Dólar pode variar de R$ 4,60 a R$ 6,70 em 2021 de acordo com reformas, diz banco
A vacina da covid-19 já está chegando e, depois disso, todos os olhos do mercado estarão na política fiscal do governo --e o dólar será um grande termômetro
O vaivém do dólar em 2020 foi acompanhado de perto, inclusive, por quem não é especialista no assunto. É que a moeda americana tem impacto no preço de produtos essenciais, como o arroz, que foi o vilão do orçamento doméstico durante algum tempo. E o que esperar para o câmbio nos próximos meses?
Depende. Pode recuar para R$ 4,60 ou subir para R$ 6,70, de acordo com estimativas do Santander. Quem vai definir a direção, para cima ou para baixo, é o governo (e o Congresso), à medida que as reformas entendidas como essenciais para a economia avançarem ou não em 2021.
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“É hora de pisar no freio e ter uma contenção de gastos”, diz Jankiel Santos, economista do Santander. “O governo tem que sinalizar que não vai ter uma quebra da confiança no lado fiscal e que o mercado não vai precisar fazer uma correção.”
Para Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, com todas as reformas caminhando na velocidade esperada, o dólar pode chegar a R$ 4,80 logo no primeiro semestre. O andamento de um plano de vacinação também vai ser importante. “No fim, tudo está atrelado à questão fiscal”, diz ele. Se nada andar, o dólar “facilmente passará dos R$ 6”, afirma.
O Boletim Focus, que reúne as estimativas de dezenas de instituições e economistas, prevê dólar a R$ 5,36 até o fim deste ano, passando a R$ 5,20 em 2021 e encerrando 2022 valendo R$ 5.
É bom lembrar que o câmbio é uma variável extremamente difícil de se prever. Afinal, leva em conta duas moedas, e elas podem sofrer impactos distintos ao mesmo tempo. Temas como preços de matérias-primas, taxas de juros no Brasil e lá fora e até mesmo turbulência políticas impactam no preço das moedas. Por isso, o imponderável sempre é esperado.
O que acontece se as reformas não andarem?
O mercado espera que avancem no Congresso temas como a PEC Emergencial, as reformas administrativa e tributária e a aprovação do Orçamento (que deveria ter acontecido já há algum tempo), além de que seja respeitado o Teto de Gastos –que é aquela regra que permite que o governo apenas gaste o que gastou no ano passado mais a inflação do período.
Caso contrário, pode haver uma quebra de confiança. E, sem confiança, os fundamentos econômicos vão entrar em um ciclo negativo, e os efeitos negativos crescerão como uma bola de neve, segundo Jankiel. O cenário: sem confiança, os investidores pedirão mais juros para comprar títulos de dívida do governo. Consequentemente, a taxa básica de juros, a Selic, vai subir, o que diminui o ímpeto por consumos e empréstimos.
Poderia ser uma notícia positiva para o controle da inflação e do preço do dólar, mas o atual cenário de incertezas na verdade faria com que o real perdesse ainda mais valor para o dólar.
Dólar alto é bom ou ruim?
Dólar alto não é necessariamente ruim. Para um país exportador, como o Brasil, pode ser até positivo. É só ver o exemplo dos balanços de empresas como a mineradora Vale (VALE3) e os frigoríficos Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3), que têm apresentado lucros robustos.
Mas o dólar mais alto causa também inflação e faz subir o preço de alimentos básicos. Para dar apenas um exemplo: lembra da alta do arroz? O dólar foi um dos causadores. Afinal, os produtores viram a procura do alimento aumentar por causa da pandemia e era mais vantajoso vender para o exterior do que no mercado interno. A procura aumentou mais do que a oferta e os preços subiram. E não é só ele: trigo, eletrônicos, perfumes e afins são outros exemplos. Muitos produtos aqui do Brasil podem ter componentes importados e também ficariam mais caros.
Logo, como sempre na vida, o equilíbrio é um fator muito importante.
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