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    Estamos em meio a uma nova guerra mundial: a da tecnologia

    Conflito comercial entre Estados Unidos e China vêm forçando países e empresas do mundo inteiro a escolher um lado e tecn

    Jovem manipula smartphone com logotipo da TikTok: empresa pode ser mais uma vítima dessa nova "guerra mundial"
    Jovem manipula smartphone com logotipo da TikTok: empresa pode ser mais uma vítima dessa nova "guerra mundial" Foto: Dado Ruvic/Illustration/Reuters

    Jill Disis, do CNN Business

    Nações e empresas de todo o mundo estão sendo sugadas para uma batalha em andamento entre os Estados Unidos e a China sobre o futuro da tecnologia. Países estão sendo forçados a escolher lados em um conflito que está rompendo as cadeias globais de fornecimento e empurrando as empresas para fora de mercados lucrativos.

    A mais recente vítima é o TikTok, um aplicativo de vídeo popular entre os adolescentes e que tem centenas de milhões de fãs ardorosos em mercados como Índia e Estados Unidos. O Tik Tok pertence a uma empresa chinesa, mas é administrado por um CEO norte-americano.

    O primeiro grande golpe aconteceu no mês passado, quando o TikTok foi bloqueado na Índia depois de um conflito na fronteira com a China, no qual morreram pelo menos 20 soldados indianos. Mais recentemente, na segunda-feira (6), as autoridades norte-americanas disseram que iriam banir o aplicativo porque o consideram uma possível ameaça à segurança nacional.

    A notícia foi divulgada ao mesmo tempo em que a empresa anunciava que deixaria Hong Kong por causa de preocupações com uma ampla lei de segurança nacional que a China impôs à cidade.

    “Está ficando mais difícil ser uma plataforma tecnológica verdadeiramente global”, opinou Dipayan Ghosh, diretor do projeto de plataformas digitais e democracia da Harvard Kennedy School.

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    A briga neste momento entre as duas maiores economias do mundo está no centro dessa questão. Estados Unidos e China estão competindo em inteligência artificial, redes móveis 5G e outras tecnologias. Embora os países tenham laços econômicos de longa data, que possibilitariam alguma colaboração, as recentes tensões sobre segurança nacional levaram seus governos e empresas a reconsiderar essas parcerias.

    O conflito também está azedando as relações que esses países têm com outras potências globais. O Reino Unido, por exemplo, está reexaminando sua decisão de conceder à empresa chinesa de tecnologia Huawei a capacidade de ajudar a montar a rede 5G no país.

    A revisão veio depois que os Estados Unidos, que têm mirado repetidamente a Huawei, impuseram sanções à empresa que poderiam impedir outras companhias de fornecer aparelhos necessários para construir sua tecnologia de próxima geração.

    “Minha impressão é que as empresas de tecnologia estão acordando para o fato de que a vida no futuro será muito menos globalizada”, afirmou Michael Witt, professor afiliado sênior de estratégia e negócios internacionais da escola de negócios internacional INSEAD. “Eles estão enfrentando um dilema real”.

    Uma amarga rivalidade

    Durante décadas, os Estados Unidos e a China mantiveram visões opostas sobre como usar a tecnologia. Enquanto a IBM (IBM) e Microsoft (MSFT) impulsionavam a inovação norte-americana na década de 1980, a China estava construindo os alicerces para o seu Great Firewall, um mecanismo de censura gigante que exclui o conteúdo amplamente disponível em outras partes da internet.

    Desde então, a China criou uma internet fechada e controlada que encontrou fãs entre outros países autoritários. A Rússia, por exemplo, mudou-se para reestruturar e restringir sua internet, que antes era livre, com a assistência da tecnologia chinesa.

    Os investimentos da China em tecnologia cresceram ainda mais rapidamente nos últimos anos devido ao “Made in China 2025”, um ambicioso plano de Pequim de acabar com a dependência do país em tecnologia estrangeira, gastando bilhões de dólares em áreas como comunicações sem fio, microchips e robótica.

    No ano passado, por exemplo, o país importou US$ 306 bilhões em chipsets, que são uma espécie de circuito integrado de chips. Isso representa 15% do valor das importações totais do país.

    Os Estados Unidos reagiram buscando limitar o avanço da China.

    O governo de Donald Trump acusou a China de roubar a tecnologia dos EUA, uma questão central para a guerra comercial prejudicial que vem estremecendo o relacionamento entre os dois desde 2018. As autoridades chinesas negaram repetidamente tais alegações e argumentaram que quaisquer segredos tecnológicos passados faziam parte de acordos mutuamente assinados.

    Os Estados Unidos também impuseram sanções a empresas de tecnologia chinesas importantes e tomaram medidas para limitar o acesso de Pequim aos vastos mercados de capitais da América.

    À medida que Washington intensifica sua luta contra Pequim, a cooperação tecnológica internacional parece cada vez mais provável de desaparecer.

    “Pequim concluiu que a dissociação é inevitável”, escreveram Ian Bremmer e Cliff Kupchan, presidente e chairman, respectivamente, do Eurasia Group, em um relatório publicado no início deste ano. O documento observa como o presidente chinês Xi Jinping está pedindo que o país rompa sua dependência tecnológica dos Estados Unidos.

    “A China expandirá os esforços para remodelar a tecnologia internacional, o comércio e a arquitetura financeira para promover melhor seus interesses em um mundo cada vez mais bifurcado”, escreveram.

    “Muro de Berlim virtual”

    À medida que a relação entre as duas maiores economias do mundo se deteriora, vários analistas alertam que as consequências terão implicações importantes para todas as potências globais, juntamente com as empresas de tecnologia que operam além de suas fronteiras.

    Os analistas do Eurasia Group escreveram que o “novo Muro de Berlim virtual” levará as economias mundiais a escolher lados. Segundo eles, aliados tradicionais dos EUA, como Taiwan e Coreia do Sul, por exemplo, podem se inclinar para a China porque fornecem semicondutores de ponta nos quais as empresas chinesas confiam para competir com rivais globais.

    “Tanto os EUA quanto a China demonstraram que estão dispostos a armar o comércio global e as cadeias de suprimentos”, acrescentaram os analistas.

    As tensões globais também estão fazendo com que os países vejam as empresas de tecnologia como “setores nacionais, e não atores globais”, como explicou Samm Sacks, membro sênior do Centro Paul Tsai China da Escola de Direito de Yale, que estuda segurança cibernética e as relações EUA-China.

    “É a ideia de que uma empresa de tecnologia entra para um mercado do outro lado do mundo e agora está sendo solicitada a carregar a bandeira do país”, acrescentou. “Esta é uma mudança radical nem imaginada até uma década atrás.”

    A Huawei talvez tenha se tornado o exemplo mais proeminente dessa mudança.

    Há mais de um ano o governo federal dos EUA vem pressionando seus aliados para manter os equipamentos da empresa chinesa fora de suas redes 5G.

    Essa campanha pode estar produzindo alguns resultados na Europa. As autoridades britânicas disseram na primeira semana de julho as sanções dos EUA à empresa provavelmente prejudicariam a viabilidade da Huawei como provedor de rede 5G na nação.

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    Na quinta-feira (9), a Reuters relatou que a maior empresa de telecomunicações da Itália está excluindo a empresa de uma oferta por equipamentos 5G.

    O avanço da tecnologia em outras partes do mundo também sugere que existem “roteiros múltiplos e em evolução” além da rivalidade entre os Estados Unidos e a China, de acordo com Kislaya Prasad, professor de pesquisa da Escola de Negócios Robert H. Smith da Universidade de Maryland. 

    Ele mencionou a vizinha da China, a Índia, que está pressionando pelo crescimento das indústrias locais enquanto desfruta de uma grande boom da internet.

    Quando Nova Deli baniu o TikTok e outros aplicativos chineses importantes no final de junho, desenvolvedores de aplicativos locais como o Chingari, de fabricação indiana, correram para preencher esse vazio.

    Recuar ou descentralizar

    Para as empresas de tecnologia que tentam navegar neste mundo, não há opções fáceis.

    Witt, professor da escola de negócios INSEAD, disse que as empresas devem escolher entre desistir de fazer negócios em parte do mundo ou descentralizar suas operações a tal ponto que a empresa seja essencialmente duas ou mais entidades diferentes.

    O TikTok parece estar tentando seguir a segunda abordagem. Embora o aplicativo seja de propriedade da ByteDance, com sede em Pequim, ele se esforçou ao máximo para se distanciar da empresa controladora.

    Em maio, contratou o ex-executivo da Disney Kevin Mayer como seu CEO, e afirmou repetidamente que seus data centers estão localizados inteiramente fora da China, onde esses dados não estão sujeitos às leis chinesas.

    A empresa pode estar tentando fazer uma pausa ainda mais dramática. O Wall Street Journal revelou na quinta-feira (9), citando uma fonte familiarizada com o assunto, que a ByteDance está pensando em estabelecer uma sede para o TikTok fora da China ou ter um novo conselho de administração para distanciar o serviço do país.

    Um porta-voz do TikTok confirmou ao CNN Business que a empresa controladora está avaliando mudanças em sua estrutura corporativa.

    “A estreita conexão com o governo chinês é o que afastou a Huawei de tantos mercados”, afirmou Ghosh, da Harvard Kennedy School. (A Huawei sustenta que é uma empresa privada de propriedade de seus funcionários.)

    “Acho que o TikTok enxerga isso e quer se diferenciar da Huawei”, acrescentou.

    Mas isso pode não ser suficiente. Nas últimas semanas, os legisladores dos EUA têm criticado repetidamente o TikTok. Embora a empresa afirme não representar ameaças à segurança nacional, o Secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo mencionou essas preocupações nesta semana ao divulgar a ideia de banir o aplicativo.

    “O problema é que, para eles, é tarde demais”, disse Witt. “Esse holofote da atenção do público já foi jogada sobre eles. Eu acho que isso não vai acabar bem para eles.”

    – Brian Fung colaborou nesta reportagem.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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