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    Corretagem zero: para onde vai o mercado das corretoras de investimento

    Somente no últimos 30 dias, a Toro Investimentos isentou suas taxas, a Rico idem, e XP reduziu em 75% suas cobranças por atendimentos digitais

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    A decisão do Copom de manter a taxa básica de juros em 2%, sua mínima histórica, reforça a já amplamente discutida necessidade de diversificação de carteira por parte dos investidores. Isso porque as margens de lucro astronômicas, anteriormente conseguidas em ativos de Renda Fixa, não existem mais.

    Paralelamente a isso, cresce também o mercado das corretoras de investimentos, com as plataformas se degladiando para oferecer condições mais vantajosas e um maior portfólio de serviços aos seus clientes. Um bom exemplo do movimento foi a compra da Easynvest pelo Nubank, anunciada há poucos dias.

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    Isso também se materializa nas taxas cobradas aos investidores. Em meados de agosto, a mineira Toro Investimentos zerou suas taxas de corretagem e passou a oferecer cashback em taxas de administração de fundos. Menos de um mês depois, a Rico tratou de fazer o mesmo e a XP reduziu em 75% sua cobrança por atendimentos digitais. Algo que Clear e Banco Inter já haviam feito em 2018 e 2019, respectivamente.

    “É uma briga boa”, diz Fábio Gallo, professor de Finanças da FGV. “Estamos vendo este fenômeno ocorrer nos serviços financeiros como um todo. Basta olhar para as fintechs, para o mercado de maquininhas. Os investidores só precisam ficar atentos no que as corretoras estão levando em troca, que neste caso pode ser a venda de outros serviços.”

    Pioneira no movimento, a Clear acredita que a competição é natural, dado o crescimento do mercado nos últimos anos. “Este modelo de concorrência é positivo para que o mercado avance”, diz Roberto Indech, estrategista-chefe da corretora. “Tanto no setor de tecnologia, como na linguagem, investimentos são importantes para democratizar o acesso dos investidores.”

    Criada como plataforma educativa há uma década, a Toro se tornou corretora há 2 anos e surfa nos conteúdos de educação financeira para criar engajamento. No primeiro semestre de 2020, a empresa cresceu 400% e deixou de dar prejuízo, algo considerado relativamente comum para startups em crescimento. Gabriel Kallas, cofundador e CEO da marca, explica que isso permitiu que o sistema de corretagem zero fosse aplicado.

    “Esse momento (break even) é importante para qualquer fintech. O objetivo é colocar o cliente em primeiro lugar”, diz. Pensando nisso, a corretora estabeleceu o sistema ganha-ganha, em que o cliente só paga taxa de corretagem de 10% se, ao aceitar recomendações da empresa, obtiver lucro. “Isso mostra para o investidor que estamos alinhados aos resultados, com comissão atrelada à performance.”

    Acreditando exatamente neste lastro de resultados, a Guide não zerou suas taxas relativas à renda variável, deixando em 0,1%, mas limitou a cobrança máxima a R$ 7,50 por ordem. A corretora vem se destacando nos rankings de ganhos mensais com suas carteiras recomendadas. Para Felipe Steinfeld, diretor de B2C da empresa, o modelo precisa de escala para ser sustentável.

    “Todas as corretoras estão buscando isso, tentando se preparar para esse cenário em que os investidores migram para outros tipos de investimento”, afirma. “Nós não limitamos o acesso dos clientes com pequenos aportes aos assessores de investimento e criamos um guia financeiro com acesso para todos. A ideia é dar suporte para os investidores através de bons conteúdos.”

    Com este foco educativo e faturamento voltado para resultados, as empresas esperam manter um crescimento mais sustentável. Nunca é demais lembrar que, em 2007, um movimento semelhante ocorreu enquanto o mercado vivia forte período de valorização. Quando a bolha estourou no ano seguinte, seguiu-se um período de quebradeira das corretoras. 

    Receitas x Produto

    A XP Inc., holding proprietária de XP, Clear e Rico, reportou que a redução de taxas pode impactar em 2% as receitas da empresa, mas não parece muito preocupada com isso. Gabriel Leal, sócio e diretor Comercial da companhia, afirmou em nota que, apesar do impacto inicial, este movimento é uma tendência global já observada em todos os países onde a cultura de se investir em ações é mais consolidada.

    O caso da corretora americana Robinhood, no entanto, deixa lições. A startup californiana, que já recebeu quase US$ 2 bilhões em aportes e pode abrir capital em breve, ganhou mercado com jovens durante a crise por não cobrar taxas dos seus clientes e prometer desburocratizar investimentos. 

    Pelo menos 3 milhões de investidores entraram na plataforma em 2020. Apesar disso, segundo apurou a Bloomberg, a companhia recebeu mais de 400 reclamações junto à SEC, Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, número quatro vezes superior às suas concorrentes “mais tradicionais”.

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    Durante a crise, somaram-se queixas sobre a ineficiência do atendimento ao cliente da marca e instabilidades severas nos servidores, que chegaram a ficar um dia inteiro fora do ar no auge da crise em março. Mais do que isso, um jovem de 20 anos se matou após tentar negociar opções e ver sua conta com US$ 700 mil negativos. 

    Nessa linha, números da BSM, braço de supervisão de mercados da B3, mostram justamente que estes problemas técnicos quase dobraram comparando números do primeiro semestre de 2019 com os de 2020. “Um problema que setor precisa enfrentar agora é tecnológico. Não só de sistemas, mas também de agilidade, escala. A experiência digital do usuário precisa melhorar, a comunicação também”, defende Laio Santos, CEO da Rico.

    *Com informações do Estadão Conteúdo

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