Escassez global de chips atinge montadoras enquanto setor tenta recuperação
Volkswagen, Ford, Fiat Chrysler e Nissan estão entre as principais montadoras que sofrem com a escassez global de chips
As maiores montadoras do mundo estão enfrentando uma escassez crítica de semicondutores que ameaçam a produção de veículos, justamente no momento em que o setor tenta se recuperar de uma queda nas vendas causada pela pandemia.
Volkswagen, Ford, Fiat Chrysler e Nissan estão entre as principais montadoras que sofrem com a escassez global de chips, que são usados em um número crescente de aplicações, incluindo sistemas de assistência ao motorista e controle de navegação. O carro médio tem entre 50 e 150 chips.
A Volkswagen disse em comunicado no mês passado que precisará adaptar a produção em fábricas na China, América do Norte e Europa neste trimestre. As mudanças afetarão a produção do best-seller VW Golf, bem como os modelos de suas marcas Audi, Skoda e Seat.
De acordo com analistas do UBS, a maior montadora do mundo pode perder a produção de 100 mil unidades nos primeiros três meses do ano, ou cerca de 4% da produção trimestral global, como resultado da escassez de componentes.
“Estamos fazendo tudo ao nosso alcance para minimizar a perda de produção e garantir que as entregas normais aos clientes possam ser retomadas o mais rapidamente possível”, disse o gerente de compras do Grupo Volkswagen, Murat Aksel, em comunicado em 18 de dezembro.
Um porta-voz da Volkswagen disse à CNN Business na terça-feira (12) que a situação continua difícil, mas não é possível quantificar o impacto nesta fase.
A Ford interrompeu a produção esta semana em sua fábrica de montagem em Louisville, Kentucky, nos EUA, que monta o Escape e o Corsair, como resultado da escassez de semicondutores. A empresa disse em um comunicado na segunda-feira (11) que está trabalhando em estreita colaboração com os fornecedores e priorizando “as principais linhas de veículos para a produção”.
A Fiat Chrysler disse que atrasará o reinício da produção após uma pausa programada em sua fábrica em Toluca, México, que constrói o Jeep Compass. Ela também irá programar paralisações em sua fábrica canadense em Ontário, que produz o Chrysler 300, o Dodge Charger e o Dodge Challenger.
“Isso irá minimizar o impacto da atual escassez de semicondutores, ao mesmo tempo em que garante a manutenção da produção em nossas outras fábricas na América do Norte”, afirmou a empresa em um comunicado. A Fiat Chrysler deve se fundir com o Grupo PSA (PUGOY) este mês.
As montadoras japonesas Honda (HMC) e Nissan confirmaram que também enfrentam problemas de abastecimento, mas não detalharam o impacto. A revista japonesa de negócios “Nikkei” revelou na semana passada que a Honda reduzirá a produção em cerca de 4.000 unidades neste mês, afetando principalmente o subcompacto Fit feito em sua fábrica de Suzuka. A Honda disse em um comunicado na terça-feira (12) que a fábrica está funcionando normalmente no momento.
A interrupção chega em um momento crucial para as montadoras, que sofreram um colapso nas vendas nos primeiros meses da pandemia, mas continuam sob intensa pressão dos reguladores globais para investir pesadamente em carros elétricos. A empresa de pesquisas Bernstein estima que as vendas globais de veículos leves crescerão 9% em 2021, após uma queda esperada de 15% no ano passado.
Escassez de chips
O gargalo da cadeia de suprimentos pode acabar prejudicando os negócios. Uma recuperação muito mais forte do que o esperado nas vendas e nos volumes de produção contribuíram para a crise, mas as montadoras correm o risco de perder o aumento da demanda se as linhas de montagem desacelerarem.
Quando a pandemia forçou os fabricantes de automóveis a fechar temporariamente as fábricas no ano passado, os principais fabricantes de semicondutores realocaram a capacidade de produção para empresas que fabricam smartphones, laptops e dispositivos de jogos.
“Com prazos de entrega de seis a nove meses, a indústria de semicondutores não foi capaz de crescer rápido o suficiente para atender a este crescimento inesperado na demanda automotiva”, escreveu o fornecedor de peças Continental (CTTAF) em um comunicado enviado à CNN Business.
Os gargalos devem continuar “até meados de 2021, causando grandes interrupções na produção da Continental”. A empresa disse que uma força-tarefa interna supervisionada pela alta administração está gerenciando a “situação crítica”.
As montadoras respondem por apenas cerca de 12% de toda a demanda global de semicondutores, o que as coloca em uma posição de compra relativamente fraca, segundo Arndt Ellinghorst, analista sênior da Bernstein.
A Bosch, maior fornecedora de peças automotivas do mundo, disse em um comunicado na terça-feira que está fazendo “todo o possível” para manter os clientes abastecidos. “Nesse aspecto, mantemos um contato diário estreito com os nossos fornecedores e clientes”, acrescentou.
A BMW disse que ainda não teve que lidar com interrupções na produção, mas também está em “contato constante” com seus fornecedores. A General Motors (GM) e a francesa Renault (RNLSY) disseram que estão trabalhando com fornecedores para mitigar o impacto na produção, enquanto a Mercedes-Benz, da Daimler (DDAIF), disse que está “monitorando a situação”.
Para o analista Ellinghorst, a crise da oferta deve ser aliviada no segundo trimestre. Mas vai demorar mais para o setor se recuperar da pandemia.
A produção global de veículos não deve retornar ao seu nível de 2019 antes de 2022, segundo o analista.
– Chris Isidore contribuiu com reportagem –
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).