Oligarcas russos são alvo de sanções dos EUA e de países da Europa
Pressão criada pelas sanções parece ter um impacto psicológico e monetário imediato para os bilionários
Se os oligarcas da Rússia não estavam preocupados antes, provavelmente estão agora.
Em seu primeiro discurso sobre o Estado da União na noite de terça-feira (1), o presidente Joe Biden dirigiu-se diretamente aos comparsas do presidente russo, Vladimir Putin, dizendo-lhes que os Estados Unidos e seus aliados estão vindo para “apreender seus iates, seus apartamentos de luxo, seus jatos particulares”.
A mensagem destacou o quanto o terreno está mudando sob os pés abastados dos oligarcas da Rússia, uma classe de empresários que acumulou bilhões em riqueza pessoal alavancando suas conexões com o Kremlin na divisão dos ativos da ex-União Soviética nos anos 1990.
Desde a invasão da Ucrânia por Putin, os governos ocidentais tentaram congelar os bens dos oligarcas no exterior junto com os de Putin, bem como impedi-los de viajar.
O objetivo tem duas vertentes: as sanções agem como uma punição para a classe dominante da Rússia e um porrete para tentar forçar Putin a recuar.
É seguro dizer que as sanções, pelo menos até agora, chamaram com sucesso a atenção dos oligarcas.
Roman Abramovich, um homem de 55 anos com patrimônio estimado em US$ 13,5 bilhões, anunciou na quarta-feira (2) que está vendendo seu amado Chelsea Football Club, adquirido em 2003.
Embora Abramovich ainda não tenha sido nomeado nas listas de sanções, os legisladores do Reino Unido estão pressionando os líderes fazer isso.
O magnata está supostamente descarregando algumas de suas propriedades em Londres em antecipação às sanções.
“Ele está com medo de ser sancionado, e é por isso que ele já vai vender sua casa amanhã e vender outro apartamento também”, disse o legislador britânico Chris Bryant, segundo a Bloomberg.
Os oligarcas estão em movimento, e sabemos disso em parte por causa de um jovem de 19 anos da Flórida que construiu bots no Twitter que rastreiam os movimentos de cerca de 40 aviões e helicópteros ligados a oligarcas russos. Este é o mesmo jovem de 19 anos que ganhou as manchetes no início deste ano por recusar o pedido de Elon Musk de derrubar um bot dedicado ao jato do CEO da Tesla.
No início desta semana, pelo menos quatro superiates pertencentes a bilionários russos com laços com Putin foram vistos se movendo em direção a Montenegro e às Maldivas, informou a CNBC.
As Maldivas, uma nação insular no Oceano Índico, não tem um tratado de extradição com os Estados Unidos, o que poderia aumentar seu apelo como refúgio oligárquico.
Infelizmente para a elite russa, outros portos até então seguros os estão fechando cada vez mais. Mônaco, o pequeno principado da Riviera Francesa que se tornou um playground para os ricos da Rússia, adotou sanções idênticas às da UE na terça-feira.
E a famosa Suíça neutra também se aliou à UE nesta semana, anunciando que fecharia seu espaço aéreo para voos da Rússia e imporia proibições de entrada contra vários comparsas de Putin.
[cnn_galeria active=”false” id_galeria=”705550″ title_galeria=”Iate Dilbar, do bilionário russo Alisher Usmanov”/]
É claro que especialistas dizem que impor sanções aos magnatas não será rápido ou simples. Bilionários experientes que construíram sua riqueza sob um governo autoritário são adeptos de obscurecer seus ativos através de camadas de empresas de fachada e comparsas.
“Se você é um oligarca russo flutuando em seu iate no Oceano Índico, a maior parte do seu dinheiro já não estará em seu próprio nome”, disse Alison Jimenez, presidente da consultoria de litígios Dynamic Securities Analytics. “Você vai ter a camada opaca de corporações de fachada com pessoas fictícias substituindo você.”
Isso pode tirar um pouco da mordida punitiva das sanções ocidentais. “Você pode apreender o barco, você pode apreender o avião, mas eles têm dinheiro escondido em todo o mundo”, diz Jimenez. “Se você conseguir capturar 75% disso, eles ainda serão mais ricos do que todos os outros no mundo.”
Mas a pressão parece ter um impacto psicológico e monetário imediato.
Esta semana, dois magnatas proeminentes, Mikhail Fridman e Oleg Deripaska , romperam com o Kremlin e pediram o fim da guerra da Rússia na Ucrânia.
Fridman, que nasceu no oeste da Ucrânia e está intimamente ligado ao círculo íntimo de Putin, escreveu em uma carta à sua equipe que queria que o “derramamento de sangue acabasse”.
Fridman é o presidente do Grupo Alfa, um conglomerado privado que abrange bancos, seguros, varejo e produção de água mineral.
Seu pedido de paz foi ecoado por Deripaska, que fez fortuna no negócio de alumínio. “A paz é muito importante! As negociações precisam começar o mais rápido possível”, disse no domingo em um post no Telegram.
— Charles Riley, da CNN Business, contribuiu para este artigo.