iFood vai ao supermercado em busca de rentabilidade – mas tem rivais à altura
O movimento mais recente foi a aquisição do SiteMercado pelo iFood. A plataforma permite aos parceiros a criação de seus próprios canais de e-commerce
Nas escolas – em tempos pré-pandemia – quando um aluno abre um pacote de bolachas (ou biscoitos, como alguns preferem) logo ouve vários pedidos para compartilhar as trakinas. Este pode ser o retrato da digitalização dos supermercados no Brasil: a demanda por compras online aumentou e agora os grandes players brigam pelos novos clientes.
O movimento mais recente nessa briga foi a aquisição do SiteMercado pelo iFood. Presente em 476 cidades, a plataforma permite aos parceiros a criação de seus próprios canais de comércio eletrônico.
“Abrimos uma janela muito grande para que esse braço (de supermercados) seja extremamente relevante dentro do iFood”, disse Diego Barreto, vice-presidente Financeiro e de Estratégia do iFood, em entrevista ao CNN Brasil Business.
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De fato, é um negócio muito interessante para o iFood entregar também os insumos para uma refeição, e não apenas ela já pronta. Isso porque o valor de uma transação nos supermercados é muito maior do que o ticket médio dos restaurantes. E como essas plataformas ganham com taxas, quanto maior a transação, melhor para a empresa que intermediou a compra.
O iFood já faz entregas de produtos vendidos em supermercados e conta hoje com 2,1 mil vendedores no iFood Mercado. Em março, eram apenas 618. A aquisição só mostra como a empresa está disposta a investir nesse segmento. A intenção, segundo Barreto, é chegar aos 3 mil estabelecimentos parceiros cadastrados na plataforma até o fim de 2020.
O iFood Mercado diz que suas vendas em agosto cresceram 240% em relação a março, quando as medidas de isolamento social entraram em vigor.
Competição de peso
Mas não é só o iFood que olha para a digitalização das compras em supermercados. Outros gigantes varejistas já estão atuando no setor e prometem brigar por cada cliente. E estão abrindo a carteira para isso.
Vamos à lista dos grandes players que estão na briga:
O Magazine Luiza lançou em 2020 o Mercado Magalu para entregar as compras de supermercado na casa dos clientes, mas ainda não vende produtos frescos. Além disso, a empresa comandada por Frederico Trajano comprou o AiQFome, aplicativo de entrega de refeições que foca em municípios menores, de 15 mil a 300 mil habitantes.
A Rappi, principal concorrente do iFood, viu a demanda por pedidos de supermercado e farmácia crescer incríveis 300% na pandemia. A colombiana ainda tem uma parceria com o Carrefour para fazer as entregas da rede.
Em maio, o Mercado Livre começou a fazer a venda direta de produtos de supermercados. Até então, a plataforma vendia apenas produtos de outros lojistas e tinha espaços de marcas com lojas oficiais.
No começo do ano, em janeiro, a B2W anunciou a compra do Supermercado Now. Mais tarde, em maio, a gigante do e-commerce fechou uma parceria com o grupo supermercadista BIG para integração de plataformas de venda.
Assim como o Magazine Luiza, a ideia de se tornar um super app também perseguida pelo Google, que fechou uma parceria com a Delivery Center, que faz entregas de lojistas de shopping centers. A parceria permite fazer compras de refeição direto pelo buscador ou pela ferramenta Google Maps.
O iFood pode ganhar a briga?
Para Diego Barreto, “a competição é boa, porque melhora o nível de serviço e reduz preço”. Ele defende (claro) que o iFood é quem entrega o melhor nível de serviço para os clientes. E dá algumas justificativas para a afirmação.
A primeira delas é que o iFood é a única empresa na briga do delivery de supermercados com o foco integralmente em alimentação. “Acreditamos que esta seja uma característica vencedora, porque nos dá especialização. A partir disso consigo ter um serviço acima da média”, diz Barreto.
Entregar rapidamente é outra virtude da companhia, de acordo com o diretor. A plataforma conta com mais de 200 mil entregadores cadastrados. “Não existe ninguém no Brasil com capacidade de entrega na última milha como o iFood. Ninguém faz isso fora da China”, afirma o CFO da compania.
O último argumento que ele usa para defender o iFood como vencedor desta briga é uso de tecnologia. “Não existe ninguém na América Latina com a capacidade de aplicação de inteligência artificial que o iFood tem”. Barreto explica que isso é importante porque, com a tecnologia, a plataforma é capaz de entregar as melhores sugestões e traçar as melhores rotas de entrega para reduzir os custos do delivery.
Por chegar tardiamente ao mercado em comparação a outros concorrentes, especialmente o Rappi, o iFood precisará mostrar que toda essa autoconfiança se converterá em resultados.
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