Falas de Bolsonaro sobre crise hídrica contradizem técnicos, diz especialista
À CNN, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, disse que declarações do presidente podem atrapalhar orientações sobre consumo consciente de energia
Em entrevista à CNN, o professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Pedro Cortês, disse que declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) normalizando o cenário de crise hídrica que o país enfrenta podem atrapalhar orientações técnicas que objetivam a redução do consumo de energia elétrica e água.
“O que me preocupa é esse tipo de declaração do presidente Bolsonaro, do que ele fez hoje à tarde, dizendo que, apesar da crise, apesar do problema de energia, tudo está bem. Não. Efetivamente não está bem e isso abre um espaço para que declarações políticas sejam contrapostas às decisões técnicas, o que pode acabar minando o envolvimento da população — ou de parte dela –, em programas ou projetos de redução de consumo de energia ou de consumo de água, do uso racional da água.”
Mais cedo, nesta quinta-feira (3), em conversa com seus apoiadores, Bolsonaro afirmou que, embora o Brasil esteja enfrentando uma das piores crises hídricas dos últimos tempos, o país está “indo bem”. “Estamos com problemas da maior crise hídrica da história do Brasil, mais um azar, e apesar disso [o país] está indo bem.”
O professor afirmou que, frente à estiagem no Sul e Sugeste, as decisões tomadas pelo governo federal, e acatadas pela ANA (Agência Nacional de Águas), estão no caminho certo.
“Até aqui nós temos uma decisão correta no sentido de alertar a população e de demandar os administradores nos estados e municípios para que conscientizem a sua população no sentido de economizar água e energia elétrica.”
Dolarização das tarifas
Para Cortês, o Brasil depende das hidrelétricas do Rio Paraná e não conseguiria abastecer o país internamente com a intensificação de outras matrizes energéticas. Além disso, o professor defende que aumentar a dependência pelas termelétricas impactaria no aumento das tarifas.
“Com o uso mais intensivo das termelétricas, em boa parte movidas a gás natural ou a óleo combustível, nós temos uma espécie de início de dolarização da nossa tarifa energética, tendo em vista que estes dois combustíveis — o gás e o óleo –, obedecem cotações internacionais e também da cotação do dólar.” Esse movimento, segundo ele, pode pressionar os índices de preços.
(sob supervisão de Jorge Fernando Rodrigues)