, e os efeitos dela na economia dos países. A pandemia refletiu, inclusive, no formato do simpósio, que será remoto pelo segundo ano seguido em meio à disseminação da variante Delta nos EUA.

    “O formato remoto permitiu a participação de mais países. É um sistema mais democrático, e também porque uma crise como essa não ocorreu em 100 anos, então, os países querem aprender, receber ajuda, inclusive buscar ajuda do Fed”, diz Silber.

    *Com informações da Reuters

    **Sob supervisão de Thâmara Kaoru