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    Defasagem do frete atinge 13,9%; mão de obra e diesel devem pressionar custos

    Segundo levantamento da NTC&Logística, as empresas do setor promoveram reajuste médio negativo de 1% no valor do frete ao longo no ano passado

    Gabriel Araujo, da Reuters

     

    A defasagem do valor frete no setor de transportes rodoviários de cargas do Brasil terminou 2020 em 13,9%, mesmo patamar que era verificado no início do ciclo, em meio à pressão advinda principalmente dos custos com veículos e descontos dados durante a pandemia, disse nesta quinta-feira (18) a associação NTC&Logística.

    As despesas só não foram maiores porque o diesel, que representa 50% dos custos de um caminhão bitrem, apresentou ligeira queda na comparação anual.

    Segundo levantamento da associação, as empresas do setor promoveram reajuste médio negativo de 1% no valor do frete ao longo no ano passado, durante o qual a economia brasileira foi fortemente afetada pela pandemia de coronavírus.

    Embora a maior parte das companhias pesquisadas (41,4%) tenha mantido estável o valor do frete em 2020, 30,8% delas concederam um desconto médio de 7,9%, justificando o resultado. Uma minoria (27,8%) reajustou o frete para cima, com alta média de 5,3%, de acordo com a NTC&Logística.

    Ainda assim, o dado representa uma alteração de panorama frente ao primeiro semestre de 2020, quando mais da metade das empresas diziam conceder descontos face ao impacto da pandemia, o que resultava em um reajuste negativo de 4,7% à época.

    Os custos do transporte rodoviário, segundo a associação, aumentaram no ano passado, diante da inflação elevada, apesar de uma pressão menor dos combustíveis e mão de obra, que compõem juntos quase metade das planilhas de custos operacionais.

    O Índice Nacional do Custo de Transporte de Carga (INCT) para as cargas fracionadas, que contêm pequenos volumes, apurou alta de 9,43% no ano, enquanto o INCT para cargas lotação — que ocupam toda a capacidade do veículo– subiu 7,15%.

    Os custos com o veículo — que envolvem depreciação, remuneração, IPVA, seguro do casco e manutenção — subiram 9,5%, enquanto o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), que influencia os aluguéis pelo setor, avançou 21,1% no ano.

    Em relação aos custos com mão de obra, a NTC&Logística apurou uma estabilidade em 2020, apoiada por uma flexibilização do dissídio salarial, enquanto os gastos com combustíveis acumularam baixa de 2,8%.

    Apesar disso, o valor do diesel mantém viés de alta desde maio, quando atingiu as mínimas do ano, e já se aproxima de patamares pré-pandemia. Conforme os números da associação, o litro do diesel atinge atualmente R$ 3,778 por litro, apenas 1,15% abaixo do patamar de dezembro de 2019 e bem distante da mínima de R$ 3,106 /litro verificada em maio do ano passado.

    Com isso, as expectativas da NTC&Logística são de que diesel e mão de obra pressionem mais os custos do setor em 2021, segundo o assessor técnico da entidade, Lauro Valdivia, responsável pela pesquisa.

    “A expectativa é que o diesel continue subindo. E outro problema que vai pressionar o custo neste ano é o dissídio salarial — que a gente praticamente não teve no ano passado, um sindicato ou outro só que teve reajuste, e aí a gente tem um acumulado de dois anos”, disse ele à Reuters.

    O presidente da NTC&Logística, Francisco Pelucio, afirmou esperar que o governo reveja os preços dos combustíveis, destacando que seria importante o setor trabalhar com cenário mais previsível.

    “Muitas vezes (isso) não reflete a realidade dos altos investimentos que são feitos para continuar abastecendo o Brasil, como tem sido feito ao longo de todos esses anos de atuação”, disse Pelucio.

    O governo encaminhou ao Congresso na semana passada uma proposta que altera a cobrança do ICMS sobre combustíveis, defendendo que ela daria mais previsibilidade aos custos com o diesel.

    Sem clima para paralisação

    Mesmo com a elevação no preço do diesel, que esteve entre as principais pautas de uma greve de caminhoneiros convocada para o início deste mês, Lauro Valdivia não vê clima para paralisação da categoria no Brasil, afirmando que o valor do frete tem acompanhado a alta do combustível.

    “A gente tem clima para paralisação quando o frete não sobe e o diesel sobe… Apesar de o diesel estar numa escalada de subida, o frete vinha acompanhando, porque também vinha subindo, então não tem clima”, disse o técnico.

    “O problema é quando sobem os teus custos e você não aumenta teu preço. Mas no caso agora, não, o frete tem melhorado ao longo do tempo, pelo menos o pago ao autônomo”, acrescentou.

    Para o futuro, 49% das empresas consultadas na pesquisa da NTC&Logística acreditam que o valor do frete seguirá estável, patamar semelhante ao visto no levantamento do primeiro semestre de 2020.

    Além disso, 31% das companhias veem uma melhora no valor, ante 20% na pesquisa anterior, enquanto 20% delas estimam piora, versus 32% em agosto.

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