Davos termina com temor do futuro: guerra, inflação, recessão e até fome no radar
Há temor generalizado de que a guerra na Ucrânia e o embargo à Rússia poderão levar o mundo a uma nova —e longa— crise econômica e social
A primeira edição do Fórum Econômico Mundial organizada fora do inverno termina em uma linda quinta-feira (26) de sol da primavera em Davos, na Suíça. A meteorologia para o futuro, porém, é diferente. A elite global desce os Alpes Suíços com medo do futuro e o pior: com pouquíssimas respostas.
Há temor generalizado de que a guerra na Ucrânia e o embargo à Rússia poderão levar o mundo a uma nova —e longa— crise econômica e social.
Em Davos, a elite global falou abertamente do aumento da inflação em todo o planeta, risco de recessão nas maiores economias e chance de falta de alimentos para os mais pobres.
Essa bola de neve de problemas surge como consequência da pandemia e da guerra na Ucrânia.
As preocupações, porém, não se limitam ao embargo aos russos e a perspectiva de diminuição do fornecimento de gás e petróleo aos europeus.
Esse problema existe, e pode levar a União Europeia a, no limite, racionar gás no inverno. Isso significa botar o pé no freio da indústria, e até passar frio.
Mas a lista de problemas no radar de Davos segue —é longa.
A disparada do preço das commodities tem levado a uma onda inflacionária em todo o mundo. Como reação, os bancos centrais de todo o planeta —inclusive no Brasil— estão ou se prepararam para um longo ciclo de aperto monetário. Ou seja, alta dos juros. Assim, as economias devem desacelerar ainda mais.
Somadas, a crise energética e alta do juro podem levar economias à recessão. Estados Unidos e a Europa são os primeiros candidatos a essa hipótese. Ao mesmo tempo, os sinais da China não são nada positivos, com desaceleração cada vez mais visível da atividade diante da política de tolerância zero com a Covid-19 por lá.
Ou seja, o mundo já cresce menos —e o freio seguirá sendo sentido.
Não bastassem os problemas econômicos, há um risco humanitário no radar: o Fórum falou abertamente do risco de segurança alimentar. Traduzindo: fome.
Com a guerra, a oferta de alimentos, como o trigo, caiu para vários países pobres e acendeu a luz de alerta. Outro problema: a oferta de fertilizantes está em risco, o que pode comprometer a produção agrícola.
Um exemplo dado pelo próprio Fórum: se a Rússia interrompe o fornecimento de fertilizantes, cai a produção de soja no Brasil, os porcos na China comem menos ração que contém soja e haverá menor oferta de proteína animal.
Assim, cairá a oferta e os preços subirão ainda mais – o que prejudica especialmente os mais pobres.
Em busca de respostas, Davos chegou a poucos consensos. Diante de pensamentos insondáveis de Vladimir Putin, não há resposta sobre como acabar com a guerra na Ucrânia.
Também houve pouco avanço sobre como evitar a queda da produção agrícola e o aumento da fome no mundo.
Uma das poucas unanimidades é que, diante da inflação alta, a alta do juro deverá ser muito bem calibrada, especialmente pelo Federal Reserve nos EUA e pelo Banco Central Europeu.
Será preciso dosar o remédio para não matar o paciente. Outro caminho consensual é acelerar a transição para a energia verde.
O problema é que esse caminho é longo e os resultados só virão vários anos à frente. Até lá, como franceses vão aquecer suas casas? Como funcionarão as indústrias alemãs?
Hoje, quinta-feira, 26 de maio de 2022, o sol brilha e faz quase 20°C na Suíça, mas ninguém, definitivamente, sabe como estará o mundo no próximo inverno.