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    Estamos abertos para negócios com plataformas de cripto, diz chefe da Visa

    Empresa fez barulho após anunciar que permitirá o uso da stablecoin USDC para liquidar transações em sua rede de pagamentos

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Após anunciar nesta segunda-feira (29) que permitirá o uso da criptomoeda USD Coin para liquidar transações em sua rede de pagamentos, a Visa fez barulho no mercado de pagamentos.

    Com este programa piloto, lançado em parceria com a plataforma de pagamentos e criptoativos Crypto.com, a companhia começa a arranhar a superfície do potencial deste mercado.

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, o head de cripto da gigante, Cuy Sheffield, falou sobre como a empresa pretende avançar no segmento e as oportunidades que devem se apresentar nos próximos anos.

    No Brasil, por exemplo, a marca já tem parceria com três fintechs –Alter, Z.ro Bank e Ripio– que oferecem serviços permeando criptoativos e moedas tradicionais. E a tendência, segundo palavras do próprio gestor, é que este ecossistema continue crescendo.

    Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

    Com as preparações e anúncios que têm feito, é justo dizer que a Visa acredita que as criptomoedas irão, mais cedo ou mais tarde, se tornar mainstream [popular]?

    Consideramos que a Visa tem um papel muito importante a desempenhar para ajudar as moedas digitais a serem integradas ao ecossistema de pagamentos existente de maneira segura e conveniente. Portanto, o anúncio que fizemos é apenas mais um passo para continuar a fazer a ponte entre o mundo das moedas digitais e das moedas fiduciárias tradicionais. 

    Temos trabalhado com 35 carteiras de criptoativos, que estão em vários estágios de emissão de programas de cartões Visa, e agora atualizamos nossa plataforma de liquidação para que clientes possam fazer e receber pagamentos e liquidar obrigações em USDC, que é uma das stablecoins [moedas de valor estável] de crescimento mais rápido no mundo. 

    Também queremos conversar com reguladores de todo o globo para que tenhamos todos os requisitos necessários para poder fornecer e implementar este serviço inicial antes de adicionar outras moedas ou outras redes.

    Mas, com o tempo, pensamos que estamos dando um sinal importante de que a Visa está aberta para negócios para plataformas de criptoativos. Continuaremos investindo na atualização de nossa infraestrutura para torná-la mais fácil e acessível. 

    Portanto, esperamos ver mais carteiras digitais chegando à Visa e emitindo cartões, o que proporcionará aos consumidores mais escolha e mais opções para ter liquidez com esses ativos.

    O efeito imediato do anúncio dessa semana é a redução de custos e complexidade para as empresas liquidarem pagamentos, certo? Mas quais são as principais oportunidades de crescimento que vocês estão vendo para o longo prazo?

    Vemos um aumento no interesse e na demanda de ambos os lados. Os consumidores, para poder acessar carteiras digitais de bitcoin e stablecoins, e de nossos clientes em todo o mundo, para ter acesso a produtos que aceitem criptoativos ou para integrá-los em seus produtos existentes. E vemos a Visa como uma ponte.

    Começamos a ser uma ponte entre essas 35 carteiras inovadoras e nossa rede de 70 milhões de comerciantes, e encontramos maneiras de torná-las mais acessíveis para as carteiras interagirem com nossa rede. 

    Também anunciamos em fevereiro um novo produto de serviço de valor agregado chamado Visa Crypto APIs, em que estamos começando a ser a ponte entre os bancos e institutos financeiros existentes e novos ativos de criptografia e redes de blockchain. 

    Portanto, conforme as wallets procuram emitir cartões e integrar pagamentos, estamos aqui para ajudar. Vemos a Visa desempenhando um papel importante para ajudar as criptomoedas a se integrarem ao sistema financeiro convencional. 

    Por que o USDC foi implementado primeiro?

    Um dos princípios básicos que temos é achar que a Visa deve ser agnóstica quanto a moedas e protocolos. O que fizemos foi: queremos oferecer suporte às moedas que nossos clientes exigem, que nossos clientes desejam usar em sua rede. 

    E é por isso que pensamos no USDC primeiro, uma vez que muitas wallets de cripto e fintechs o integraram em seus produtos e em seus negócios, usando o USDC para pagar seus funcionários e fornecedores. 

    Então, vimos a demanda por USDC primeiro e passamos a estudá-lo. Em que plataformas de blockchain ele opera? Qual é a governança? Como você o resgata? Como você garante onde o dinheiro fiduciário está sendo mantido? 

    USDC foi a primeira moeda digital que vimos a demanda do cliente e que atendeu aos nossos padrões depois de analisá-la de perto. Mas construímos o produto de forma que possamos oferecer suporte a outras moedas digitais no futuro. 

    Planejamos conversar com clientes e ver quais outras moedas digitais e, particularmente, começando com as stablecoins, quais eles gostariam de usar com nossa rede, que outros protocolos fora do ethereum. Com isso, se houver demanda dos clientes e o ativo atender aos padrões da Visa, poderá ser integrado de forma semelhante. 

    Vocês esperam ver negócios totalmente estruturados em criptoativos em um futuro próximo?

    Estamos vendo cada vez mais fintechs que estão construindo produtos em cima de blockchain e stablecoins públicos e integrando criptoativos diretamente neles. E não é apenas porque estão criando produtos, mas também administrando seus negócios com base nisso. 

    Nessa linha, vemos parceiros que mantêm seus tesouros corporativos em USDC, que pagam seus funcionários remotos em USDC, que pagam seus fornecedores em USDC. É realmente uma nova classe de clientes que está construindo novos produtos e operando seus negócios e sua infraestrutura de tesouraria em cima dessas moedas digitais. 

    A Visa está procurando encontrá-los onde eles estão e queremos ter certeza de que nossos produtos e redes existentes possam suportar os tipos de moedas digitais que eles estão utilizando. 

    Utilizando o exemplo da Tesla, como enxergam a adoção de criptoativos por grandes empresas? A Visa pensa em comprar bitcoin para diversificar seu caixa?

    Tem sido muito interessante ver a maneira como o ecossistema empresarial existente tem olhado para a aceitação de ativos digitais, e há muito poucas delas com a capacidade de aceitar diretamente transações de moeda digital em uma plataforma de blockchain pública. 

    Empresas como a Tesla criaram sua maneira contínua de aceitar bitcoin, mas a maioria dos pequenos comerciantes em todo o mundo não tem como fazer isso. Existem centenas de moedas digitais que funcionam em dezenas de redes de blockchain, então é muito difícil para os comerciantes acompanhá-las. 

    Isso requereria atualizações de seu terminal de ponto de vendas e integrações contínuas de novos serviços de pagamento, além de precisar fazer com que os consumidores mudem de comportamento. 

    E porque é tão difícil para os comerciantes aceitarem diretamente as moedas digitais, é aí que temos visto, como grande solução, uma carteira de criptoativos com credencial Visa. Isso dá ao consumidor uma maneira fácil de pagar ao comerciante, mas o comerciante não precisa alterar nada. 

    E, no lado da tesouraria corporativa, nosso foco tem sido realmente no lado do produto, de como podemos construir produtos para ajudar nossos clientes. Portanto, não temos explorado usos de criptoativos na tesouraria corporativa da Visa.

    Como enxergam o desenvolvimento de moedas digitais por bancos centrais?

    Há uma série de princípios realmente importantes para os bancos centrais considerarem ao explorarem a criação de Central Banks Digital Coins (CBDCs). E, desde os estágios iniciais, pensamos que devem ser capazes de ser integrados aos ecossistemas existentes. Ou seja, deve ser uma parceria público-privada. 

    Bancos comerciais e fintechs vão precisar desempenhar um papel importante, permitindo que os consumidores sejam capazes de acessar um CBDC usando as mesmas carteiras digitais que usam hoje. 

    Os comerciantes, por sua vez, precisam ter capacidade para aceitar isso e achamos que a Visa pode garantir que um CBDC seja integrada aos bancos comerciais e fintechs e possa ser gasta em todo comércio. 

    Acredita que este mercado vai se desenvolver com ou sem o plástico dos cartões?

    As credenciais da Visa têm um papel importante e podem ser digitais. Você pode pagar com seu telefone, por exemplo. Acreditamos que as formas de pagamento irão evoluir com o tempo para as preferências dos clientes e as próprias moedas. 

    Uma das coisas interessantes sobre o mundo cripto é a evolução de como funciona o dinheiro. Mas achamos que, mesmo com a evolução, você ainda precisa ter ampla aceitação. 

    Você precisa encontrar maneiras de integrar com segurança essa nova tecnologia aos bancos e carteiras digitais existentes. Portanto, há um papel importante para a Visa ser esta ponte entre as moedas fiduciárias e as digitais. 

    Vemos a Visa evoluindo para ser a rede de redes, sendo um ponto único de conexão na provisão de tecnologia para nossos clientes, para ajudá-los a movimentar valor em qualquer rede que apareça no futuro.

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