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    Fundos de previdência privada têm retorno até 40% menor. Ainda valem a pena?

    Produtos oferecidos por BB e Santander estão entre os mais afetados, diz estudo da Magnetis; entenda o que isso significa e o que fazer para não perder dinheiro

    Luís Lima, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Juros menores, regras mais acessíveis para a entrada de gestoras independentes, além da reforma da Previdência aprovada pelo governo no ano passado, motivaram um maior interesse de investidores na área de fundos de pensão. Mas aí apareceu o novo coronavírus e esse mercado entrou em alerta, afetando a rentabilidade de quem fez essa opção. Afinal, vale a pena apostar em fundos previdenciários? 

    O ano de 2019 mostrou que os fundos se tornaram uma alternativa para investidores que pensam mais em longo prazo. A prova é que, com a preocupação da mudança do sistema e a maior oferta de produtos, as contribuições em Previdência aumentaram 23,4% sobre 2018, segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). O retorno médio foi superior a 10%.

    Mas, como boa parte dos investimentos em todo o mundo, a pandemia da COVID-19 inverteu o sinal deste mercado: dos 1.521 fundos de pensão abertos para captação e que já fecharam resultados do 1º trimestre, quase 80% tiveram desempenho negativo, com perdas de até 40% na rentabilidade, mostram números da fintech Magnetis.

    Essas perdas ficam bem expressa nos números. No total, os investimentos nesse mercado atingiram cerca de R$ 914 bilhões em março, menor valor desde novembro do ano passado, de acordo com o último relatório da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

    Entre os que mais perderam nos três primeiros meses deste ano estão produtos ofertados por Banco do Brasil (BB), como o BrasilPrev Top Plus FI Ações, e Santander, como o Previdência Seleção TOP FI Ações, com baixas de 40,15% e 39,36%, respectivamente. Na sequência, aparecem Porto Seguro Master FI Ações (-39,31%), Itaú Flexprev Dunamis Fic Ações (-37,30%) e Transamérica Alfaprev Master FI Ações (-37,22%).

     

    Em nota, enviada após o fechamento da reportagem, a Brasilprev afirma que o seu fundo Top Plus FI Ações é constituído para a execução de estratégias específicas dentro de alocação de cotas dos planos de previdência e que não permite investimento direto de cotistas.

    O que explica a desvalorização acentuada neste ano é a natureza deles: em comum, são todos de renda variável, uns dos segmentos mais atingidos pela crise recente.

    “Investimento em Previdência, assim como em ações, são de longo prazo. O ano de 2019 foi superbenéfico ao investimento de risco, com recorde de alta na Bolsa e queda na Selic. Em tempos de crise, no entanto, há uma correção muito grande, e quem tem investimento em Bolsa sofre”, reforça Daniel Jannuzzi, consultor da Magnetis. 

    No primeiro trimestre, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, derreteu 36%, pior tombo da história, afetado por incertezas sobre os impactos econômicos da COVID-19, e também pela queda de braço entre Rússia e Arábia Saudita pelo monopólio de produção do petróleo.

    “Neste cenário, os gestores que perderam menos são os que conseguiram ter exposições menores a determinadas empresas, com maior controle de risco, ou os que tinham mais dinheiro em caixa”, acrescenta Jannuzzi. 

    Por isso, a ordem é conhecer bem o produto em que se investe. Além dos fundos de previdência com foco em ações, que possuem pelo menos 67% aplicado em renda variável e são focados em investidores qualificados, há dois outros tipos.

    São eles: renda fixa, realizado em títulos públicos ou privados, e multimercados, com entre 15% e 67% dos recursos alocados na Bolsa, ambos voltados ao público geral. Para se ter uma ideia da mudança de risco, dos dez fundos com maiores tombos no rendimento no primeiro trimestre, nove são de ações e apenas um é de multimercados.

    Porém, é necessário ter bastante atenção em todos os tipos de produtos. No levantamento da Magnetis, há diversos fundos de pensão de renda fixa que também tiveram performance negativa. A explicação, neste caso, também tem a ver com a COVID-19, que aumentou a insegurança em relação ao emprego e renda, assim como a necessidade de liquidez.

    “A reação deste segmento, que não é tão líquido, foi de maior oferta do que demanda. A consequência é uma queda do preço, além de uma maior percepção de risco”, avalia Jannuzzi. 

    Como se proteger? 

    Não entre em pânico 

    A primeira recomendação é não se desesperar e naturalizar desvalorizações em momentos de crise. Elas não significam necessariamente perdas e são inerentes a ciclos, explica Myrian Lund, professora de finanças e planejadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

    “O mercado para todos os ativos, até não financeiros, é cíclico. É preciso entender este movimento não como perda”, aponta a economista. Investimento em fundos de pensão, sobretudo do tipo renda variável, mira o longo prazo e a retirada do dinheiro em tempos de retorno reduzido é o que implica em prejuízo.

    Segundo especialistas, a modalidade segue sendo atrativa, principalmente para quem faz a declaração de Imposto de Renda (IR) completa (e pode abater até 12% da renda anual) e com dependentes, que, em caso de falecimento, poderão usufruir do benefício, sem a necessidade de inclusão em inventário.

    Diversifique 

    Outra recomendação, clássica, é a diversificação, tanto dentro de de fundos previdência, como de outros produtos, como fundos imobiliários ou títulos do governo, com prazos mais longos.

    “Faça aportes em fundos mais conservadores e também arrojados. (…) Se precisar de dinheiro imediato, em um ciclo negativo, você tira do mais conservador”, recomenda Lund.  

    Segundo a economista da FGV, é importante não olhar os rendimentos de forma individual, mas o todo, o que dará uma dimensão mais precisa do total de seus aportes.

    Reserva de emergência 

    O planejador financeiro Jayme Carvalho, da Planejar, chama a atenção para a manutenção de uma reserva de emergência de pelo menos 12 meses relativos à média da renda. “E se estamos falando de um profissional com uma renda não CLT, ou seja variável, é adequado que trabalhe com uma reserva ainda maior”, pondera. 

    Atenção 

    É preciso também prestar atenção na qualidade do fundo. “Há muitas opções com taxas absurdas, de até 3% ao ano no caso da renda fixa, que praticamente custa mais do que o rendimento”, alerta Jannuzzi. É bom estar atento à existência de taxas de carregamento, que podem encarecer ainda mais o produto.

    “Tem que fazer a lição de casa: buscar um parceiro confiável para fazer a gestão dos seus recursos, a partir de produtos baratos e adequados ao seu perfil de risco”, complementa o especialista da Magnetis.

    “Não é uma tarefas simples. Há uma superoferta de produtos, ativos de letras diferentes, riscos e liquidez diversos, e que demandam uma ajuda profissional”, alerta Carvalho, da Planejar.

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