Entenda o que acontece se a Rússia cortar o fornecimento de gás à Europa
Instituição com sede em Bruxelas alerta que a Europa deve se preparar para um eventual corte do fluxo de gás russo; região importa cerca de 40% do seu gás natural da Rússia
Se a Rússia interromper o fornecimento de gás à Europa para retaliar as sanções punitivas por sua invasão da Ucrânia, a região ainda poderá sobreviver no próximo inverno. Mas não será fácil ou barato.
Essa é a conclusão de um relatório publicado na segunda-feira pela Bruegel. A instituição com sede em Bruxelas alertou que os preparativos “devem ser feitos para o término completo de todos os fluxos de gás russo para a Europa”.
“Se a UE for forçada ou estiver disposta a arcar com o custo, deve ser possível substituir o gás russo já para o próximo inverno sem que a atividade econômica seja devastada, as pessoas congelem ou o fornecimento de eletricidade seja interrompido”, disseram os pesquisadores da Bruegel. “Mas no terreno, dezenas de regulamentos terão que ser revisados, procedimentos e operações usuais revisitados, muito dinheiro gasto rapidamente e decisões difíceis tomadas”.
Graças às importações recordes de gás natural liquefeito de países como os Estados Unidos nos últimos meses, a Europa deve ser capaz de durar até o verão sem graves faltas de energia, mesmo que a Rússia corte intencionalmente seus suprimentos de gás – ou se a infraestrutura principal for danificada em meio aos combates na Ucrânia.
No entanto, a Bruegel diz que o bloco precisa começar a pensar em como reabastecer seus estoques, dos quais os países da Europa dependem para manter as luzes acesas e aquecer as casas.
A Europa importa cerca de 40% do seu gás natural da Rússia. A Alemanha, a maior economia do bloco, está particularmente exposta: a Rússia fornece cerca de metade de seu gás natural.
Áustria, Hungria, Eslovênia e Eslováquia obtêm cerca de 60% de seu gás natural da Rússia, enquanto a Polônia obtém 80%.
O carvão e o clima
Se as importações russas cessarem, a Europa precisará reduzir a demanda por gás em pelo menos 400 terawatts-hora, ou cerca de 10% a 15% da demanda anual, segundo a Bruegel. O grupo disse que isso é “possível”, mas exigiria mudanças nas políticas. Algumas opções incluem aumentar o uso de combustíveis alternativos, como carvão, retardar a desativação de usinas nucleares ou reduzir a demanda de players industriais.
Este cenário também pressupõe que a UE “pode adquirir quantidades sem precedentes de GNL, que os participantes do mercado tenham incentivos suficientes para comprar e armazenar gás a preços elevados e que o gás seja então distribuído sem problemas entre os países”.
A maior utilização de carvão, em particular, teria grandes consequências para o clima. Um importante relatório apoiado pela ONU publicado na segunda-feira descobriu que o aquecimento global está a caminho de transformar a vida na Terra como a conhecemos, com efeitos mais perturbadores e generalizados do que os cientistas esperavam 20 anos atrás.
A Europa está começando a planejar com antecedência. No domingo, o chanceler alemão Olaf Scholz, que tomou a decisão de suspender a certificação do gasoduto Nord Stream 2 da Rússia na semana passada, disse que o país construirá dois novos terminais de GNL.
“Precisamos fazer mais para proteger o suprimento de energia do nosso país”, disse Scholz.
A Alemanha também está considerando a possibilidade de estender a vida de suas três usinas nucleares restantes, que devem ser fechadas este ano.
A Bruegel diz que o gerenciamento de custos, bem como a coordenação entre governos e empresas, será um desafio à medida que a Europa tenta reabastecer seu suprimento de gás. Os preços na Europa estão abaixo dos recordes atingidos em dezembro, mas continuam elevados.
Adicionar cerca de 70 terawatts-hora de gás ao armazenamento da UE antes do próximo inverno custaria pelo menos € 70 bilhões (US$ 79 bilhões), em comparação com € 12 bilhões (US$ 13,5 bilhões) nos anos anteriores, segundo a Bruegel.