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    Entenda estratégia da Argentina para driblar câmbio informal com nova regra a turistas

    Cotação do dólar já está habilitada nesta sexta-feira (22) para bancos e casas de câmbio autorizadas, porém, oferta ao público dependerá de cada entidade financeira

    Luciana Taddeocolaboração para a CNN , em Buenos Aires

    O governo de Alberto Fernández estabeleceu uma taxa de câmbio oficial diferenciada para turistas estrangeiros que vierem ao país. Segundo o Banco Central da Argentina, esta cotação do dólar já está habilitada nesta sexta-feira (22) para bancos e casas de câmbio autorizadas, porém, a oferta ao público dependerá de cada entidade financeira.

    Atualmente, o turista que chega à Argentina, acaba buscando o mercado informal de troca de dinheiro devido à enorme vantagem de trocar aos valores não regulados pelo governo, para não perder dinheiro, já que no mercado paralelo, acabam conseguindo uma vantagem financeira de 100% a 150%.

    A cotação oferecida aos visitantes estrangeiros será mais próxima às do mercado cambiário informal, já que oficialmente o dólar é comprado a 136 pesos e no mercado paralelo a 341 pesos. Já o real vale 25 pesos argentinos no câmbio controlado pelo governo e hoje era negociado a até 60 pesos na rua Florida, epicentro das casas de câmbio de Buenos Aires.

    De acordo com a nova regulação, turistas estrangeiros não residentes poderão vender moeda estrangeira no “valor de referência do dólar no mercado financeiro, por uma quantidade máxima de US$ 5 mil (ou seu equivalente em outras moedas) mensais”. Esta cotação será a do dólar que na Argentina é conhecido como “MEP” (Mercado Eletrônico de Pagamentos), mais próximo do câmbio paralelo do que do oficial.

    O dólar MEP está oscilando entre 315 e 327 pesos. Para trocar a este novo valor oficial, os turistas estrangeiros precisarão apresentar o documento válido com o qual entraram na Argentina, assinar uma declaração juramentada atestando que são turistas e que não realizaram operações financeiras que superem US$ 5 mil nos últimos dias no país.

    O objetivo do governo argentino é fortalecer as reservas do Banco Central com os dólares que entram no país. O ministério do Turismo calcula que somente neste ano, US$ 1,4 bilhão foi gasto por visitantes estrangeiros, mas que somente 15 ou 16% passaram pelo mercado formal de câmbio. Ainda segundo a pasta, os brasileiros representam 25% do turismo receptivo da Argentina.

    Nesta quarta (21), a cotação paralela do dólar atingiu um novo recorde, e fechou em 345 pesos, o que gera preocupação entre os argentinos, já que a oscilação da moeda norte-americana incide nos preços locais, acelerando a inflação.

    O aumento de preços acumulado dos últimos 12 meses da Argentina chegou a 64% e somente em junho foi de 5,3%. Estima-se que a inflação de julho seja ainda maior, devido à forte desvalorização do peso após a saída do ex-ministro da Economia Martín Guzmán, no começo do mês. Desde o anúncio da sua renúncia, o valor do dólar paralelo aumentou 44%.

    Em discurso nesta sexta-feira, o presidente Alberto Fernández disse que enfrentará os desafios como a inflação, “os que especulam com o dólar” e “os que guardam 20 bilhões de dólares no campo”. Segundo ele, há setores ruralistas que não estão vendendo produtos agropecuários à espera de maior rentabilidade, em um momento em que o Banco Central do país precisa acumular moeda estrangeira. O valor das exportações em dólares são recebidos no câmbio oficial.

    Em comunicado emitido após o discurso, as Confederações Rurais Argentinas (CRA) afirmaram que “os produtores não seguram soja nem grãos, simplesmente escalonam vendas ao longo dos meses para financiar seus próprios gastos ao longo do ano. Já liquidaram toda a colheita recorde de trigo e quase toda a de milho”.

    O setor também nega que esteja retendo US$ 20 bilhões em exportações. “Não teria como, porque são a renda total dos produtores em um ano do calendário”, expressou a CRA, que afirma que os produtores “já contribuíram com moedas estrangeiras de exportação de US$ 3,5 bilhões de trigo e US$ 4,6 bilhões de milho no primeiro semestre.

    Já os setores populares manifestam cada vez mais insatisfação nas ruas com a crise. Na última quarta, manifestantes de organizações consideradas próximas ao governo cortaram a principal via de acesso à cidade de Buenos Aires, exigindo um auxílio universal de 15 mil pesos (cerca de US$ 45 no mercado paralelo), para que 7 milhões de pessoas sem renda fixa não fiquem sob a linha de indigência.

    Um dos mais importantes dirigentes da concentração, Juan Grabois, disse em discurso que a população votou em Alberto Fernández “para que não houvesse fome, e não para que houvesse mais”, e disse que a população está disposta a deixar “sangue nas ruas” para que os argentinos já não passem fome.

    Questionado em um canal de televisão sobre as declarações, ele afirmou que prefere “dizer o que pensa agora e não lamentar quando comecem saques” a comércios no país.

    Segundo os últimos dados oficiais, no segundo semestre do ano passado mais da metade das crianças argentinas estava na pobreza. Estima-se que a situação possa ter se agravado com a alta inflação dos últimos meses.

     

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