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    Google ameaça encerrar pesquisa na Austrália

    Google e Facebook brigam com editores há anos sobre como exibir conteúdo. Empresas de mídia argumentam que os gigantes deveriam pagá-los por esse privilégio

    Logo do Google
    Logo do Google Foto: Charles Platiau - 1.set.2020/ Reuters

    Michelle Toh, do CNN Business, em Hong Kong

     

    O Google diz que vai fechar seu mecanismo de busca na Austrália se um projeto polêmico para beneficiar a mídia se tornar lei.

    Em uma audiência do senado em Canberra na sexta-feira (22), a diretora administrativa do Google (GOOGL) na Austrália, Mel Silva, disse que o projeto de lei “continua impraticável” e “quebraria” a maneira como milhões de usuários pesquisam conteúdo online.

    “Se esta versão do Código se tornar lei, não teremos nenhuma escolha real a não ser parar de disponibilizar a Pesquisa do Google na Austrália”, disse a executiva aos legisladores. “Seria um resultado ruim não apenas para nós, mas para o povo australiano, a diversidade da mídia e as pequenas empresas que usam a Pesquisa do Google”

     

    A principal preocupação da empresa com a proposta é que ela “exigiria pagamentos apenas de links e snippets [posição zero] para resultados de notícias na Pesquisa somente”, segundo Silva.

    “O serviço gratuito que oferecemos aos usuários australianos, e nosso modelo de negócios, foi construído com base na capacidade de linkar livremente entre sites”, disse.

    O Google e o Facebook brigam com os editores há anos sobre como eles exibem seu conteúdo, com empresas de mídia argumentando que os gigantes da tecnologia deveriam pagá-los por esse privilégio. Os críticos das duas gigantes da tecnologia apontam que, como elas dominam o negócio de publicidade online, editores de notícias ficam em uma situação difícil, lutando pelas sobras. 

    A nova legislação permitiria que certos meios de comunicação negociassem individual ou coletivamente com o Facebook e o Google – e a entrar na justiça se as partes não chegarem a um acordo dentro de três meses, de acordo com a Comissão Australiana de Concorrência e Consumidores, que divulgou a proposta de legislação.

    O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, respondeu ao Google na sexta-feira (22).

    “Deixe-me esclarecer. A Austrália estabelece as regras para coisas que você pode fazer na Austrália. Isso é feito em nosso parlamento. É feito pelo nosso governo e é assim que as coisas funcionam aqui, e as pessoas que querem trabalhar assim na Austrália, são bem-vindas”, declarou em uma coletiva de imprensa. “Mas não respondemos a ameaças”.

    Questionado sobre a fala de Morrison, o Google se recusou a comentar.

    Um aviso das “consequências”

    Ambas as empresas de tecnologia norte-americanas se opuseram veementemente ao código desde sua introdução em 2020. Em agosto passado, o Google usou sua homepage para alertar os australianos de que o projeto de lei prejudicaria sua capacidade de pesquisa e levaria a “consequências” para os usuários do YouTube.

    A gigante dos EUA agora está propondo três mudanças no código, incluindo como ele pagaria os editores de notícias.

    Uma sugestão é o News Showcase, um programa lançado pelo Google no ano passado que visa pagar aos editores mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,4 bilhões) nos próximos três anos, a ser formalizado e expandido na Austrália. A empresa já paga sete editoras no país por conteúdo.

    A companhia também quer alterar um requisito que forçaria o Google a notificar os editores sobre as mudanças em seu algoritmo, dizendo que deve fazer isso apenas “para garantir que os editores sejam capazes de responder às mudanças que os afetam”.

    “Há um caminho claro para um Código justo e viável”, pontuou Silva. “Retirar nossos serviços da Austrália é a última coisa que eu ou o Google queremos que aconteça, especialmente quando há outro caminho a seguir”.

    Uma batalha agressiva

    O Facebook (FB) também está recuando.

    Na mesma audiência do Senado na sexta-feira, Simon Milner, vice-presidente de políticas públicas do Facebook para a Ásia-Pacífico, disse que a empresa poderia bloquear o conteúdo de notícias na Austrália, embora tenha enfatizado o compromisso de “tornar a lei viável”.

    Milner disse ao parlamento que já havia um “efeito dissuasor desta lei sobre o investimento na indústria de notícias australiana”, citando uma decisão recente do Facebook de lançar um produto de notícias no Reino Unido em vez de fazê-lo na Austrália.

    “Sir Tim Berners-Lee disse que este precedente estabelecido por esta lei poderia ‘tornar a web impraticável em todo o mundo’”, acrescentou ele, citando o inventor da web.

    Reguladores dizem que a legislação é necessária para nivelar o mercado para a mídia de notícias na Austrália, já que redações em todo o país reduziram o serviço ou fecharam de forma temporária ou permanente.

    Mas os céticos da legislação apontam alguns motivos de preocupação. O bilionário Rupert Murdoch possui uma grande fatia do mercado de mídia na Austrália, levando a questionamentos sobre o quanto uma lei que obrigue o pagamento de suas propriedades beneficiaria seu império.

    Outros alertam que tais leis ameaçam a liberdade na internet.

    Tais preocupações não têm muito peso, segundo Belinda Barnet, professora de mídia e comunicações da Universidade Swinburne em Melbourne, em um fio no Twitter.

    “O código beneficiará Murdoch. Também beneficiará Guardian, ABC e SBS [as emissoras australianas], seu jornal local” e outros meios de comunicação.

    Barnet também disse que a internet não é mais um espaço aberto, tornando tais preocupações discutíveis.

    “A internet não está mais aberta. É controlada por alguns monopólios globais que ganham dinheiro com seus dados”, escreveu. “A internet já foi mais aberta, foi um espaço mais igualitário e democrático, mas essa era acabou”.

    Casos semelhantes surgiram em outros países. Na quinta-feira (21), o Google anunciou que pagaria a publicações de notícias na França pelo uso de seu conteúdo online em um acordo histórico que em breve poderia ser replicado em outras partes da Europa sob as novas leis de direitos autorais.

    — Hanna Ziady contribuiu para esta reportagem.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).