Evergrande se faz de valente, mas seu futuro ainda é incerto
Pagamento de juros, totalizando mais de US$ 100 milhões, deve ser feito na quinta-feira (23) sobre dois títulos da empresa, e agentes financeiros pelo mundo questionam se Pequim vai ajudar o grupo
O presidente da empresa que está mexendo com os mercados, a Evergrande, prometeu a seus funcionários que eles “sairão da escuridão” causada pela crise da dívida histórica do conglomerado chinês.
Mas o que acontecerá a seguir para a empresa ainda é uma incógnita, e a falta de orientação da empresa e das autoridades em Pequim sobre como a crise será resolvida está criando incerteza para investidores em todo o mundo em meio a temores de que um colapso possa atingir o vasto setor imobiliário da China e o economia global.
Xu Jiayin, presidente do Evergrande Group, reconheceu em uma carta aos funcionários que o incorporador imobiliário “encontrou dificuldades sem precedentes”.
A carta foi publicada no Paper, um meio de comunicação estatal chinês, e confirmada como genuína por um representante da Evergrande.
“Estou convencido de que, por meio do esforço conjunto e do trabalho árduo de líderes e funcionários em todos os níveis, a Evergrande certamente sairá das trevas o mais rápido possível”, escreveu ele.
Xu acrescentou que acha que a empresa “certamente será capaz de acelerar a retomada total do trabalho e da produção”.
Mas a carta de Xu não mencionou o pagamento de dívidas nesta semana.
As ações caíram até 7% em Hong Kong na terça-feira (21), embora mais tarde tenham reduzido a maior parte de suas perdas para cair 0,4%. Isso aconteceu depois da queda de 10% na segunda-feira (20).
As ações caíram 84% este ano e atualmente estão sendo negociadas em seu nível mais baixo desde 2011.
O pagamento de juros, totalizando mais de US$ 100 milhões, deve ser feito na quinta-feira (23) sobre dois títulos da empresa, de acordo com a central Refinitiv.
Mas não está claro quanto – se houver alguma – de suas obrigações de dívida a Evergrande será capaz de cumprir.
O grupo é o desenvolvedor mais endividado da China, com passivos no valor de mais de US$ 300 bilhões. Nas últimas semanas, alertou os investidores duas vezes de que poderia entrar em default caso não conseguisse levantar dinheiro rapidamente.
Os temores sobre a Evergrande dominaram os mercados globais na segunda-feira (20), fazendo com que as ações caíssem em Hong Kong, Nova York e em outros mercados importantes. Os mercados da China Continental estão fechados devido a um feriado e retomam as negociações nesta quarta-feira (22).
A falta de comentários oficiais de Pequim sobre como a crise da Evergrande pode ser resolvida parece ser uma grande fonte de incerteza. Economistas do Macquarie Group disseram na terça-feira que esperam que os legisladores chineses sejam “pacientes”.
O governo ainda quer impedir a “assunção de riscos excessivos” por parte de incorporadoras como a Evergrande, escreveram Larry Hu e Xinyu Ji, da Macquarie, em uma nota.
Mas Pequim também vai querer “manter a estabilidade” no setor imobiliário, acrescentaram. Só a Evergrande detém cerca de 6,5% da dívida total do setor imobiliário do país, segundo estimativa do UBS.
“Dessa forma, os legisladores escolheriam esperar primeiro e, depois, intervir para garantir uma reestruturação ordenada da dívida”, escreveram Hu e Ji.
Tommy Wu, economista-chefe da Oxford Economics, disse que espera que Pequim intervenha em alguma medida.
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“Pelo menos eles planejarão algum tipo de reestruturação para que pareça mais um pouso suave para a saga Evergrande”, disse Wu.
Os problemas da Evergrande estão fermentando há algum tempo. Nos últimos anos, as dívidas aumentaram à medida que ela fazia empréstimos para financiar seus vários negócios, desde habitação e veículos elétricos até esportes e parques temáticos.
Então, em agosto de 2020, Pequim começou a controlar o endividamento excessivo do setor imobiliário na tentativa de evitar o superaquecimento do mercado imobiliário e de conter o crescimento da dívida.
Nas últimas semanas, a crise de liquidez de Evergrande se intensificou, provocando uma nova queda nas ações e títulos da empresa.
A crise ainda gerou agitação social. O meio de comunicação chinês Caixin relatou na semana passada que várias centenas de pessoas que haviam investido em um produto de gestão de fortunas da Evergrande cercaram a sede da empresa em Shenzhen, exigindo seu dinheiro de volta.
A necessidade de “suavizar o golpe” para os pequenos investidores provavelmente será o foco de qualquer reestruturação da Evergrande, de acordo com Robert Carnell, chefe de pesquisa para a Ásia-Pacífico do ING Economics.
Ele citou a recente ênfase do presidente chinês Xi Jinping na “prosperidade comum” e na necessidade de redistribuir a riqueza no interesse da “justiça social”.
Essa promessa influenciou a ampla repressão de Pequim aos setores de tecnologia, finanças, educação e outros, ao culpar o setor privado por causar riscos financeiros e exacerbar a corrupção e a desigualdade.
Carnell escreveu em uma nota na terça-feira que espera que o governo force os investidores a passarem por uma “espera desconfortável” antes de decidir o destino final de Evergrande.
Ele citou a Huarong Asset Management, cujas ações foram suspensas das negociações por vários meses este ano após sofrer uma crise de liquidez e não divulgar seus resultados financeiros de 2020.
A empresa acabou sendo resgatada por investidores apoiados pelo Estado. “Houve uma sensação palpável de alerta naquela espera – não espere sofrer nenhuma perda – antes que o resgate fosse feito”, disse Carnell.
(Com colaboração de Kristie Lu Stout e Jadyn Sham)
*Texto traduzido. Para ler o original, clique aqui