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    Dobrando a meta: O que esperar das Big Techs após grandes resultados do 1º tri

    A venda de hardware, os serviços de nuvem e as receitas de publicidade foram três dos maiores drivers para o segmento no primeiro trimestre

    Matheus Prado, do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    As grandes empresas de tecnologia listadas em Wall Street, também conhecidas como Big Techs, continuam surpreendendo o mercado financeiro. Isso porque se esperava, após resultados expressivos em 2020, um abrandamento do ritmo dos negócios neste início de 2021, o que não ocorreu.

    Pelo contrário, empresas como Alphabet (dona do Google), Facebook e Apple apresentaram números robustos no primeiro trimestre, adiando a rotação de portfólios anunciada por analistas desde o final do ano passado ou, quem sabe, redirecionando as expectativas do mercado.

    “Acreditávamos que haveria uma rotação de portfólios e que empresas de consumo e ligadas à economia real iriam performar melhor, por conta da reabertura. Mas as big techs mostraram que a demanda represada no setor de serviços também pode ser boa para elas”, diz Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities.

    Esse sentimento foi corroborado pelo megainvestidor Warren Buffett, durante encontro anual com investidores. Ele afirmou que “provavelmente foi um erro” vender, no final do ano passado, parte das ações da Apple que estavam alocadas na carteira da Berkshire Hathaway. E disse ainda que, enquanto as taxas de juros permanecerem baixas, o setor deve continuar produzindo bons resultados.

    Nessa linha, é possível olhar mais profundamente para os resultados das companhias, entender como cada uma delas se destacou no período e tentar mapear como isso deve continuar se desenvolvendo no futuro. A venda de hardware, os serviços de nuvem e as receitas de publicidade foram três dos maiores drivers para o segmento. Confira.

    (A Tesla foi propositalmente deixada de fora, já que gerou receitas através da valorização do bitcoin e da emissão de créditos de carbono.)

    Hardware

    Na Apple, a receita do último trimestre somou US$ 89,6 bilhões, enquanto o lucro foi de US$ 1,40 por ação e o lucro total foi de US$ 23,6 bilhões. A estimativa média do mercado era de faturamento de US$ 77,4 bilhões e lucro de US$ 0,99 por papel, segundo dados da Refinitiv.

    As vendas gerais de produtos da empresa foram de US$ 72,6 bilhões, impulsionadas pelo lançamento de novos iPads, o Apple Watch Series 6 e uma gama atualizada de MacBooks com chips de silício internos da própria companhia. Vale lembrar que a marca também lançou sua primeira linha de telefones 5G em 2020.

    Estes resultados vieram apesar da crise global de fornecimento de semicondutores, que atingiu montadoras de veículos, mas parece ter deixado a Apple ilesa. “Não houve uma questão material sobre nossos resultados por causa da oferta de componentes”, disse Tim Cook, CEO da companhia.

    Já na Microsoft, a receita e o lucro ajustado por ação para o trimestre foram de US$ 41,7 bilhões e US$ 1,95 por papel, também acima das estimativas dos analistas. A unidade de computação pessoal da Microsoft, que contém o sistema operacional Windows e console de videogames Xbox, teve vendas de US$ 13 bilhões.

    Serviços de nuvem

    Ainda na companhia fundada por Bill Gates, a divisão de computação em nuvem Azure cresceu 50% no trimestre, ou 46% quando ajustado para variações cambiais. O faturamento da área de “nuvem inteligente”, que engloba a plataforma, somou US$ 15,1 bilhões, acima das estimativas de US$ 14,9 bilhões.

    Na mesma linha, a Amazon registrou lucro líquido de US$ 8,1 bilhões no primeiro trimestre de 2021, ou US$ 15,7 por ação, uma alta de 224% na comparação com igual período do ano passado. O resultado superou a previsão de lucro de US$ 9,5 por ação dos analistas consultados pela FactSet.

    “Dois de nossos filhos estão agora com 10 e 15 anos –e, depois de anos sendo alimentados, eles estão crescendo rápido e estão se recuperando”, afirmou o fundador e CEO da Amazon, Jeff Bezos, em referência ao Prime Video, serviço de vídeo sob demanda, e à Amazon Web Services (AWS), plataforma de computação em nuvem.

    A AWS registrou vendas líquidas de US$ 13,5 bilhões durante o trimestre, um aumento de 32% ano a ano. E, à medida que mais empresas utilizam a tecnologia para gerenciar funcionários que estão dividindo o tempo entre suas casas e o escritório, as perspectivas parecem boas.

    “Durante a pandemia, vimos muitas empresas decidirem que não querem mais gerenciar sua própria infraestrutura de tecnologia”, disse o diretor financeiro da companhia, Brian Olsavsky, em uma ligação com analistas. “Esperamos que esta tendência continue à medida que avançamos na recuperação pós-pandemia.”

    Publicidade

    Para muitos analistas, essa foi a área que mais chamou atenção. “Os maiores destaques foram Facebook e Google. Os números vieram melhores em termos de receita e, principalmente, nas vendas do segmento de marketing. Com a reabertura, muitas empresas voltaram a investir nisso”, diz Zanin.

    Empresa controladora do Google, a Alphabet reportou receitas de US$ 55,3 bilhões nos primeiros três meses do ano – um salto de 34% em relação ao mesmo período do ano passado – e teve um lucro próximo de US$ 18 bilhões, superando com sobras as estimativas dos analistas.

    A receita de publicidade do Google cresceu 32% em comparação com o mesmo período de 2020, enquanto as empresas se prepararam para uma explosão de atividade econômica pós-pandemia. Os anúncios do YouTube geraram US$ 6 bilhões em receita, um aumento de 49%.

    Na mesma linha, o Facebook registrou lucro líquido de US$ 9,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 94% ante igual período do ano passado. O lucro por ação diluído ficou em US$ 3,3, um avanço anual de 93% e resultado acima da previsão de US$ 2,3 dos analistas ouvidos pelo FactSet. A receita da companhia ficou em US$ 26,1 bilhões, crescimento de 48% na mesma comparação. 

    A rede social informou que seus usuários diários ativos eram 1,88 bilhão, em média, no trimestre até março de 2021, avanço de 8% na comparação anual. A empresa também destacou a força de seu crescimento na receita com publicidade e diz esperar a continuidade desse movimento ao longo do ano atual.

    “Decepção”

    A Netflix também avançou, registrando lucro líquido de US$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre de 2021, uma alta de 140% na comparação com o resultado de igual período do ano passado. A receita da companhia, por sua vez, subiu 24,2% nos três primeiros meses deste ano, a US$ 7,1 bilhões, ante o primeiro trimestre de 2020.

    Mesmo assim, o analista chefe de mercado da CMC Markets, Michael Hewson, escreveu no Twitter que o número de novos usuários da plataforma de streaming decepcionou. Globalmente, a empresa ganhou 3,98 milhões de novos assinantes líquidos entre janeiro e março deste ano, mas a previsão, de acordo com Hewson, era de 6,3 milhões de novos clientes.

    Posto isso, é até difícil considerar o resultado da gigante de streaming ruim. O movimento mostra, na verdade, que os seus pares oferecem serviços que dialogam mais com a realidade que os consumidores devem encontrar em 2021.

    E agora?

    Essa leitura nos faz pensar, naturalmente, em expectativas futuras para o setor. Ainda há espaço para crescimento? Das três atividades destacadas acima, os serviços de nuvem devem manter uma escalada contínua, enquanto os negócios de hardware e publicidade podem se estabilizar conforme mais países reabram suas economias.

    Mas, mais do que isso, fatores macroeconômicos podem afetar a performance dos papéis de tecnologia, explica Zanin. Conforme a economia americana volta a crescer, existe uma expectativa para que a inflação e, consequentemente, a taxa de juros também apareçam, o que não beneficia o segmento.

    “Como o setor não tem ativos tangíveis, as empresas dependem geralmente de crescimento constante, à base de endividamento. Se os juros sobem, tende a aumentar o custo do endividamento. Além disso, por mais que um cenário inflacionário costume subir preços, as empresas do setor não possuem grande patrimônio que se valorize nessas condições. Pelo contrário, a internet costuma ser deflacionária”, explica.

    Resta saber, então, se essa correção realmente ocorrerá na prática ou se as big techs conseguirão surpreender o mercado mais uma vez.

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