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    Descaso com clima pode custar mais que pandemia, alertam ex-ministros

    Carta assinada também por ex-presidentes do BC põe mais pressão sobre governo Bolsonaro

    Anna Russi,

    do CNN Brasil Business, em Brasília

    O descuido com eventos climáticos poderá ter um custo para a economia brasileira “bem maior” do que o da pandemia da Covid-19. O alerta foi feito por ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, em carta assinada e divulgada nesta terça-feira (14).

    “A reprecificação dos ativos mais expostos à mudança climática e outros custos de transição, como o financiamento da transformação de setores da economia, terão crescente impacto na poupança privada e no funcionamento dos mercados de capital”, afirmam as autoridades. 

    A análise está na chamada Carta Convergência pelo Brasil, assinada por um grupo de 17 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do BC. A iniciativa é apoiada pelos institutos Clima e Sociedade e O mundo que queremos.

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    O documento cobra um comprometimento do atual governo com ações de proteção ambiental com o objetivo de uma mudança de posição na retomada econômica pós-pandemia, focando na recuperação sustentável e “verde”. 

    Entre as principais sugestões da carta estão a economia de baixo carbono, o desmatamento zero na Amazônia e no Cerrado, o aumento da resiliência climática e o impulso a pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias. 

    “Nós, ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, subscrevemos este documento e defendemos que critérios de redução das emissões e do estoque de gases de efeito estufa na atmosfera, e de resiliência aos impactos da mudança do clima, sejam integrados à gestão da política econômica”, sugerem. 

    Vantagens brasileiras 

    No documento, o grupo de ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do BC argumenta que o Brasil tem vantagens como dispor de uma economia de baixo carbono, por conta da composição de sua matriz energética, da abundante radiação solar, da agricultura pujante produtora de vultosas quantidades de biomassa, de seus recursos hídricos e das florestas extensas e biodiversas.

    “Em função de tais vantagens comparativas, é do interesse do país estar entre os líderes da transição para uma economia mundial carbono-neutra.”

    O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy destacou que, se não fosse o desmatamento, a pegada de carbono do país seria considerada baixa. “Precisamos agora de clareza nessa direção da sustentabilidade para podermos competir com o mundo, com indústrias e serviços com pegada de carbono muito pequena”, ressaltou. 

    Os antigos membros de equipes econômicas destacam ainda que o desmatamento tem causado reflexos negativos no país. “O prejuízo do desmatamento tem levado diversos parceiros comerciais importantes e investidores estrangeiros no Brasil a expressarem veementemente seu descontentamento e preocupação, que certamente se traduzirão em menores fluxos de comércio e investimentos no país”. 

    O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero alertou que caso o Brasil não siga o caminho da economia “verde”, ele será, novamente, retardatário. “Se o Brasil não se preparar para isso, vamos repetir a nossa história, porque sempre chegamos atrasados para os grandes ciclos das revoluções industriais. A competitividade nunca vai ser alcançada e nunca vamos ter abertura comercial se adiarmos continuamente a incorporação das tecnologias de vanguarda que são essas de baixo carbono”, analisou. 

    Janela de oportunidade

    Na visão deles, a crise derivada da pandemia da Covid-19 traz uma oportunidade no momento de recuperação. “Superar a crise exige convergirmos em torno de uma agenda que nos possibilite retomar as atividades econômicas, endereçar os problemas sociais e, simultaneamente, construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil”, defendem. 

    Nesse sentido, o ex-ministro Marcílio Marques destacou que caso o Brasil não aproveite a oportunidade do crescimento sustentável, a própria agricultura do país sofrerá os impactos.

    “É das florestas da Amazônia, por exemplo, que vêm as chuvas que irrigam nossa agricultura. A melhor maneira de olhar para o pós-pandemia é aproveitar para transformá-la em uma oportunidade. Para isso, será imprescindível uma nova visão e abrangência do que nós e as políticas públicas entendem por meio ambiente, por preservação da nossa biodiversidade e da Amazônia”, completou. 

    Em conferência virtual da OCDE na última segunda-feira (13), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a retomada da atividade econômica pós-pandemia será dentro de um contexto de “crescimento verde”. 

    Para o ex-presidente do BC Ilan Goldfajn, o crescimento sustentável a curto e médio prazo não é possível sem mudanças nas questões ambientais. 

    Os ex-ministros da Fazenda que assinaram a carta foram: Eduardo Guardia, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Krause, Henrique Meirelles, Joaquim Levy, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega, Marcílio Marques Moreira, Nelson Barbosa, Pedro Malan, Rubens Ricupero e Zélia Cardoso de Mello. 

    Já os ex-presidentes do Banco Central que participam da inciativa são: Alexandre Tombini, Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Ilan Goldfajn e Pérsio Arida.