Crise da Covid-19 pode fazer metade das escolas particulares fechar para sempre
Inadimplência em abril ultrapassou 20%. Representantes da categoria falam das dificuldades de manter os estabelecimentos de ensino
As escolas particulares sentiram os efeitos da crise financeira causada pelo novo coronavírus. O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp) acredita que cerca de 50% das escolas podem fechar as portas caso não recebam ajuda. Só em abril, o índice de inadimplência passou de 20%.
Com as crianças em casa, muitos pais começaram a fazer as contas. “Nossa maior preocupação foi com a parte financeira. Eu e meu marido somos autônomos e a primeira coisa que pensamos foi em ligar para a escola pedindo um desconto”, conta a mãe Márcia Yamane Umemo.
Com a dificuldade dos pequenos em se concentrar no ensino remoto, o aprendizado foi afetado. “A educação infantil é muita interação, muito lúdica. A concentração da criança é curta, ela tem que estar muito envolvida. Muitos pais estão trabalhando home office e não conseguem sentar para fazer”. diz Fabiana Fornicola Del Buono, diretora de uma escola particular, contando o que fez para encarar o período sem perder alunos. “Dei um desconto de 50%, contei com a colaboração deles para manter os custos operacionais”.
Segundo o presidente do Sieeesp, Benjamin Ribeiro da Silva, “80% das escolas particulares são pequenas, cobram mensalidades de R$ 300 a R$ 1 mil e não estavam preparadas para atender a essa pandemia. De um momento para outro tiveram que adquirir equipamentos, investir em tecnologias, parcerias, para atender a esse novo momento”.
No país, são mais de 20 mil escolas particulares e cerca de 300 mil funcionários, para atender 2,5 milhões de crianças até 5 anos. A inadimplência em São Paulo chegou a 21% em abril – no ano passado, foi de 6%.
“Uma crise muito grande. Se não houver uma ajuda estatal, de 30% a 50% dessas escolas vão quebrar. Tenho certeza que nem Estado nem prefeituras terão como atender esse número de mais de um milhão de alunos de uma hora para a outra”, continua o representante do Sieeesp
“Essas escolas estão sofrendo bastante com cancelamento de contratos, não pagamento, a redução de preço. Algumas já fecharam, e outras devem quebrar se não for feito nada”, alerta o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Ademar Batista Pereira.
O Procon de São Paulo recebeu mais de 5 mil reclamações de pais que não conseguiam negociar as mensalidades. Inicialmente, a instituição queria que as escolas oferecessem descontos a todos os pais. Mas o acordo firmado agora prevê que os casos sejam analisados individualmente.