O dólar está quase voltando para a casa dos R$ 4 – vai cair ainda mais?
Possibilidade de vacina é favorável para moedas emergentes, mas isso não necessariamente valoriza o real – o governo precisa fazer a sua parte na área fiscal
O dólar parecia cada vez mais próximo de voltar para a casa dos R$ 4 no pregão desta segunda-feira (7). Seria uma queda simbólica após seis meses ininterruptos com o dólar valendo mais do que R$ 5. A moeda americana chegou a cair quase 2% e alcançou os R$ 5,05. Mas aí, veio a realidade.
Notícias de que congressistas começaram a pensar em novos formatos para driblar o Teto de Gastos foram o suficiente para todo esse otimismo se resultar em uma recuperação do valor da moeda americana. No fim do dia, a moeda americana fechou estável em R$ 5,12.
Mesmo assim, não dá para dizer que o movimento nos últimos tempos não é positivo. O dólar caiu quase 7% em novembro, o que representou a maior queda mensal nos últimos dois anos. Mas, no ano, a desvalorização do real é de quase 28%. É possível imaginar uma volta aos patamares de janeiro, por volta de R$ 4,01?
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Impossível não é, mas depende de uma série de fatores. O primeiro deles ajuda nessa valorização do real: há uma onda de otimismo global, que faz os investidores deixarem de apostar apenas em ativos mais seguros (como o dólar e o ouro) e partir para mercados com maior risco (o que também pode significar maior retorno). Com isso, o dólar não se desvalorizou apenas frente ao real, como em comparação a uma série de moedas emergentes.
Para a economista Cristiane Quarteroli, da corretora Ourinvest, a perspectiva mundial de que a pandemia do novo coronavírus pode estar chegando ao fim é a principal razão deste recuo. “Este ânimo geral por conta das vacinas aumenta a liquidez no mercado, uma melhora importante para as moedas emergentes”, diz.
Exemplos desta perspectiva foram noticiados hoje. O Reino Unido anunciou que começa a vacinação nesta terça-feira em seu território e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB-SP), afirmou nesta manhã que a vacina começará no estado a ser distribuída no dia 25 de janeiro. É bom lembrar, no entanto, que é necessária a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“É fundamental acompanharmos nas próximas semanas quais serão os avanços do calendário interno de vacinação”, afirma Quarteroli. A economista acredita que só teremos certeza se o dólar continuará a recuar a longo prazo quando recebermos mais informações a respeito da evolução da pandemia.
Problemas dentro de casa
Mas, como dito, não basta apenas torcer para que a pandemia passe. Existem diversos problemas no país em que não se enxergam soluções em um horizonte próximo. A questão fiscal no Brasil é o que mais preocupa os especialistas.
Emerson Marcal, professor da escola de economia da Fundação Getulio Vargas, reforça que o Brasil segue em um cenário difícil e incerto. “Temos de tentar entrar nos eixos o mais rápido possível. A parada das reformas fiscais é uma interrogação que atrapalha bastante a valorização de nossa moeda”, afirma.
“Estamos saindo de uma bolha de pessimismo mundial e caminhando em direção a uma realidade de menor risco global. Porém, no Brasil, a realidade fiscal ainda é muito arriscada, e isso pode nos prejudicar”, explica Marcal.
Não por acaso, as previsões para o câmbio são tão díspares. O banco Santander, por exemplo, acredita que a moeda americana pode variar entre R$ 4,60 e R$ 6,70 em 2021 – cenário com e sem reformas fiscais.
Atrapalha ainda mais a relação tumultuada entre o governo e o Congresso Nacional. Com a definição do Supremo Tribunal Federal de que Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) não poderão concorrer à reeleição das presidências da Câmara e do Senado, respectivamente, azedou ainda mais o clima entre uma ala dos congressistas e o governo.
A definição dos próximos presidentes do Congresso, marcada para 1º de fevereiro, é aguardada com ansiedade por especialistas. Como são eles que têm o poder de pautar o andamento das reformas, são peças essenciais para o dólar voltar a um valor mais equilibrado.
Quarteroli completa que neste sentido a definição do Banco Central sobre que rumo será tomado em relação a inflação no país, que, segundo o Boletim Focus, pode ficar acima do centro da meta do governo em 2021.
Uma alta dos juros pode atrair a vinda de mais investidores, o que influencia diretamente na valorização da moeda. E a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que tem o poder de definir isso, começa nesta terça-feira (8).
(sob supervisão de André Jankavski)
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