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    Ibovespa perto dos 100 mil pontos: é bolha ou se sustenta?

    Para analistas, juros muito baixos e correção após queda exagerada justificam alta até aqui, mas bolsa deve ficar "presa" neste nível ainda por um tempo

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Bunsiness, em São Paulo

    Depois de uma turbulenta e abrupta jornada pandemia adentro, o Ibovespa, índice de referência da bolsa de valores brasileira, voltou novamente a cruzar a simbólica linha dos 100 mil pontos na manhã desta quinta-feira (09) – mesmo que por pouco tempo. É uma marca que o índice só ultrapassou pela primeira vez em sua vida no ano passado, no fechamento de 19 de junho. Dali para frente, seguiria em uma rota firme de ascensão que foi violentamente interrompida pela explosão da epidemia de coronavírus no mundo, no fim de fevereiro. 

    Da maior cotação de sua história – 119.527,63 pontos, em 23 janeiro – ao pior momento da crise (63.569,62 pontos, em 23 de março), o tombo foi simplesmente de 47%. De lá para cá, o índice já subiu 57%.

    Faz sentido, porém, o Ibovespa aparentemente estar caminhando de volta para seu nível pré-choque – e a passos tão rápidos – em um cenário de incertezas e depressão econômica global que é completamente diferente do que o do começo do ano?

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    Para analistas consultados pelo CNN Business, há diversas razões que explicam e sustentam essa retomada do mundo paralelo do mercado financeiro até aqui. Queda de juros generalizadas, uma bomba de recursos injetados por bancos centrais do mundo todo e os primeiros sinais de alento dos indicadores econômicos estão entre as principais justificativas. 

    Passar novamente pelos 100 mil pontos, entretanto, não significa declarar aberta a porteira da alegria para que a bolsa siga seu caminho livre de volta para os 120 mil de onde parou. O consenso dos analistas é que a cara do desempenho daqui para frente será diferente da outra vez em que a marca dos 100 mil foi rompida.

    No lugar de uma trajetória consistente de alta, devemos ver um Ibovespa ainda muito volátil e andando de lado, enquanto investidores esperam mais uma leva de sinais positivos da economia e do vírus antes de voltarem a testar novos degraus de alta.

    Bolsa “travada”

    “Acreditou-se que viria o apocalipse, mas os novos dados das principais economias estão mostrando que esse buraco não era tão fundo; o mercado corrigiu essa expectativa tão negativa e está se ajustando”, disse Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora especializado em análise técnica dos gráficos.

    Para ele, a alta forte e rápida dos últimos três meses, aparentemente precipitada, faz sentido quando colocada ao lado do desabamento monumental que a precedeu, em março. 

    “Se a pontuação superar os 100 mil, a próxima resistência deve ser na faixa de 104 mil a 108 mil, mas não deve chegar agora nos 110 mi ou 120 mil, a chance maior é de que o índice fique travado aí”, disse.

    Foi o que já aconteceu em junho, depois das fortes altas de abril e maio: o Ibovespa disparou até retornar aos 97 mil pontos em 8 de junho. Dali para frente, não sairia mais daí. A variação ficou presa em uma espécie de armadilha mais ou menos entre os 97 mil e os 94 mil pontos, banda dentro da qual ficou indo e voltando por praticamente todo o mês. 

    Foi na segunda semana de julho que o mercado resolveu testar mais um passo acima e, enfim, encostar no simbólico 100 mil. Mas o mais provável, indicam os analistas, é que isso só crie uma nova banda em torno dessa pontuação em que as variações também devem ficar presas por mais algumas semanas ou meses. 

    “Passar dos 100 mil pontos tem um peso emblemático, mas, para nós, significa muito mais ficar em 105 mil ou 106 mil pontos do que ter um rompimento efetivo”, disse Roberto Chagas, sócio cofundador e responsável pelas estratégias de renda variável da gestora de fundos Trafalgar Investimentos.

    Chagas é razoavelmente otimista. Acredita que os dados das principais economias do mundo, como EUA, Europa e China, apontam para uma retomada econômica rápida – a chamada “recuperação em V”. Isso é turbinado por taxas de juros baixíssimas (no Brasil, de apenas 2,25% ao ano), o que estimula montanhas de dinheiro a buscarem investimentos mais arriscados como as ações. 

    Tudo isso, afirma, abre espaço para que a bolsa de valores brasileira possa voltar para os 120 mil pontos perdidos em algum momento no meio de 2021. Isso depende, porém, da organização da economia e da política domésticas, que, se saírem muito pioradas da pandemia, podem descolar o mercado acionário brasileiro de escaladas mais fortes no resto do mundo.

    “No Brasil, há o risco de a recuperação econômica ser mais lenta do que o esperado e do aumento do ruído político, o que pode atrasar a retomada [da bolsa]”, disse. “Para o mercado poder de fato superar os 100 mil pontos e recuperar suas máximas anteriores precisamos antes da confirmação de qual será o ritmo da recuperação econômica e também a confirmação de uma vacina [para a Covid-19] entre este e o próximo ano.”

    “Podemos ainda esperar um mercado bastante volátil, aqui e fora do Brasil”, disse a economista da Toro Investimentos Paloma Brum. Ela também menciona a espera por mais sinais da guinada econômica e, principalmente, pela comprovação de uma vacina ou tratamento para o vírus.

    “Ora prevalece o otimismo, com notícias mais animadoras, como os dados de expansão da indústria e do comércio, ou avanços em pesquisas de vacinas; ora prevalece o pessimismo, com o ritmo dessa recuperação global ainda incerto.”

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