Crise de chips deve se estender até 2023, diz líder da Intel no Brasil
Gisselle Ruiz disse ao CNN Brasil Business que fabricação de semicondutores no Brasil não faz parte dos planos da Intel
As empresas de tecnologia que produzem semicondutores estão fazendo malabarismos para conseguir aumentar a produção de chips e atender ao aumento da demanda. O desequilíbrio entre a oferta e a procura do componente tem causado uma crise em todos os setores que usam chips em seus produtos, como veículos e equipamentos eletrônicos. Mesmo com os esforços das produtoras, o problema deve continuar preocupando por algum tempo.
Em entrevista ao CNN Brasil Business, a diretora geral da Intel Brasil, Gisselle Ruiz disse esperar que a cadeia de suprimentos “se estabilize em alguns anos”, mas que a demanda tende a continuar aumentando. Para ela, oferta e demanda só devem ficar próximas do ponto de equilíbrio em 2023.
“Tudo que é digital funciona com semicondutores, então a demanda vai continuar muito forte. Com a crise da Covid-19, a cadeia de suprimentos foi interrompida enquanto a demanda aumentou”, analisa Ruiz.
A escassez de chips tem consequências devastadoras principalmente para a indústria automotiva, já que cada carro precisa de milhares de semicondutores para ter toda a parte eletrônica funcionando. No setor de eletrônicos, a consultoria KPMG estima que o preço dos celulares pode subir 15% por causa desse problema.
Até 2023, todo o mundo ainda deve sofrer as consequências do desequilíbrio nesse mercado. “No segundo semestre continuam os desafios”, segundo a líder da Intel no Brasil. Ou seja, episódios de paralisação de montadoras ainda devem ocorrer até o fim do ano.
Caminho para a normalidade
Enquanto a demanda continua superando a oferta, as fabricantes de chips correm para aumentar a capacidade de produção. A própria Intel anunciou investimentos robustos na construção de novas fábricas.
Parte da estratégia batizada de IDM 2.0 prevê o investimento inicial de US$ 20 bilhões para a construção de duas plantas no estado do Arizona, nos Estados Unidos. A empresa também criou uma unidade de negócio para ganhar eficiência no processo de fabricação. Mesmo assim, os resultados não devem aparecer imediatamente.
Um dos problemas da indústria é a concentração da capacidade de produção na Ásia, mais especificamente em Taiwan. Lá, somente a TSMC é responsável por 84% da produção dos chips mais modernos do mundo.
Essa concentração mostra como a cadeia produtiva é frágil. No ano passado, Taiwan registrou a maior seca em 46 anos, o que fez as fábricas reduzirem a produção de chips, que utiliza muita água.
Segundo Gisselle Ruiz, um dos objetivos da Intel com o investimento na produção nos EUA e na Europa é justamente descentralizar a cadeia de abastecimento, o que é uma forma de fortalecer a indústria.
Fabricação no Brasil?
Muita gente pode se perguntar se fabricar os chips no Brasil poderia ajudar nossa economia. Provavelmente. Mas uma planta aqui não está nos planos da Intel.
“Avaliamos condições de mercado, custo, talento e incentivos. São investimentos muito grandes e de longo prazo”, justifica Gisselle.
Ainda que o mercado brasileiro esteja no top 10 da Intel, um investimento bilionário na produção de chips parece arriscado demais em um país cuja instabilidade é persistente.
Por enquanto, a produção de semicondutores no Brasil é uma incógnita. Com a única fabricante do Hemisfério Sul, a Ceitec, sendo liquidada pelo governo brasileiro, a inglesa EnSilica desembarcou em Porto Alegre (RS) para “aproveitar” os funcionários que estão sendo dispensados da estatal brasileira.
5G
O Brasil está atrasado na implantação da tecnologia 5G, é verdade. Mas as empresas de tecnologia estão contando os dias para que a novidade chegue por aqui. Uma delas é a Intel, que já atua em vários mercados europeus e nos Estados Unidos fornecendo tecnologia compatível com a nova rede.
Embora Gisselle admita que gostaria que o leilão de frequências do 5G – passo mais importante para a implementação da tecnologia aqui – já tivesse sido feito, a executiva disse que sua empresa vem ajudando o governo nos preparos para o leilão e se mostra otimista com o evento acontecendo neste segundo semestre.
Sobre a colaboração com o governo, Ruiz afirma que a Intel “faz recomendações do ponto de vista tecnológico, mostra insights de implementação e impacto na economia e traz boas práticas de outros países” para servir de exemplo para a operação brasileira.