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    Depois do salto no 3º tri, PIB deve perder força e voltar ao ‘velho normal’

    Projeções de analistas para 2021 falam em crescimento da ordem de 3,5%, o que ainda será pouco para recuperar o tombo causado pela pandemia neste ano

    Comércio de rua em Brasília: Crescimento esperado para 2021 não deve zerar perdas de 2020
    Comércio de rua em Brasília: Crescimento esperado para 2021 não deve zerar perdas de 2020 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil - 05/08/2020

    Juliana Elias, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A alta de 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre é um número vultuoso e histórico, principalmente, por se tratar de um período que não tem nada de normal.

    Ele mostra uma recuperação forte depois dos piores meses da história – no segundo trimestre, no auge da pandemia e das políticas de isolamento no Brasil e no mundo, o PIB do país caiu inéditos 9,6% na comparação com os três meses anteriores (o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revisou para baixo, antes era de 9,7%). É bom lembrar que no primeiro trimestre a atividade econômica já havia recuado 1,5%. 

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    Logo, a alta registrada no terceiro trimestre, divulgada nesta quinta-feira (3) pelo IBGE, não foi o suficiente para recuperar todas as perdas do ano. No acumulado até setembro, o resultado é ainda de retração de 5%. Aliás, a expectativa é que o PIB encerre 2020 no campo negativo, com queda entre 4% e 5%, de acordo com economistas ouvidos pelo CNN Brasil Business.

     

    O motivo é que o PIB não tem força matemática para repetir uma alta dessa magnitude nos próximos meses. Isso significa que a atividade econômica deve apresentar taxas de crescimento bem menores — e bem mais próximas do normal — nas demais divulgações do IBGE.

    Também significa que o motor do crescimento voltará a estar mais ligado às forças da própria economia, como emprego e produtividade, do que a fatores extraordinários, como pandemia e auxílios. 

    Para um país que vinha crescendo a um ritmo pífio de 1% ao ano, com produção industrial em declínio e com dificuldade de aumentar as taxas de emprego, a volta da normalidade pode não ser necessariamente uma boa notícia. 

    “Acabados os efeitos da pandemia, que ritmo teremos para o futuro?”, questiona o economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa. “Estamos falando de um crescimento fraco. O quão fraco vai depender se o Brasil vai conseguir avançar nas reformas, que devem ajudar também na manutenção dos juros baixos.”

    Crescimento alto, mas nem tanto

    Economistas do mercado financeiro, de consultorias e da academia com quem o CNN Business conversou estimam um crescimento entre 2% e 3% para o quarto e último trimestre deste ano. Já para o primeiro trimestre de 2021, a variação deve ficar próxima de zero ou até ser ligeiramente negativa.

    O motivo é que a economia não contará com o impulso do auxílio emergencial — ao menos, até segunda ordem. Para o Itaú, os primeiros meses do ano devem registrar queda de 0,2% na atividade econômica, enquanto o banco UBS prevê queda de 0,7%. 

    Para 2021, as projeções para o PIB são de crescimento na faixa de 3% a 4%. Se as estimativas se confirmarem, será o melhor desempenho do país em quase uma década (desde 2011, quando o país cresceu 4%). Ainda assim, será insuficiente para zerar a perda de 2020.

    Só em algum momento de 2022, o Brasil – e boa parte do mundo – deve conseguir recuperar o nível de produção e de renda perdido na pandemia. 

    Esse cenário posterga também uma tarefa que ficou pelo caminho: recuperar os níveis de atividade de 2014, que o país perdeu com a recessão de 2015 e até o começo de 2020 ainda não havia recomposto.

    “É necessário ter um pouco de cuidado ao achar que 3,5% [de crescimento para 2021] é alto. Na verdade, há risco de que acabe sendo até menor”, disse Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro da Fundação Getulio Vargas (FGV). Entre os riscos, estão incertezas sobre a evolução e controle da pandemia, além da complicada situação da dívida pública.

    “Dado o momento, deveríamos crescer pelo menos 5% em 2021. A China deve crescer 2% neste ano e 8% no ano que vem. Isso é crescimento para tentar voltar ao que era antes”, acrescenta Matos.

    De acordo com estudo feito pela agência de avaliação de risco S&P, o Brasil deve ter o melhor desempenho da América Latina neste ano, com queda de 4,7%, enquanto os demais países devem registrar uma retração média de 7,7%. 

    Já em 2021, o tabuleiro se inverte, e o Brasil volta para a lanterna, com crescimento de 2,6% ante um avanço médio de 3,1% na região. O levantamento considera o desempenho da Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Brasil. 

    Indústria e varejo na frente; serviços devagar

    As vendas do varejo e da indústria já superaram o volume do período pré-pandemia. São os serviços, que incluem atividades ligadas à circulação, como escolas, viagens e restaurantes, que têm puxado um dos pés do PIB para baixo.

    “Daí a importância de que não haja um aumento preocupante dos casos [de coronavírus] e das medidas de restrição. Dessa vez o governo não vai ter o mesmo espaço fiscal”, disse Fabio Ramos, economista do UBS. Para o banco, o PIB do Brasil deve cair 4,2% neste ano e subir 3,5% no próximo.

    “Ainda há muitas incertezas em jogo e vai ser difícil fazer essa análise do que é conjuntural e o que é estrutural”, disse o analista da Tendências Consultoria Thiago Xavier, sobre as forças que podem impedir um crescimento maior ao longo de 2021.

    Uma parte está ligada a tudo o que ainda não tem como saber sobre a evolução da pandemia e das vacinas. A outra remonta aos velhos problemas do Brasil, como a baixa produtividade e a bagunça nas contas do governo, menciona Xavier.

    Para a Tendências, que está na ponta menos otimista das projeções, a queda do PIB em 2020 deve ser de 4,5% neste ano, seguida de uma alta de 3% em 2021. “De fato, se o Brasil não fizer uma série de mudanças, nosso padrão de crescimento pode continuar baixo”, diz Xavier.

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