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    Entenda como funciona o primeiro ETF de bitcoin nos Estados Unidos

    Para especialistas, ainda é cedo para dizer de que forma a opção de investimento impactará na cotação da criptomoeda

    Lançamento ocorre após anos de demora na análise por instituição dos EUA
    Lançamento ocorre após anos de demora na análise por instituição dos EUA André François McKenzie/Unsplash

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business*

    em São Paulo

    O primeiro ETF ligado ao bitcoin começou a ser negociado na bolsa de Nova York, nos Estados Unidos, na terça-feira (19), em um movimento bastante aguardado pelos entusiastas do setor. O anúncio ajudou a criptomoeda mais negociada do mundo a se valorizar nos últimos dias, se aproximando do recorde, em torno de US$ 64 mil.

    Apesar das grandes expectativas, especialistas consultados pelo CNN Brasil Business afirmam que é cedo para dizer como o ETF afetará a cotação do bitcoin. Mesmo assim, a novidade é vista como um passo importante para o setor dos criptoativos, além de ser considerada uma forma de aproximar investidores de varejo das criptomoedas.

    O que é ETF?

    A sigla ETF significa Exchange Traded Fund, ou fundos de índice negociados na bolsa, em tradução livre. Diferentemente de outros fundos, as cotas são negociadas como se fossem ações, com códigos.

    Nos Estados Unidos, o primeiro ETF de bitcoin, da empresa ProShares, tem o código BITO. Já no Brasil, o primeiro ETF de criptomoedas negociado na B3, lançado em 2021, tem código HASH11.

    Segundo Bruno Sousa, diretor jurídico e de compliance da Hashdex, essa diferença é importante, pois o investidor consegue ver diretamente as negociações em torno do fundo, acompanhando a variação imediata dele sem prazos para entrada e resgate.

    Para ele, essa característica torna os ETFs uma “ponta perfeita” para quem tem interesse em se expor às criptomoedas, mas não quer criar contas em exchanges ou carteiras digitais, investindo por meio de corretoras tradicionais.

    Henrique Teixeira, country manager da exchange Ripio no Brasil, afirma que existem alguns tipos de ETFs ligados às criptomoedas. Existem os totalmente lastreados em bitcoin, cuja cotação segue a da criptomoeda, e os que possuem uma carteira composta por vários ativos, cada um com um peso diferente na composição.

    Mercado futuro

    O primeiro ETF negociado nos Estados Unidos está ligado ao preço do bitcoin no chamado mercado futuro da bolsa de Chicago, em que são negociados contratos de compra e venda da criptomoeda com uma data estipulada.

    “Esse fundo vai estar referenciado em futuros de bitcoin. Não compra a criptomoeda diretamente, tem apenas a guarda de contratos futuros negociados na bolsa de Chicago”, diz Bruno Milanello, diretor de novos negócios da exchange Mercado Bitcoin.

    Segundo Sousa, levantamentos mostram que os futuros costumam ser “bem correlacionados” com o comportamento dos ativos de bitcoin, “por isso é um produto bem interessante para traders profissionais”. A exposição acaba sendo mais ao preço do bitcoin do que à criptomoeda em si.

    A longo prazo, porém, ocorre o que ele chama de “queima de valor” do fundo devido aos custos de manutenção dos contratos, o que pode gerar uma distância nas cotações do ETF e do bitcoin em si.

    Por ter o maior mercado financeiro do mundo, os Estados Unidos sempre foram um alvo de empresas do setor de criptomoedas para lançamentos de ETFs. O primeiro, porém, surgiu nas Bermudas, criado pela Hashdex. Em seguida, foram lançados fundos no Brasil e no Canadá. A dificuldade de lançamento nos Estados Unidos se deu, principalmente, por questões regulatórias.

    A SEC e o bitcoin

    A SEC (U.S. Securities and Exchange Commission) é o equivalente nos Estados Unidos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil. É ela que regula o mercado financeiro no país. O lançamento de ETFs ligados a criptomoedas dependem que a instituição, ao menos, não dê um parecer negativo.

    Os primeiros pedidos para lançamento de ETFs de bitcoin ocorreram em 2013, mas não deram certo. Eles foram seguidos por vários outros pedidos que foram rejeitados ou ficavam parados, aguardando análise.

    “A SEC teve duas presidências que não gostavam dos criptoativos, então, se omitiram e até bloquearam. O mercado amadureceu muito de 2013 para cá, já tiveram países que aprovaram, então, ajuda a tirar dúvidas e preocupações do regulador”, diz.

    A grande mudança, porém, veio com a posse de Gary Gensler como presidente da organização. Conhecedor do setor, ele deu declarações de que a SEC poderia permitir a negociação de ETFs, mas não exatamente como o desejado.

    A aprovação dos fundos está ligada a duas leis do país, uma de 1933 e outra de 1940. Segundo Sousa, a de 1933 é “mais flexível”, e permitiria que o ETF fosse lastreado diretamente no bitcoin. Já a de 1940 “é mais restrita”, e exigiria o lastreamento nos contratos futuros. Foi para os ETFs de contratos futuros que Gensler deu o sinal positivo.

    “Não foi o esperado. O que se esperava era que houvesse a aprovação análoga ao HASH11. Pega dinheiro, compra bitcoin e deixa na carteira”, diz. Apesar disso, Teixeira considera que o movimento “veio para legitimar muito do que já vinha sendo feito no setor, e permitir uma regulamentação do mercado futuro também”.

    A sinalização fez com que várias empresas apresentassem ETFs ligados aos contratos futuros. Milanello explica que a SEC não necessariamente aprovou a estreia, apenas não se opôs, o que permitiu o lançamento.

    Para o diretor da Hashdex, o próximo passo, que seria a permissão para o lançamento de ETFs ligados diretamente ao bitcoin ainda demorará um pouco, já que seria “uma grande mudança” na posição da SEC.

    “Nos Estados Unidos, a ausência de autorização criou várias alternativas imperfeitas, como fundos que são quase ETF, mas sem o componente de resgate das cotas. Agora, entenderam que a melhor forma de proteger o investidor é dar acesso a um produto que funcione bem”, diz Sousa.

    Impacto no bitcoin ainda é incerto

    Apesar de os especialistas reconhecerem a importância da aprovação, eles consideram que ainda é cedo para dizer qual será o efeito na cotação do bitcoin.

    Bruno Milanello afirma que um dos motivos para essa dificuldade de previsão é a falta de eventos que permitam entender o comportamento do mercado. Até hoje, ele aponta apenas dois grandes marcos no que chama de “fusão do mercado tradicional com o de criptomoedas”.

    O primeiro foi em 2017, quando os futuros de criptomoedas começaram a ser negociados nos Estados Unidos. À época, os preços caíram após operações de investidores, revertendo uma tendência de alta.

    Já em 2021, houve a oferta pública inicial, IPO na sigla em inglês, de ações de uma das maiores exchanges de criptomoedas, a Coinbase. “O mercado estava em uma tendência de alta, e a listagem bateu com uma queda do preço das criptomoedas”, diz.

    “Existem discussões se o ETF vai mexer de forma positiva ou negativa. Acho difícil de prever, mas considero que a história é diferente agora. O mundo está mais acostumado”, afirma.

    Já Henrique Teixeira afirma que uma característica conhecida do bitcoin, a alta volatilidade com variações bruscas de preço, “não deve mudar” com o lançamento do ETF e, portanto, o próprio fundo terá uma certa volatilidade.

    Bitcoin

    “É interessante porque obviamente o ETF vai ser volátil. O que tem de diferença para o investidor são alguns detalhes sobre contraparte, que sabe que opera dentro de uma corretora que conhece, com uma regulamentação controlando o investimento, e algumas vantagens para novos entrantes”, diz.

    “Por outro lado, os investidores mais avançados podem não ver o ETF como o melhor veículo para investirem. O ETF é algo mais passivo, quadrado, quanto à diversificação e oportunidade de investir de forma rápida”.

    Para Sousa, a tendência é de valorização. “Quem está no mercado há mais tempo têm visto uma sequência de eventos positivos. Cada um dá robustez ao mercado, entrada de empresas, novos fundos surgindo, empresas que incluem bitcoin no balanço tornam os fundamentos mais fortes, não só a narrativa, então, entrega mais a promessa de ser um ativo central para o sistema financeiro”.

    Teixeira afirma, porém, que em breve o mercado de bitcoin deve enfrentar uma nova volatilidade, com investidores que compraram o ativo, e viram a sua valorização, vendendo-o para ter uma margem de lucro, a chamada realização.

    “Devemos notar nos próximos meses uma correção no mercado, até global, quanto a esses ativos, de investidores que querem efetivar ganhos e lucros com a alta mais recente, o que deve manter essa volatilidade. Vai ter gente saindo e gente entrando, e o ETF vai replicar isso”.

    *Sob supervisão de Thâmara Kaoru